De acordo com as leis da relatividade geral, o que cai em um buraco negro, fica em um buraco negro. Acontece que, agora, novas pesquisas sugerem que o material ali de dentro pode deixar uma impressão quântica no campo gravitacional externo.

Buracos negros não seriam apenas “devoradores” insaciáveis, mas, também, podem emitir radiação. Imagem: Martin Capek – Shutterstock

Se for confirmada, essa descoberta resolveria um problema de longa data na física: o paradoxo da informação do buraco negro de Stephen Hawking. Na década de 1970, Hawking calculou que os buracos negros podem não ser inteiramente vias de mão única; eles poderiam emitir uma radiação – que ficou conhecida como radiação Hawking. 

No entanto, essa radiação Hawking é simples radiação térmica, ou calor, e não carrega nenhuma informação sobre a origem do buraco negro ou a matéria que desapareceu dentro dele. Em outras palavras, medir a radiação em si nada diria sobre sua história. 

Conforme destaca o site LiveScience, o paradoxo surge porque as leis da mecânica quântica afirmam que a informação não pode ser perdida. “Conhecer o estado final de um objeto fornece pistas sobre seu estado inicial, permitindo que você rebobine o filme”, disse Xavier Calmet, físico da Universidade de Sussex, na Inglaterra, que liderou a nova pesquisa. 

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Buracos negros unem mecânica quântica e a Teoria da Relatividade Geral de Einstein

Se um buraco negro engole informações de forma irrevogável, essas leis não podem estar corretas. A contradição o torna o lugar ideal para testar como a mecânica quântica e a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein se encaixam. “O que estamos mostrando é que as duas teorias são muito mais compatíveis do que as pessoas imaginavam, que não há paradoxo”, disse Calmet.

A noção de que esses fenômenos têm muito poucas características para distingui-los uns dos outros é chamada de “teorema sem cabelo”, uma metáfora feita pela primeira vez pelo físico John Wheeler. A ideia é que, além da massa, carga e rotação, os buracos negros não têm características distintivas – nenhum ‘penteado’, ‘corte’ ou ‘cor’ para diferenciá-los.

Em seu novo artigo, publicado na revista Physical Review Letters, Calmet e seus colegas descobriram que os buracos negros podem de fato “ter cabelos”, embora muito sutis. Os pesquisadores trabalham em gravidade quântica, um campo que busca entender as forças gravitacionais por meio da mecânica quântica

Usando cálculos desenvolvidos na última década, a equipe de pesquisa comparou duas estrelas teóricas que colapsam em buracos negros do mesmo tamanho, carga e rotação, mas que têm uma composição química inicial diferente. O “teorema sem cabelo” sustenta que é impossível dizer se as estrelas que criaram esses dois buracos negros eram inicialmente diferentes uma da outra. 

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No entanto, os cálculos da equipe mostraram que havia diferenças no campo gravitacional externo. Especificamente, as informações sobre sua composição foram armazenadas em grávitons, uma partícula elementar hipotética situada entre as forças gravitacionais na gravidade quântica. “Descobrimos que a gravidade quântica nos permite encontrar a diferença no campo gravitacional”, disse Calmet. “Há uma memória no campo gravitacional do que entrou no buraco negro”.

Há diversos esforços para procurar informações vazando de buracos negros. O Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro a Laser (LIGO) analisa ondulações do espaço-tempo criadas por objetos massivos. Em 2037, a Agência Espacial Europeia (ESA) planeja lançar três espaçonaves para detectar ondas gravitacionais do espaço, em uma missão conhecida como Laser Interferometer Space Antenna (LISA). 

Segundo Calmet, as descobertas estimularam o interesse da comunidade física, mas ele não espera que os resultados sejam aceitos da noite para o dia. “A maioria das pessoas esperava que você tivesse que mudar a física de uma forma ou de outra para fazê-la funcionar”, disse ele sobre o paradoxo da informação do buraco negro. 

Calmet e sua equipe agora esperam usar suas descobertas para investigar ainda mais as possibilidades da gravidade quântica, que ainda é um campo com muitas teorias concorrentes e nenhuma resposta clara sobre qual é a correta. “Isso pode nos ajudar a ir em direção a uma teoria da gravidade quântica”, disse Calmet. 

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