Não é só no Brasil: os preços dos carros dispararam nos últimos dois anos. Veículos de todos os tipos e idades agora são significativamente mais caros do que eram antes da chegada da Covid-19, causando preocupação se a era do carro popular acabou para sempre, e carro vai voltar a ser exclusividade da elite, como não são há mais de um século nos EUA, e há muitas décadas também no Brasil.

De acordo com o Resumo do Índice de Preços ao Consumidor, divulgado pela Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA, os preços de transação – o que as pessoas pagaram por seus veículos – aumentaram 12,2% para veículos novos em janeiro de 2022 em comparação com o mesmo mês de 2021. Enquanto isso, os preços dos carros usados ​​saltou vertiginosamente em 40,5%. No Brasil, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), houve um aumento de 18% nos novos em 2021, e 22% para os usados.

Há uma luz no fim do túnel? O Car and Driver ouviu especialistas internacionais e eles fizeram suas previsões.

Carro agora é luxo

Segundo os analistas, a pandemia da Covid-19, a continuada escassez de chips iniciada pela pandemia é ainda o fator principal a justificar preços altos. Mas agora soma-se a isso a guerra que está ocorrendo na Ucrânia.

publicidade

A Covid-19 impactou na produção normal dos chips de silício. Tais componentes, por sua vez, são os que configuram uma miríade de processadores que controlam desde os controles do motor de um veículo até o sistema de infoentretenimento e a potência. E a quantidade de chips necessária para que seja retomada uma produção maior não deve ser alcançada em breve.

Carro está virando luxo também por um círculo vicioso: as vendas e a produção estão em queda, e carros se tornam mais caros porque há menos oferta e economia em escala, então as montadoras compensam no preço. Com isso, as vendas caem mais ainda, alimentando o processo de elitização dos carros.

Esta semana, o CEO da Stellantis Carlos Tavares disse ser esperado que os problemas no mercado continuem elevando os custos. Muito devido ao aumento da inflação e outros problemas da cadeia de suprimentos relacionados à pandemia. Mas também que há um sério risco de carros se tornarem inacessíveis à classe média.

Cenário não muito promissor

Quanto à análise, primeiro as boas (ou menos ruins) notícias: Alex Yurchenko, vice-presidente sênior e diretor de ciência de dados da Black Book, especializada canadense em dados e análises (principalmente no mercado de carros usados), diz que provavelmente, já passamos do pico dos preços. “Já estamos vendo quedas nos preços no atacado. Após os próximos dois meses, esperamos ver os preços no varejo caindo”.

Mas essa queda será a conta-gotas: “Estamos começando tão alto que não vamos chegar ao nível pré-Covid em nenhum outro momento no futuro próximo”. Ele diz que nos próximos três, quatro ou talvez cinco anos, provavelmente o cenário será de estoque limitado, “e isso manterá os preços elevados”.

Stephanie Brinley, analista principal da IHS Markit, provedora britânica de informações do mercado e de indicadores econômicos, não vê o preço sugerido pelo fabricante caindo no setor automobilístico. “Mas vejo alguma volatilidade, com os preços de transação se estabilizando conforme aproximamos a oferta da demanda”.

Essa estabilidade – veículos novos sendo produzidos em volume suficiente para atender à demanda – pode ocorrer daqui a dois anos. “Estamos falando do final de 2023, início de 2024”, prevê Brinley. Hoje, há uma nítida escassez de novos veículos.

De acordo com Brinley, o cenário atual fez com que fabricantes de carros e revendedores vissem em uma situação de estoque mais enxuta uma oportunidade mais lucrativa. “Provavelmente, veremos revendedores portando menos estoque”.

“O que não podemos prever são eventos externos”, afirma a analista, que lembra das ocorrências nos últimos três anos. Indo nessa linha, podemos citar a guerra na Ucrânia, que exigiu às fabricantes uma espécie de redução na produção. Fora que as mudanças geopolíticas (que envolvem questões como a retaliação das fabricantes de carros contra a Rússia) também tornam o cenário automobilístico mais delicado.

A esperança não vem dos usados

Carlie Chesbrough, economista sênior da americana Cox Automotive, empresa proprietária da Kelley Blue Book e da Autotrader, também não vê um futuro muito promissor para usados.

Para ele, o efeito dominó da escassez de chips deve prevalecer nos próximos anos. O economista lembra da diferença entre os 17 milhões de veículos comercializados em média nos EUA até o final de 2019 e os 14,5 milhões de 2020 e os 14,9 milhões de 2021. No Brasil, pela Anfavea, houve uma queda de mais de 20% entre 2022 e 2021. “Essa demanda não atendida está agora no mercado de carros usados”.

Chesbrough também diz que o volume de usados disponíveis no mercado em 2023 e 2024 será menor, por consequência óbvia da menor produção. Isso significa preços bem altos nesse segmento por pelo menos mais dois anos.

Enfim, a resposta à pergunta de quando os carros vão voltar a custar o que a gente estava acostumado a vida inteira é: puxa uma cadeira para esperar, porque a previsão é próximo 30 de fevereiro às 26h30. No melhor caso, dá para “despiorar” um pouco, e no longo prazo.

Se serve de consolo, há um conselho: para aqueles que estão interessados em comprar um veículo, o analista Sam Abuelsamid diz que é necessário “planejar com antecedência, esperar alguns meses, descobrir o que você quer, ir a um revendedor e encomendá-lo de fábrica”. Além disso, é importante lembrar que o carro usado do comprador de um carro novo também está com seu preço alto, o que pode ajudar em casos de negociação.

Imagem: Monthira/Shutterstock

Leia também:

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!