Uma das camadas de gelo mais antigas da Terra começou a ser perfurada. Localizada na Antártica, a região conhecida como “Domo C” é alvo de uma iniciativa científica chamada “Beyond Epica-Oldest Ice”, que ambiciona recolher um núcleo de gelo profundo para estudar a evolução das temperaturas da Terra, bem como os ciclos de carbono ao longo dos últimos 1,5 milhão de anos e o papel disso na nossa composição atmosférica.

O “Domo C” tem esse nome devido a diversas reivindicações feitas por vários países, onde o “C” pode se referir a “Charlie”, “Circe” ou “Concordia”. Legalmente, porém, nenhuma nação é “dona” da região, conhecida por ter um dos climas mais extremos da Terra: no verão, na melhor das hipóteses, a temperatura não passa de -20º C (Celsius), enquanto o inverno pode esfriar as coisas até -80º C.

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Um núcleo extraído de camadas de gelo bem antigas da Antártida: pesquisa em curso no continente frio pode nos contar segredos da climatologia da Terra em espaço de bilhões de anos
Um núcleo extraído de camadas de gelo bem antigas da Antártida: pesquisa em curso no continente gelado pode nos contar segredos da climatologia da Terra em um espaço de bilhões de anos (Imagem: C. Barbante/Cnr-Isp/Divulgação)

Esta parte da pesquisa já deveria ter começado há alguns anos, mas sofreu atrasos devido à COVID-19. Depois de muito esperar, a equipe finalmente conseguiu delimitar uma área de perfuração, criar uma “caverna” para armazenamento temporário e completar o sistema de perfuração de gelo, chegando a uma profundidade de 130 metros.

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O objetivo é atingir uma profundidade de aproximadamente 2,7 mil metros, equivalente à espessura da camada de gelo na “Little Dome C”, uma área de cerca de 10 quilômetros quadrados (km²) a 34 km de distância da Estação Concórdia, operada em conjunto pela França e pela Itália.

“Nós estamos muito satisfeitos com o trabalho desenvolvido até agora. A nossa próxima campanha vai envolver um teste final do sistema de perfuração e, daí, rapidamente procederemos à extração mais aprofundada”, disse Carlo Barbante, diretor do Instituto de Ciências Polares do Conselho Nacional de Pesquisas da Itália (Cnr-Isp).

“Nós acreditamos que esse núcleo de gelo vai nos fornecer informações sobre o clima do passado e também sobre os gases do efeito estufa presentes nas atmosferas durante o meio do período de transição do Pleistoceno (MPT), que ocorreu entre 900 mil e 1,2 milhão de anos atrás. Nessa transição, a periodicidade climática entre as eras de gelo mudou de 41 mil para 100 mil anos: o motivo para isso é o mistério que esperamos resolver”.

A missão tem alta relevância na comunidade científica: o histórico evolucionário do nosso planeta está gravado nas camadas de gelo mais antigas, intocadas pelo Sol e, para todos os efeitos, ainda muito pouco exploradas. Desvendar as informações contidas nelas nos permitirá conhecer detalhes bem mais aprofundados sobre como a Terra evoluiu até se tornar a casa que temos hoje.

Por essa razão, esse projeto, que começou em 2019, conta com financiamento da Comissão Europeia, que alocou € 11 milhões (R$ 63,06 milhões) para o empreendimento. Vale lembrar, porém, que a iniciativa ainda conta com doações de diversos países simpáticos à causa.

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