Aqui no Brasil, após um intenso e demorado debate, a promessa é que o 5G chegue às capitais estaduais no segundo semestre de 2022 e às demais cidades do país até 2030. É justamente esse período de oito anos que a China prometeu lançar ao mercado a sexta geração da internet móvel, ou seja, o 6G para sua população.

Por enquanto, a proposta ainda está no campo da teoria do que na prática, mas enquanto deste lado do mundo o debate foi adiado por anos a fio, lá acontece o justamente contrário: intensa pesquisa e desenvolvimento para avançar ainda mais em algo que ainda está começando. A população chinesa, que já experimenta vantagens como pagamento sem contato e transações digitais, continuará na vanguarda da experiência digital nos próximos anos.

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Não se trata de algo revelado à boca pequena ou apurado por jornalistas às escondidas. Wang Jianzhou, ex-presidente da China Mobile, a estatal do país para telefonia, confirmou que já há estudos para implementação do 6G nos próximos oito anos, com promessa de velocidade na troca de informações até 100 vezes maiores do que no 5G – o que, por sua vez, já é 100 vezes superior ao 4G.

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Não bastasse isso, um laboratório chinês de alta tecnologia em Nanjing afirmou que já atingiu uma taxa de 206,25 gigabytes por segundo (Gbps) em um teste de 6G dentro de um ambiente de laboratório. Como se vê, os estudos estão a pleno vapor e devem ganhar corpo nos próximos anos, a partir do avanço do 5G.

O investimento pesado em tecnologia passa por inúmeros fatores, desde educacionais até financeiros. Entretanto, no caso da China, duas questões ajudam a explicar essa corrida em busca da vanguarda da tecnologia 6G. A primeira diz respeito ao próprio planejamento chinês de digitalização da sua sociedade.

Hoje, quase tudo é feito por aplicativo – incluindo o pagamento de compras no supermercado. A expectativa do país asiático é elevar a importância da economia digital a 10% do PIB até 2025 – hoje está em 7,5% (o que por si só já é um número elevado), Essa medida faz parte do plano quinquenal elaborado pelo governo para o desenvolvimento da sociedade como lodo.

Além disso, há a questão externa. Nas últimas décadas, a economia emergente da China elevou o país a um dos mais importantes no cenário macroeconômico. De um país com graves problemas socioeconômicos, a China se transformou em grande potência – o que naturalmente promove conflitos com nações já consolidadas, como Estados Unidos.

Assim, o governo chinês promove a todo instante suas empresas e soluções, já visando na guerra de narrativas e a vanguarda na busca por inovação. Há um planejamento e, principalmente estímulo para a criação de diversas soluções. Por meio de políticas públicas proteção da economia nacional. Isso envolve, por exemplo, áreas consideradas estratégicas, como os semicondutores, cloud computing e análise de dados.

Uma pequena amostra dessa preocupação chinesa em relação à tecnologia está ocorrendo durante a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim entre 4 e 20 de fevereiro. O país asiático aproveitou o grande fluxo de jornalistas estrangeiros para reforçar sua imagem de país desenvolvido tecnologicamente. O trem de alta velocidade e extremamente conectado que conecta Pequim a Zhangjiakou é apenas a face mais visível.

No centro de imprensa, robôs aspiradores deixam o local limpo, enquanto que máquinas separam e embalam os pedidos – além de lixeiras igualmente robotizadas como acessórios de uma casa inteligente. Já os dados permitem o monitoramento contínuo da saúde das pessoas com os aplicativos próprios. A China quer se mostrar cada vez mais na liderança da tecnologia – e está conseguindo.

Dessa forma, chega a ser natural imaginar que será a China o país a liderar o debate em torno do 6G em todo o mundo – ainda que outros países e empresas também estejam debatendo e estudando as possibilidades da sexta geração. O fato é que essa corrida pela internet móvel reforça que o mundo da tecnologia não é imutável. Pelo contrário, a constante evolução e mudança faz parte do processo de aprendizado, compreensão e aceitação de qualquer solução tecnológica em todo o mundo. Na China, o futuro é sempre o hoje.

*Alessandra Montini é diretora do LabData, da FIA

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