Durante um experimento que envolvia o aumento expressivo de pressão em um ambiente controlado, cientistas da Universidade de Nevada-Las Vegas conseguiram reproduzir um novo estado de água – uma espécie de “continuidade do gelo”, batizando a descoberta de “Ice-VIIt” (“Gelo-VII” – os números que formam o algarismo “7”, e o “t” vem de “transição”).

Sem julgar a oportunidade perdida de chamar o material de “Blizzaga” (quem joga Final Fantasy vai se identificar com a referência), os cientistas explicaram que o novo estado não deve ocorrer naturalmente na Terra, mas pode ajudar a explicar o comportamento da água em outros planetas e corpos espaciais.

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Vale explicar: embora nossas aulas de química e física tenham tocado nesse assunto de forma mais simples (ou seja, três estados: sólido, líquido e gasoso, além do sublimado, que é a passagem direta do sólido para o gasoso), a água é bem mais estranha que suas transformações terrenas aparentam.

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A grosso modo, nós conhecemos mais ou menos 19 ou 20 estados variantes do gelo, que podem ou não ocorrer de forma natural dependendo dos seus arranjos moleculares. O cubo de gelo que você vai esquecer no seu freezer porque o verão já acabou, por exemplo, é o “Ice-I”, ou “Gelo-1”. Essa é a forma mais desastrosa, falando em termos moleculares, pois todo o oxigênio dessa composição é meio que disposto de forma aleatória, então qualquer alteração quebra esse arranjo.

Novo estado da água é uma passagem intermediária entre várias formas de gelo, e não pode ser reproduzida por meios naturais (Imagem: Valentyn Volkov/Shutterstock)

Entretanto, quando submetemos o gelo que conhecemos a diferentes pressões e temperaturas, essas moléculas podem se reagrupar de forma mais organizada: o Ice-X (“Gelo-10”), por exemplo, é o gelo totalmente simétrico.

O Ice-VII, parte da pesquisa atual, é o gelo com o oxigênio mais “certinho”, mas o hidrogênio bagunçado. Enquanto o “10” é encontrado quando um cubo de gelo é submetido a pressões muitas e muitas vezes maiores que o nível do mar na Terra, o Ice-VII vem pelo caminho contrário – ou seja, pressões inferiores.

Basicamente, os cientistas, liderados pelo físico Zach Grande, encheram de água um pequeno recipiente feito de diamante, congelando tudo em meio a cristais minúsculos. Eles então usaram disparos periódicos de laser para aquecer tudo, forçando o material a derreter antes de congelar tudo de novo, obtendo o que eles chamaram de “um pó cristalizado”.

A observação continuada, em paralelo com os disparos de laser, fizeram com que os cientistas vissem a transição do “Ice-VII” para o “Ice-X”. No meio disso, apareceu um novo estado intermediário de água, que eles chamaram de “Ice-VIIt

“O trabalho de Zach demonstra que essa transformação para um estado iônico ocorre a uma pressão muito mais baixa do que inicialmente pensávamos”, disse o físico Ashkan Salamat da universidade em Las Vegas (não envolvido no estudo). “É a conexão que faltava, e as medidas mais precisas de água nessas condições”.

O estudo com as descobertas do time foi publicado no jornal científico Physical Review B.

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