Um processo judicial acusa a Neuralink e sua parceira — a Universidade da Califórnia-Davis (UCDavis) — de maus tratos a animais usados em seus testes de implantes cerebrais. De acordo com a documentação, a empresa liderada por Elon Musk e a faculdade estão “mutilando” cérebros de macacos e “deixando-os para morrer”.
A Neuralink tem por objetivo implantar chips nos cérebros de pacientes humanos com capacidades motoras comprometidas — paraplégicos, tetraplégicos e similares — a fim de ajudá-los a conduzir apenas com o pensamento tarefas que pessoas com mobilidade não dificultada fazem normalmente. A empresa vem testando seus avanços em macacos, já demonstrando inclusive uma instância onde primatas jogavam videogame.
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Como todo projeto que envolve testes com animais, era de se esperar que a empresa enfrentasse críticas. Neste caso, foi o Comitê de Médicos pela Medicina Responsável (PCRM, na sigla em inglês) que moveu a ação, com base em um documento que obtiveram onde, em 60 páginas, alguns experimentos acabam descritos.
De acordo com o processo, 15 dos 23 animais que passaram pelos experimentos morreram após terem seus cérebros “mutilados”. “A universidade pode ter cedido suas estruturas mantidas com dinheiro público a um bilionário, mas isso não lhe dá o direito de evitar os requisitos mínimos de transparência ou de violar leis federais de proteção animal”, diz a entidade.
O documento citado pela entidade critica a parceria entre a Neuralink e a faculdade — avaliada em algo perto de US$ 1,4 milhão (R$ 7,29 milhões) —, afirmando que nenhum dos primatas teve “qualquer cuidado veterinário”, e que eles sofreram “traumas faciais”, convulsões e “infecções recorrentes” nas partes do cérebro onde os chips foram implantados. Alguns membros da imprensa, que tiveram acesso ao processo, dizem que a documentação lista um macaco “sem dedos nas mãos ou nos pés”, e afirma que isso se deu por automutilação após o animal passar por algum trauma não especificado.
O PCRM moveu uma ação federal contra ambas as partes, exigindo a liberação de imagens — fotos e vídeos — dos experimentos, o que a universidade até agora vem se recusando a fazer, justificando que o material pertence à Neuralink. Por ser uma empresa privada, ela não é sujeita à legislação que força entidades públicas a relatarem experimentos do tipo às autoridades.
Ao New York Post, a universidade disse por meio de um porta-voz que “a pesquisa em animais é fortemente regulamentada, e a Universidade da Califórnia-Davis segue a todas as leis aplicáveis e normas, incluindo aquelas que vêm do Departamento de Agricultura dos EUA”. A instituição também disse que o contrato com a Neuralink acabou em 2020 e não foi renovado.
A Neuralink não comentou o caso.
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