Uma conversa informal levou um pesquisador da Universidade de Canterbury (UC), na Inglaterra, a passar anos estudando como construir em Marte. No bate-papo, o professor associado de engenharia Allan Scott e o professor de geologia Chris Oze, ambos da Occidental College, nos EUA, refletiam sobre quais materiais estariam disponíveis no planeta vermelho para fazer concreto.

Para obter o concreto “terrestre”, é necessário cimento Portland, que é produzido pelo aquecimento do calcário para eliminar o CO2. O cimento é misturado com areia, pedra e água para fabricar o concreto.

Material disponível tanto em Marte quanto na terra pode ser a base de um concreto menos prejudicial ao meio-ambiente. Imagem: Live Chai – Shutterstock

E o que estaria disponível em Marte para produzir um concreto “marciano”, ou, como Scott apelidou: o “marscrete” (junção das palavras Marte e concreto, em inglês)?

Falta calcário em Marte

“Infelizmente, em Marte não há muito calcário, então estamos procurando maneiras alternativas de encontrar algum tipo de aglutinador”, diz Scott. “O ‘marscrete’ pode ser referido como uma gama de diferentes materiais que poderiam ser usados em Marte essencialmente a partir de ingredientes locais”.

publicidade

Para isso, a equipe tem pesquisado o uso de rochas basálticas que podem ser encontradas na Terra e em Marte. De acordo com Scott, óxido de magnésio e sílica podem ser extraídos da rocha basáltica, para uma combinação desses elementos com o objetivo de fazer uma pasta com propriedades semelhantes ao cimento.

Leia mais:

“Tentamos usar materiais, rochas e coisas que sabemos que estão disponíveis em Marte para que possamos aperfeiçoar esse processo de extração aqui e fazer concreto que tenha propriedades semelhantes ao cimento Portland”, explicou o autor do estudo.

E não são apenas materiais que a equipe está pesquisando. Os ambientes da Terra e de Marte são extremos em suas diferenças, com pressão e temperatura muito menores no nosso vizinho. 

Instalações simulam ambiente marciano

Segundo Scott, a equipe está usando as instalações de teste da Universidade de Canterbury para alcançar temperaturas próximas a -86°C, enquanto simulam condições atmosféricas criando um vácuo dentro do laboratório.

“Tudo o que estamos tentando fazer é simular um ambiente como Marte sem realmente estar lá”, diz ele.

Quando Scott começou sua pesquisa havia poucos estudos focados em materiais espaciais para construção, mas o interesse no campo cresceu com a realidade potencial de um produto útil se aproximando.

A aplicação desse conhecimento aqui na Terra pode ajudar a salvar o planeta. “A principal coisa que a equipe descobriu é que o uso de rocha basáltica em vez de cimento tradicional pode ajudar a reduzir a pegada de carbono do concreto na Terra”, diz ele. “O cimento é ótimo, mas contribui para cerca de 8 a 10% das emissões globais de CO2. Há um empurrão para reduzir isso e o material tem alguma promessa nesta área”.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!