Apesar de toda a repercussão em torno dos NFTs nos últimos meses, principalmente após celebridades comprarem imagens da coleção Bored Ape Yacht Club por milhões de dólares, o mercado de tokens não fungíveis ainda é imaturo e altamente especulativo, podendo ser um verdadeiro tiro no pé para quem investe nesse segmento.
Essa é a avaliação do neurocientista e professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo, Álvaro Machado Dias, que também é cientista-chefe da Rhizom, o primeiro protocolo de blockchain construído do zero na América Latina.
Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, Dias afirmou que esse tipo de investimento não é interessante no atual cenário da economia. “Só compre se for por gosto”.
Redes sociais projetam investir em NFTs
Além de muitas empresas que já anunciaram projetos de coleções em NFTs, Twitter, Facebook, Youtube e Instagram estão apostando pesado na criação de tokens não fungíveis como novas formas de receitas e suporte aos criadores de conteúdos. A ideia é permitir que os usuários utilizem as imagens em seus perfis e carreguem em suas linhas do tempo.
A Meta, de Mark Zuckerberg, pretende criar um marketplace de NFTs, abrindo espaço para que os consumidores negociem ativos digitais. O Twitter Blue, plataforma paga da rede social, já permite que os usuários conectem a carteira virtual de Ethereum com o perfil. Já o Youtube tem como objetivo utilizar os NFTs para investir em jogos, compras e no apoio aos criadores de conteúdos.
De acordo com o especialista entrevistado pelo Olhar Digital, essa abertura de integrar os NFTs nas redes sociais pode ser benéfica, principalmente no sentido de popularizar os certificados de propriedade digital em blockchain.
“Isso deve levar a um aumento enorme na popularidade destes certificados de propriedade digital (que hoje seguem sendo ativos de nicho), o que por sua vez tende a fortalecer sua comercialização fora das redes sociais.”
No entanto, o neurocientista afirma que essa integração é ainda muito incipiente e que precisará de anúncios oficiais por parte das empresas que atuam nas mídias sociais.
Teoricamente, a compra de NFTs seria uma maneira de diferenciar a imagem dos perfis. “Esta aquisição irá levar à transferência de um certificado de propriedade digital baseado em blockchain (NFT), para o comprador, que deverá manter isso em uma espécie de carteira digital, como os apps dos bancos que conhecemos”, explica.
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NFTs devem se popularizar nas redes sociais
Entre as vantagens de integrar os NFTs nas redes sociais está a possível popularização no valor das imagens, tendo em vista que se trata de um mercado altamente segmentado.
“NFTs em redes sociais são parte de um movimento mais amplo de adoção de princípios de blockchain pelas Big Techs, na linha da chamada Web 3.0. A principal coisa que muda é a velocidade das dinâmicas de popularização desta nova mentalidade tecnológica”, disse Álvaro.
De acordo com o especialista, é bem provável que os arquivos digitais de menor valor agregado passem a ser comercializados por US$ 30 ou até menos.
“Mas em outra ponta, obras de arte digitais (e filmes) de alto valor agregado se manterão com valores de dezenas de milhões de dólares. Isso será positivo para este mercado e também para os produtores de conteúdo, pois os custos para gerar e comercializar NFTs deverão cair.”
Artistas sofrem prejuízos com NFTs
Na análise do professor da Unifesp, os maiores ganhos com as transações dos NFTs ficam com os fundos ou “baleias”, que têm forte influência no mercado, como acontece com as criptomoedas.
Já no caso dos artistas que liberam obras de arte para serem certificadas em NFTs, o retorno financeiro não é nada promissor.
“Ao contrário do que assume o senso comum, hoje em dia, a grande maioria dos artistas que se aventura a vender seus trabalhos com NFTs toma prejuízo, em face dos altos custos transacionais.”
E mais: até mesmo quem se intitula conhecedor do ramo poderá amargurar sérios prejuízos. “Não creio que o conhecimento sirva de blindagem”, conclui o professor.
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