Ela superou dificuldades, preconceitos, foi perseguida pela ditadura argentina e se tornou uma das mais importantes astrônomas do Brasil
Sempre que falamos do sucesso de uma mulher na Astronomia, é certo que estamos contando uma história de luta, dedicação e superação. Mas no caso de Miriani Pastoriza, os desafios parecem ter se multiplicado. E as conquistas, também.
Miriani Griselda Pastoriza nasceu em 1939 na cidade de Loreto, na Argentina. Foi lá que, ainda criança, surgiu sua paixão pelas estrelas ao observá-las da varanda de sua casa, onde dormia com sua mãe e suas irmãs nas noites quentes. Ela procurava aprender tudo sobre o Universo e desde cedo, já sabia que queria ser astrônoma.
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Só que não seria nada fácil realizar aquele sonho. Para começar, a única opção para estudar Astronomia na Argentina era em La Plata, a mais de 1000 quilômetros de distância, além de ser um custo muito alto para sua mãe que era professora e viúva. Mas aí, o Universo conspirou em seu favor.
Quando estava no quarto ano, foi criado o Instituto de Matemática, Astronomia e Física na Universidade de Córdoba, que ficava a “apenas” 430 quilômetros de Loreto e, com a ajuda de sua irmã mais velha, que já trabalhava na época, partiu para Córdoba para se tornar a primeira Astrônoma da Argentina.
Mas desde o início, teve que enfrentar muitos preconceitos e dificuldades. Pastoriza era a única mulher em sua turma e precisou de uma autorização especial do reitor da Universidade para ter acesso ao Observatório Astronômico de Córdoba onde, até então, não era permitido que mulheres passassem a noite.
Foi naquele observatório que, em 1965, juntamente com seu professor José Luis Sérsic, Pastoriza descobriu jovens estrelas se formando no núcleo de galáxias espirais. Essas galáxias com núcleos peculiares passaram a ser conhecidas como “galáxias Sersic-Pastoriza” em homenagem aos seus descobridores. Miriani Pastoriza nem havia se formado ainda, mas já se destacava na Astronomia argentina.
Ainda em 65, Pastoriza se tornou a primeira mulher a se graduar em Astronomia na Argentina, e em 73, obteve seu doutorado, também na Universidade de Córdoba, onde seguiu como professora e pesquisadora do Observatório Astronômico.
Mas suas descobertas e conquistas não impediram que ela fosse considerada “perigosa” pela ditadura militar que se instalava na Argentina em 1976. Ela foi expulsa da Universidade e seu marido, preso pelo regime. Assim que ele foi solto, um ano e meio depois, eles se mudaram para o Brasil.
No Brasil, Pastoriza recomeçou sua vida e retomou sua carreira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Lá, ela criou o grupo de pesquisa em Astrofísica Extragaláctica, o que projetou o Instituto de Física da UFRGS no Brasil e no mundo.
Naturalizada brasileira, Pastoriza tornou- se uma das mais respeitadas astrônomas do país. Ela alcançou o mais alto grau de pesquisadora no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, é membro da Academia Brasileira de Ciências, representante do Brasil no Comitê Científico do Telescópio Gemini e no Conselho Diretivo do Observatório SOAR. Além de ter alcançado diversos cargos diretivos em observatórios e institutos de pesquisas.
Seu exemplo de vida já seria suficiente para inspirar meninas e mulheres ao redor do mundo, mas Pastoriza ainda destina parte de seus esforços na busca pela igualdade de gênero no mundo da ciência, para que todas as mulheres dessa área se sintam respeitadas e valorizadas.
Essa luta não é nada fácil, porque o machismo não é apenas um defeito do homem, e sim uma doença da nossa sociedade. Está impregnada em nossos costumes e até mesmo em nossa cultura. Por isso, Miriani Pastoriza é inspiração, não só para as mulheres que querem seguir carreira na Ciência, mas para todos que lutam e sonham com um mundo mais igual.
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