Um micróbio unicelular capaz de isolar carbono naturalmente vem sendo pesquisado por cientistas como uma possível solução para o aumento de temperatura de acidificação dos oceanos – ambas, consequências do aquecimento global causado pelo homem.

De acordo com o estudo publicado na Nature Communications, essa nova espécie é abundante no mundo e, basicamente, faz a fotossíntese e produz um polímero rico em carbono que atrai outros micróbios, imobilizando-os. Então, essa espécie devora suas presas e abandona esse polímero, que vai afundar devido ao seu peso, ao fundo do oceano.

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O aquecimento global faz com que oceanos liberem mais carbono na atmosfera, piorando o aquecimento global, mas micróbio descoberto recentemente tem capacidade de "afundar" o carbono, ajudando a resfriar as águas
O aquecimento global faz com que oceanos liberem mais carbono na atmosfera, piorando o aquecimento global, mas micróbio descoberto recentemente tem capacidade de “afundar” o carbono, ajudando a resfriar as águas (Imagem: Oliver Denker/Shutterstock)

De acordo com a bióloga marinha responsável pelo estudo, a Dra. Michaela Larsson, é a primeira vez que esse comportamento é demonstrado em pesquisa.

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O micróbio em questão – chamado Prorocentrum cf. balticum – é um fitoplâncton, segundo a especialista. Seres desse tipo são capazes de realizar fotossíntese, mas também de extrair nutrientes adicionais dissolvidos na água. Esse comportamento é similar em plantas da terra firme: ainda que todos os vegetais sejam capazes de se alimentar pela luz do Sol, algumas espécies – como as plantas carnívoras – engolem moscas e insetos para ampliar sua gama de nutrição.

“O organismo de nosso estudo é um ser ‘mixotrófico’, então ele é capaz de devorar outros micróbios para ter uma dose concentrada de nutrientes, como se estivesse tomando um multivitamínico”, disse Larsson. “Ter essa capacidade de adquirir nutrientes de formas diferentes significa que esse micróbio pode ocupar grandes partes do oceano – incluindo aquelas sem nutrientes e, consequentemente, não indicada para outros fitoplânctons”.

A professora Martina Doblin, co-autora do estudo, disse que a descoberta da espécie de micróbio pode ser um diferencial no equilíbrio de dióxido de carbono (CO2) nos oceanos e na atmosfera. Por ano, esse ser unicelular pode afundar algo entre 0,02 e 0,15 gigatons de carbono. Combinando seu uso natural com outras soluções, nós poderíamos entrar no parâmetro mínimo de conservação climática estimado por especialistas – reduzir cerca de 10 gigatons de carbono por ano até 2050.

“Esta é uma espécie inteiramente nova e, por isso, nunca havia sido descrita com esse volume de detalhes”, disse Doblin. “A implicação é a de que há mais carbono afundando no oceano do que nós imaginávamos, e talvez exista um potencial maior para que o oceano capture mais carbono de forma natural por esse processo, em lugares onde nós não imaginávamos haver essa possibilidade”.

O estudo deve continuar, agora avaliando a possibilidade de cultivar esse micróbio sintetizador de carbono em larga escala, além de analisar a capacidade de entregá-lo em águas oceânicas onde ele possa conduzir seu processo natural de alimentação.

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