Elon Musk cumpriu sua promessa e fez com que a SpaceX entregasse antenas de conexão à internet da Starlink à Ucrânia, numa tentativa de evitar que o país assolado pela guerra contra a Rússia fique sem comunicação com o resto do mundo. Mas uma coisa é a estrutura estar instalada – outra é o produto funcionar.

A Starlink, como você sabe, é a plataforma de internet banda larga via satélite da SpaceX. Por meio de milhares de satélites posicionados na órbita da Terra, a empresa de Elon Musk consegue levar conexão a lugares dificultosos, como pontos isolados demais para cabeamento de fibra óptica ou, neste caso específico, um cenário de guerra que promete cortar comunicações por completo.

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O engenheiro de softwares Oleg Kutlov, segurando uma antena da Starlink em sua casa na Ucrânia: serviço de internet via satélite da SpaceX foi ativado no país para ajudar no esforço da guerra contra a Rússia
O engenheiro de softwares Oleg Kutlov, segurando uma antena da Starlink em sua casa na Ucrânia: serviço de internet via satélite da SpaceX foi ativado no país para ajudar no esforço da guerra contra a Rússia (Imagem: Oleg Kutlov/Acervo)

Felizmente, em entrevista ao The Verge, o engenheiro Oleg Kutlov confirmou que, em apenas 10 segundos de instalação da antena em sua casa, o sinal da plataforma foi devidamente captado, confirmando uma conexão bem sucedida.

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“Eu honestamente não achava que isso funcionaria”, disse Kutlov. “Eu pensei que haveria problemas como obstruções, ou alguma dificuldade com a minha antena. Mas não, ela simplesmente se conectou. Eu também estou com boa velocidade e boa conectividade”.

Engenheiro especializado em softwares e comunicações, Kutlov na verdade já tinha uma antena da Starlink em sua casa na Ucrânia, mas não a usava para conexão porque, bem, antes da guerra, o serviço não estava disponível em seu país.

Na verdade, ele comprou uma antena usada pelo eBay – pagando algo entre US$ 2 mil e US$ 3 mil (R$ 10,39 mil e R$ 15,58 mil) – para aprender como ela funciona, por meio de engenharia reversa. Ele chegou a publicar um artigo sobre o assunto em 2021, listando seus esforços e avanços, o que o colocou em contato direto com a SpaceX.

A situação viria a mudar – drasticamente – com a invasão militar comandada pelo presidente russo Vladimir Putin, que justificou a decisão em reprovação à possibilidade da Ucrânia se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – um bloco criado e comandado pelos Estados Unidos. Dias após o primeiro ataque, o vice-primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, enviou um tuíte público direcionado a Elon Musk, pedindo que o CEO oferecesse o serviço da Starlink para auxiliar nos esforços de combate da Ucrânia – algo prontamente atendido pelo bilionário.

Após a confirmação de que o serviço estava ativo em seu país, Kutlov decidiu tentar se conectar – agora, oficialmente – à Starlink em sua casa na Ucrânia. Depois de uma primeira tentativa sem sucesso, o suporte da SpaceX o ajudou numa tentativa subsequente.

A antena usada por Kutlov foi comprada no eBay, antes da guerra. O especialista queria usar a engenharia reversa para aprender como ela funciona
A antena usada por Kutlov foi comprada no eBay, antes da guerra. O especialista queria fazer engenharia reversa para aprender como ela funciona (Imagem: Oleg Kutlov/Acervo)

Inicialmente, o engenheiro decidiu usar sua nova conexão para relatar o funcionamento da Starlink, provando que a Ucrânia já podia, de fato, contar com o serviço: em meio a tuítes mostrando velocidades de download e upload, ele seguiu relatando detalhes da plataforma.

“Eu pensei em testar e relatar a todos que sim, [a Starlink] está funcionando na Ucrânia. Está tudo em ordem”, ele disse.

Entretanto, Kutlov admite que vem sendo cauteloso no uso do serviço. Ele teme que, pelo fato de toda essa transação ter se desenrolado em ambiente público – Twitter, majoritariamente -, é provável que a Rússia também já esteja ciente disso, e decida retaliar. Segundo o engenheiro, um de seus colegas viu uma estação de TV ucraniana vir abaixo com um ataque aéreo do exército de Vladimir Putin, e especulações afirmam que o uso recorrente da Starlink pode deixar casas e pessoas suscetíveis a manobras similares.

“Eu não sei se isso é verdade ou não, mas do ponto de vista técnico, é bem possível”, ele contou. “Então eu tomarei muito, muito cuidado”.

O que ainda não se sabe é como a distribuição das antenas recebidas pelo governo será feita. Como Kutlov pegou a sua pelo eBay, ele reconhece que teve uma certa vantagem: ele fez a compra por um mercado semi oficial, e conseguiu transacionar seu produto antes da guerra. Agora, o cenário instável provavelmente vai complicar meios normais de logística e entrega – convenhamos, é meio difícil contar com um comboio do correio quando as estradas e ruas estão sob vigilância e o estado é de constante alerta.

“Vivendo aqui, no leste de Kiev, eu vi explosões reais. A primeira [que ele viu] ocorreu às quatro da manhã, quando eu dormia, então tudo é meio insano”, ele disse. “Ontem, ouvimos explosões bem altas na nossa vizinhança. A nossa casa tremeu”. Ele ressalta que sua família tem um porão onde conseguem se abrigar durante um ataque.

Ainda assim, Kutlov disse que não vai deixar a cidade (por mais que o exército russo tente forçar os habitantes a deixarem Kiev). Isso porque Kutlov era residente da Crimeia, o território na Ucrânia anexado pela Rússia em fevereiro e março de 2014. Disse Kutlov que a Rússia já obrigou ele e sua esposa a se mudarem uma vez, mas que não aceitaria isso de novo.

“Vamos ficar e proteger a nossa propriedade, e eu acho que podemos ganhar”, ele comentou.

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