Importante: texto editado em 28/02/2022 às 12h20, com novas informações.
Após muitas idas e vindas, o pior aconteceu mesmo: ontem (27/02) o governo Ucraniano, confirmou a “baixa” do maior avião do mundo, e, desta vez, os meios russos não contestaram a informação. A prova está numa imagem por drone do hangar em chamas.
A diferença entre os meios russos e ucranianos é que os ucranianos acusam os russos de destruir o avião, enquanto os russos acusam os ucranianos. É uma vítima colateral: ninguém parece tê-lo destruído de propósito, ambos os lados falavam com reverência da máquina, mas foi o que aconteceu.
O avião morto-vivo
Foram dias de confirmações e negações até esta versão, que parece ser a final. Começou na última quinta-feira (24), quando o Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia confirmou que as forças militares da Rússia haviam atacado e tomado o aeroporto Antonov, importante centro aeronáutico do país localizado em Gostomel, a 40 km de Kiev. Nesse aeroporto, encontrava-se o Antonov An-225 Mriya, o maior avião do mundo.
Então o medo foi, diante de cenas de disparos de helicóptero, que o avião fosse ser destruído. Mas não parece ter sido o caso então. Dmitry Antonov, piloto-chefe da Antonov Airlines e um dos principais condutores do Mriya, postou no seu Facebook que a aeronave estava intacta após o ataque russo, embora o controle dela já não estivesse nas mãos dos ucranianos.
“Tudo se encaixou. As tropas russas estavam perto de Kiev e o aeroporto de Gostomel agora está com as russas. Pelo lado positivo, o Mriya está inteiro. Nós nos mantemos firmes e glória à Ucrânia”.
A situação mudou no fim da tarde de ontem, quando os Ucranianos afirmaram ter realizado uma operação que recapturou o aeroporto. Disseram então ter matado 200 russos. Após isso, e com a invasão de Kiev em andamento, noticiaram na manhã de sexta que mais combates foram travados e que o aeroporto estava seriamente danificado.
No começo de sexta, meios russos passaram a afirmar que o aeroporto foi retomado, com mais combate. Disseram não houve baixas em seu lado e que 200 ucranianos, da equipe que havia retomado o aeroporto ontem, foram mortos. (Estranha a coincidência nesses números espelhados.)
Ainda sexta, um outro meio jornalístico russo, TopWar, trouxe informações iniciais, de que o avião havia terminado “seriamente danificado” na disputa. Os russos afirmaram ter sido por causa dos ucranianos, que bombardearam o aeroporto na sua operação de retomada e, com isso, teriam atingido o avião na pista. Um vídeo desta manhã mostra um helicóptero ucraniano disparando contra o aeroporto.
Uma atualização saiu no meio da tarde: segundo fontes militares russas ao jornal Reporter, o avião destruído não era o Mryia que estaria em condições de voo, mas um segundo exemplar incompleto, deixando no hangar da Antonov.
Os russos também fizeram questão de lembrar que o avião, exposto num ponto de disputa, não está a salvo ainda. E, no fim, estavam certos. O Mryia capaz de voar foi destruído, enfim, no domingo. A reconstrução tomaria, estimam os militares russos, US$ 3 bilhões e 5 anos de trabalho.
É óbvio que o dano crescente em vidas humanas é incomparável com uma máquina vazia num hangar. Mas é um pedaço importante da história da aviação que se une aos danos colaterais da guerra.
Parte do programa espacial
As chances de reconstrução são remotas. O Antonov An-225 foi construído para atender uma parte específica do programa espacial soviético. Foi encomendado para transportar o Buran, um veículo espacial praticamente idêntico aos Ônibus Espaciais dos EUA, mas que nunca chegou a decolar com tripulação. O avião foi feito na Ucrânia, e o veículo espacial, na Rússia, em Korolyov, perto de Moscou.
O único voo do Buran foi em 1988, partindo do Cazaquistão. Mais missões não tripuladas estavam previstas a partir de 1991, e o primeiro voo com cosmonautas seria em 1994.
A URSS caiu antes disso, no natal de 1991. Depois da queda, o programa Buran ficou sem fundos e foi cancelado pelo presidente russo Boris Yeltsin em 1993.
O An-225 acabou abandonado na Ucrânia por vários anos. Até que foi recuperado para transportar cargas de grandes proporções.
Era prevista a construção de uma segunda unidade do avião em 2006, mas ela foi abandonada três anos depois – essa é a versão dentro do hangar que os russos dizem ter sido destruída.
Maior avião do mundo no Brasil
A Antonov Airlines é uma estatal ucraniana que, além de voos de passageiros e carga convencionais, prestava serviços com o Mriya.
O Antonov An-225 já veio ao Brasil duas vezes. Em 2010, ele foi contratado pela empresa britânica Chapman Freeborn, a serviço da Petrobras, e pousou no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), decolando em seguida a Santiago (Chile). Seis anos depois, além de Guarulhos, a aeronave chegou a passar pelo Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).
O Antonov An-225 tem 84 metros de comprimento, 88 metros de envergadura e 175 toneladas sem carga, podendo transportar 250 toneladas no compartimento de cargas. O gigante conta com seis motores turbofans Ivchenko-Progress D-187 e possui velocidade máxima de 850 km/h.
O Scaled Composites Stratolaunch agora assume o posto de maior avião do mundo. Ele tem maior envergadura de asas (117 m vs 88,4 m), mas é curto (73 vs 84 m) e decolava mais leve (589.000 kg vs 640.000 de peso máximo ao decolar). Não chegou a cumprir seu propósito (lançar comercialmente foguetes) antes de a empresa fechar e ele ser vendido, em 2019.
Atualizado em 24/02/2022 às 19h50: inclusão da retomada pelas forças ucranianas.
Atualizado em 25/02/2022 às 13h20: matéria reformulada com a retomada russa e estado do avião.
Atualizado em 25/02/2022 às 17h20: adicionada afirmação de militares russos de que o avião destruído foi outro.
Atualizado em 28/02/2022 às 12h20: adicionado o destino final do An-225.
Imagem: Antonov Beltyukov/Wikimedia/CC
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