O programa de voos espaciais tripulados dos Estados Unidos recebia, há 60 anos, uma injeção de ânimo muito necessária. No dia 20 de fevereiro de 1962, o astronauta da NASA John Glenn foi lançado do Cabo Canaveral, na Flórida, dentro de uma minúscula cápsula chamada Friendship 7. A espaçonave Mercury circulou a Terra três vezes, caindo perto das Ilhas Turks e Caicos quatro horas e 55 minutos após a decolagem.

Foi o primeiro voo espacial orbital tripulado dos Estados Unidos, um marco que a União Soviética, rival de Guerra Fria, havia alcançado 10 meses antes, com a missão histórica de Yuri Gagarin.

A URSS foi o primeiro país a lançar um satélite em órbita (Sputnik 1, em outubro de 1957), o primeiro a enviar um animal à órbita (a cadela Laika, em novembro de 1957) e o primeiro a devolver criaturas vivas à Terra de uma missão orbital (um zoológico encabeçado pelos cães Belka e Strelka, em agosto de 1960).

Isso fez com que a União Soviética parecesse estar significativamente à frente dos Estados Unidos em uma área-chave de capacidade tecnológica. Foguetes que transportam animais ou pessoas para o espaço não são tão diferentes de mísseis equipados com ogivas nucleares. Assim, o passeio de cinco horas de Glenn fora do planeta foi enorme para a NASA e para os americanos.

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Os EUA aproveitaram esse momento e ganharam o grande prêmio da corrida espacial com a conclusão bem-sucedida da missão lunar Apollo 11 em julho de 1969.

Glenn, um dos astronautas originais do Mercury 7 da NASA, se aposentou da NASA em janeiro de 1964, mas retornou ao serviço público uma década depois, vencendo a eleição para o Senado dos EUA em Ohio em 1974. Ele foi reeleito em 1980, 1986 e 1992, servindo quatro mandatos.

John Glenn a bordo da nave espacial Friendship 7 durante sua histórica missão orbital de 20 de fevereiro de 1962. (Crédito da imagem: NASA/Chris Cohen)

“Ele foi considerado um dos maiores especialistas do Senado em questões técnicas e científicas e conquistou amplo respeito por seu trabalho para impedir a disseminação de armas de destruição em massa”, escreveram funcionários da NASA no perfil. “Ele se orgulhava de usar sua posição no Comitê de Assuntos Governamentais para erradicar o desperdício no governo e limpar as usinas de produção de materiais nucleares do país”.

O antigo astronauta acabou entrando em órbita novamente. Em outubro de 1998, aos 77 anos, ele passou nove dias a bordo do ônibus espacial Discovery, tornando-se a pessoa mais velha (até então) a viajar para a fronteira final. Esse recorde permaneceu até outubro de 2021, quando o ator William Shatner, o eterno “capitão Kirk” de Star Trek, fez um voo suborbital a bordo da espaçonave New Shepard, da Blue Origin, aos 82 anos.

New Shepard, aliás, recebeu o nome do colega de Glenn no programa Mercury, Alan Shepard, que em maio de 1961 se tornou o primeiro americano a chegar ao espaço.

Glenn morreu em 8 de dezembro de 2016, aos 95 anos. Sua vida longa, produtiva e inspiradora deixou uma grande marca nos livros de história e na consciência americana. O Glenn Research Center da NASA, em Ohio, recebeu o nome do astronauta pioneiro, por exemplo. Já a cápsula Freedom 7 está em exibição no Centro Stephen F. Udvar-Hazy do Museu Nacional do Ar e do Espaço da Smithsonian Institution, na Virgínia.

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