Montadoras pelo mundo todo, e não apenas elas, estão avançando para fazer você parar de dirigir – e para o seu bem. O desenvolvimento dos carros autônomos reúne nomes como Honda, Toyota, Tesla, Hyundai, Volvo, Waymo (uma parceria da Google com a Fiat Chrysler), BMW, Volkswagen, General Motors, Ford, Geely, Mercedes-Benz, Uber (com ofertas de caronas sem um motorista sequer) e muito mais.

Para essas empresas e projetos, a palavra da vez é mobilidade. Eles buscam desenvolver um processo de automatização na direção para que efetivamente os carros se dirijam sozinhos, sem qualquer interferência humana. E, para isso, eles levam em consideração não apenas a parte de conforto e praticidade, mas também questões de segurança.

Para você entender os carros autônomos, o Olhar Digital preparou um guia completo. Confira!

O que são carros autônomos?

Carros autônomos são aqueles que oferecem algumas funções autônomas importantes da condução e uma direção sem qualquer interferência humana. Dependendo do nível da autonomia, os veículos são configurados sem itens como volante e pedal. Em alguns conceitos recentes, tais componentes podem surgir do teto, ou sob o para-brisa, como vimos no Grandsphere, da Audi.

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Muita automação já ocorre em boa parte dos modelos de ponta. Porém, uma direção 100% autônoma não deve ser alcançada tão já. De qualquer forma, o foco da automação na direção é libertar você da tarefa (ou do prazer) de dirigir.

Como funcionam os carros autônomos?

Uma das formas ideais para termos uma abordagem sobre como funcionam os carros autônomos é observando o que diz a Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE). Essa organização é referência nos estudos de engenharia automobilística e traz uma padronização com definições detalhadas para seis níveis de condução autônoma, indo do zero ao 5.

Assim, a dependência de ter um motorista no carro dirigindo diminui conforme o nível de condução aumenta. Por exemplo, um veículo com sistemas de suporte ao motorista de nível 0 significa que o carro é totalmente manual e que depende totalmente de um humano (você deve dirigir, frear ou acelerar conforme necessário para manter a segurança).

Assim como o anterior, os níveis 1 (direção assistida) e 2 (automatização parcial) necessitam de um motorista ativo com as mãos no volante. Ou seja, você é sempre responsável pela operação do automóvel, devendo supervisionar a tecnologia a todo tempo e assumir o controle total do carro quando for necessário.

Neste momento, começam a aparecer recursos como assistência de centralização da pista (para manter o carro na faixa) e controle de velocidade adaptativo (que mantém o automóvel a uma distância segura do tráfego à frente). No nível 1, o veículo tem um ou outro.

No nível 2, tais recursos funcionam juntos, em carros dotados de sistemas avançados de assistência à direção (ADAS). Uma tecnologia bem conhecida que está nessa classificação é a Full Self-Driving (FSD), da Tesla.

A tecnologia assume o controle total da direção sem supervisão humana nos níveis 3 (automatização condicionada), 4 (automatização avançada) e 5 (automatização total). Em outras palavras, o motorista não precisa ter as mãos no volante o tempo inteiro. No entanto, com o nível 3, se o veículo alertar e solicitar que uma pessoa assuma o controle do veículo, o condutor deve estar preparado e apto para isso.

Já a partir do nível 4, a parte de ficção científica começa a aparecer. Os motoristas já podem, por exemplo, tirar um cochilo enquanto o carro dirige sozinho (em certas áreas e obedecendo a certas restrições, entretanto). O carro deve ser capaz de se colocar em segurança se o motorista não conseguir assumir o controle em uma emergência.

Carros autônomos são feitos seguindo seis níveis de autonomia
Carros autônomos são feitos seguindo seis níveis de autonomia. Imagem: metamorworks / Shutterstock

O nível 5 significa que um veículo pode se dirigir sozinho em qualquer lugar e em todas as condições, sem qualquer interação humana. Veículos com essa classificação máxima de automação não são limitados por geofencing nem afetados pelo clima e transportam seres humanos de maneira confortável e eficiente sem a necessidade de alguém fazendo a vez de motorista.

O único envolvimento humano com o automóvel será na definição de um destino. Comandos por voz deverão existir, além de outros tipos de interação com o sistema dentro do automóvel, onde o que você menos precisará fazer é dirigir.

Qual a tecnologia dos carros autônomos?

Para ser aprovado pelas autoridades, um veículo autônomo precisa estar apto para trabalhar em ambientes diversos. Logo, as empresas precisam realizar baterias de testes dos mais diferentes, em locais controlados ou abertos, usando tecnologias como sensores, radares e sistemas de segurança.

Entre as tarefas que devem ser automatizadas, estão a realização de curvas, frear ou acelerar, sendo que o controle autônomo deve ter noção de tudo o que acontece ao redor do veículo. Para isso, softwares baseados em recursos como inteligência artificial atuam em conjunto com sensores e radares instalados pela carroceria do carro. 

Um dos principais itens neste grupo é o sensor LiDAR, que usa luz refletida para medir distância e profundidade para efeitos de câmera e realidade aumentada – e assim detectar obstáculos na pista.

O LiDAR é um dos sensores utilizados em carros autônomos
O LiDAR é um dos sensores utilizados em carros autônomos. Imagem: asharkyu / Shutterstock

Há também o uso de sensores ultrassônicos de geolocalização, fora as ferramentas configuradas para ambientes inteligentes, como, por exemplo, em pistas de cidades ao redor do planeta.

Já a parte de software é responsável por processar as informações, tendo como resposta para o veículo autônomo configuração de melhor trajeto, momento de ação (como frear, virar à direita, acelerar, manter a faixa, manter a distância do outro carro à frente). Além disso, há a comunicação entre veículos, conforme os sistemas aumentam seu potencial de conectividade e rede.

Um panorama sobre carros autônomos no Brasil

Você já se perguntou se tem carro autônomo no Brasil? Saiba que sim. No Brasil, levando em consideração a classificação da SAE, há carros autônomos em circulação, com assistência ao motorista que podem ser compreendidas nos níveis 1 e 2. Assim, são aqueles veículos que exigem as mãos do motorista no volante.

Aliás, não somente a questão tecnológica oferece um campo de pouca adesão dos carros autônomos em nosso país, como há também questões éticas, de infraestrutura e de legislação a serem observadas. Rodovias bem avaliadas, como a Bandeirantes, no estado de São Paulo, poderiam receber veículos de alta automação.

Há detalhes sobre o que é usar um piloto automático no Brasil em uma matéria nossa recente, quando conversamos com o motorista que disse que não estava dormindo em um Model 3 flagrado na rodovia Imigrantes. O empresário Rafael Zamarian Leonhardt inclusive contou como é ter um Tesla no Brasil e disse que usa o recurso 100% do tempo na estrada.

“No Brasil, não funciona a navegação ponto a ponto como nos EUA. Ele até ultrapassa a pedido da seta, vai para a faixa lateral caso seja pontilhada depois da seta, para tentar pegar um acesso, tipo saída do Rodoanel. Mas não navega pelo endereço. Ou seja, não toma rota”, explicou.

Model 3 é um dos modelos autônomos da Tesla
O Tesla Model 3 era o modelo dirigido pelo empresário Rafael Zamarian Leonhardt. Imagem: Taun Stewart / Unsplash

Leonhardt disse que prefere desligar o sistema automático do carro Tesla (que não é o FSD, disponível para motoristas selecionados) em ruas muito mal sinalizadas ou em ruas sem sinalização nenhuma. “Mas, nas principais vias e no trânsito, em geral funciona melhor que um ser humano irritado com o trânsito”.

“O piloto automático me tornou um motorista melhor! Acabaram minhas multas por velocidade acima do limite e ando na estrada sempre 10 km/h abaixo do limite máximo, mais consciente, mais calmo e muito mais responsável que quando não tinha ele”, relatou.

Conheça os prós e contras dos carros autônomos

Nesse sentido de benefícios que o piloto automático oferece, podemos fazer uma lista de vantagens dos carros autônomos (e de desvantagens, também).

Vantagens

Os veículos interagem entre si

Diante de uma configuração poderosa na base da implementação de sistemas de condução autônoma, há também tecnologia avançada na parte de conexão. Os carros que dirigem sozinhos poderão, conforme configuração, correr mais próximos uns dos outros, movendo-se em estilo pelotão para levar as pessoas aos seus destinos, por exemplo.

Economizam tempo

Além de permitir àquele que seria o motorista adiantar tarefas que não poderia realizar se estivesse conduzindo o veículo, o carro autônomo pode realizar funções sozinho. Como estacionar sozinho (vimos avanço em um software 3.0 da Volkswagen que permite ao motorista ensinar o veículo a estacionar sozinho), não tomando o tempo da pessoa para isso. Ao mesmo tempo, os carros recebem informações de trânsito, desviam automaticamente de rotas com problemas e mais.

São mais seguros

As imprecisões humanas e equívocos no trânsito provocados por desatenção de motoristas cansados ou com outros problemas de saúde são eliminados. A automatização oferece uma diminuição considerável na margem de erro na direção, principalmente à medida que aumenta a interação do carro com as cidades e ambientes inteligentes.

São mais sustentáveis

A economia de tempo como vimos acima também tem a ver com menos tempo do carro rodando, em funcionamento, utilizando combustível (energia) – logo, há menos impacto ambiental. A eficiência gera menor necessidade de recargas ou reabastecimento.

O foco no desenvolvimento dos carros autônomos também acompanha a linha do desenvolvimento dos carros elétricos e voltados para emissão zero, como também são os movidos a hidrogênio. A produção desses veículos não requer muitos recursos, considerando também que muitas peças automotivas hoje vêm de materiais reciclados.

Avançam na integração

Sistemas de comunicação a bordo nos carros autônomos possuem competências avançadas, que vão além da interação entre veículos que vimos acima. Temos a parte da integração dos automóveis com centrais de trânsito e mapas, para buscar rotas melhores e a parte de atualizações over-the-air (OTA), para integração do software do automóvel sem que seja necessário levá-lo para uma autorizada da montadora.

Carros autônomos serão conectados também entre si, melhorando o fluxo do trânsito
Carros autônomos serão conectados também entre si, melhorando o fluxo do trânsito. Imagem: Zapp2Photo / Shutterstock

Sem contar os serviços conectados que crescem de maneira exponencial, acompanhando anseios do motorista que busca comodidade, praticidade e tranquilidade. Nessa linha, há avanços em serviços de streaming, Wi-Fi, rede informatizada mais avançada (incluindo premissas com o 5G) e por aí vai. Além disso, as pessoas dentro de um veículo autônomo de alto nível podem interagir entre si sem se preocupar com o trânsito, enviar e-mails, realizar reuniões virtuais.

Menos gastos com manutenção

Além da redução nas despesas com combustível (dado o perfil elétrico dos carros autônomos) ao otimizar o uso de energia e desgaste, ao longo do tempo, há menos gastos com manutenção. Esses modelos vão visitar muito menos a oficina.

Não vai ser necessário saber dirigir

Bom, aqui já estamos falando dos níveis mais avançados na classificação da SAE. Porque, realmente, ninguém dentro de um carro autônomo de nível 5 precisará tirar carta para poder viajar. No máximo, vão precisar decorar comandos de voz para que o veículo realize alguma ação não programada antes.

Desvantagens

Preço

Os carros autônomos oferecem tecnologia de ponta, o que já não é barato. O perfil elétrico (desconsiderando os sistemas de piloto automático) também coloca esses veículos em um topo de valores para a compra pelas pessoas.

Complicação na adesão

As mudanças necessárias para a implementação dos carros autônomos no dia a dia das cidades ganham um tom especial em critérios de legislação de trânsito e também de infraestrutura. Além disso, o motorista poderá ter dificuldades na hora de confiar que a inteligência do veículo “é maior” que a dele para poder assumir a direção.

Risco

A questão ética no desenvolvimento de softwares de direção autônoma vai no mesmo sentido da criação de outros sistemas computacionais. Então, o quanto é arriscado haver um algoritmo de comportamento em diversas situações – como escolher entre salvar o motorista ou um pedestre em situações extremas.

Vulnerabilidade a ataques

Outro problema é o uso das informações coletadas pelos carros autônomos e pelos sistemas aos quais ele está conectado. Em cenários de falhas de segurança, o acesso indevido a dados pode ser ilustrado com a possibilidade de um hacker acessar e controlar um carro autônomo.

Complexidade de manutenção

Pode haver a parte de benefício com menos idas de um carro autônomo à oficina, mas os técnicos terão que possuir um alto grau de conhecimento para realizar os procedimentos devidos. Não só na parte de troca de peças, como também na configuração de sistemas.

Conheça modelos existentes de carros autônomos

Há muitos carros autônomos em diferentes níveis ao redor do mundo (claro que aqueles nas classificações mais baixas, dotados de assistências de direção mais comuns ao motorista são maioria). Com alta competência de piloto automático, há aqueles em testes, outros em conceito e há alguns que inclusive já receberam autorização para rodar.

Além dos carros da Tesla que possuem o FSD, outro carro de nível 2 que podemos citar é o XC90 da Volvo (que também vem trabalhando para fazer seus famosos caminhões que dirigirem sem motorista humano).

Em 2020, por exemplo, a Honda recebeu permissão para comercializar seu luxuoso sedan Legend no Japão, dotado de um nível 3 de autonomia na direção. Importante notar que, por lá, foi necessário alterar a legislação para essa implementação da montadora.

Enquanto isso, a Mercedes-Benz já poderá oferecer um sistema de direção autônoma de nível 3 na Alemanha ainda este ano e, com isso, quer qualificar a tecnologia sem as mãos no exterior. Inicialmente nos modelos S-Class e EQS, o funcionamento do Ride Pilot será em tráfego intenso, em trechos pré-mapeados de rodovia, em velocidades de até 60 km/h aproximadamente. O software tem uma competência paralela ao Ride Pilot, da Volvo. 

Mercedes EQS é um dos modelos existentes de carros autônomos
Interior do Mercedes EQS com painel multimídia. Imagem: Christian Wiediger / Unsplash

Um considerado rival direto dos veículos Mercedes-Benz S-Class, o Genesis G90 da Hyundai está em vias de obter uma classificação de nível 3 de autonomia da direção. Ou seja, o carro da montadora sul-coreana está um nível acima daqueles que possuem o FSD da Tesla, o que significa um grande avanço.

Por falar na empresa de Elon Musk, o CEO prometeu no final do ano passado um “pulo” de seu software para o nível 4 em 2022. Apesar da competência efetiva da Tesla com relação às tecnologias de seus veículos, Musk também é conhecido por ter declarado por inúmeras vezes (pelo menos uma vez por ano, desde de 2014) que “um carro totalmente autônomo será lançado no ano que vem”.

Neste nível 4, tivemos uma demonstração bem clara nas últimas Olimpíadas, com o ônibus autônomo e-Pallete, da Toyota, usado para transportar atletas dentro da Vila Olímpica. Com recursos como detecção de outros automóveis e pedestres ao redor e frenagem automática quando necessário, mesmo sem a necessidade de um condutor, cada um dos modelos levava um operador a bordo por segurança.

O conceito Audi Gransphere pode ser considerado um “lounge sobre rodas”, devido à sua competência autônoma de nível 4. Esse destaque vai na linha do que vimos acima sobre os benefícios dos carros autônomos, com um modelo que realmente oferece às pessoas dentro da cabine luxuosa a oportunidade de momentos de pura descontração sem preocupação com o trânsito ao redor.

Outro veículo que podemos citar aqui é o conceito Robocar, em desenvolvimento pela Baidu, a “Google da China”, em parceria com a montadora Geely. Dentre os detalhes do modelo estão duas pequenas torres pop-up sobre o capô contendo o radar LiDAR (vital para a tecnologia de direção autônoma)

Aliás, por falar na Google, a empresa americana também trabalha em um carro autônomo em parceria com a Waymo. Não só isso. Ao final do ano de 2021, foi anunciada uma parceria com a Zeekr, marca de luxo da montadora chinesa Geely, com foco no desenvolvimento de um veículo onde os passageiros terão “um interior sem volante e pedais e com bastante espaço para as pernas e assentos reclináveis, telas e carregadores ao alcance do braço e uma cabine de veículo confortável e fácil de configurar”. Algo que atende a características de nível 5.

Um dos destaques mais recentes naquele que é o mais alto grau de classificação de direção autônoma é o M7, da startup chinesa Weltmeister Motor. O veículo é dotado de 32 sensores.

São três radares LiDAR, 12 sensores por ultrassom, 4 câmeras de 360 graus e um módulo GPS de alta precisão equipando o modelo chinês (que está sendo preparado para estrear em 2023). Gerindo isso está o chipset Nvidia’s Driv Orin-X, que já é usado por outras montadoras como Volvo e Nio.

Qual o primeiro carro autônomo a ser criado?

O exército americano demonstrou um trailer de três rodas controlado por rádio chamado Radio Air Service em uma base da força aérea de Ohio em 1921. Mesmo que muitos historiadores o coloquem como o primeiro veículo motorizado sem motorista, dificilmente podemos considerá-lo um carro.

Já em 1925, o engenheiro militar Francis Houdina exibiu um Chandler 1926 dirigido de forma remota. O protótipo – que foi chamado de American Wonder – desceu a Broadway em Nova York enquanto outros motoristas e pedestres estranhavam o que acontecia. Um engenheiro em um segundo carro usou sinais de rádio para controlar o veículo, que a imprensa apelidou de Carro Fantasma. Contudo, podemos considerar este uma versão grande de “carrinho de controle remoto”.

Nos anos 1970 e 1980, a tecnologia de programação e processamento de dados avançou, permitindo que os primeiros carros verdadeiramente autônomos surgissem. Esses novos veículos eram equipados com sensores, processadores e câmeras capazes de detectar, por exemplo, a existência de um carro à frente e evitar possíveis colisões.

Dessa vez, o automóvel não dependia de fatores externos como outro veículo-guia ou sensores nas estradas. A partir de então, pela primeira vez, um carro andava pelas estradas sem nenhuma interferência humana, sendo ele o NavLab 1, lançado em 1986. Ele atingia no máximo 32 km/h, e a tecnologia é basicamente a mesma usada até hoje – com exceção da geolocalização (GPS).

Carros autônomos e Inteligência Artificial (IA)

Diante de tantas premissas e realidades junto aos carros autônomos mais atuais, é necessário lembrar da Inteligência Artificial (IA) atuando nos sistemas de condução. Para isso, podemos apontar para as IAs Drive Concierge e Drive Chauffeur, da Nvidia. Elas são a entrada da empresa no setor de automóveis e agirão como piloto automático do sistema Orin, desenvolvido pela fabricante americana de semicondutores.

O foco desses trabalhos dão uma dimensão de como a inteligência artificial é usada no desenvolvimento geral de tecnologias para os carros autônomos. Por exemplo, o Drive Concierge estará se baseando em IA para as pessoas “dirigirem” por voz. Ou seja, um assistente capaz de operar tanto funções associadas a telefone, como fazer uma ligação ou pesquisa, quanto capaz de dirigir sozinho.

Suas decisões não estarão focadas apenas no trânsito, mas também, no motorista: as câmeras internas do carro avaliam se é necessário realizar uma ação (caso seu nível de atenção ao trânsito esteja afetado). Nesse caso, a IA não só vai impedir você de cometer erros, como te estimulará a fazer uma pausa.

Os carros com este sistema-em-um-chip também lembrarão você para não se esquecer de sua bolsa, celular ou carteira nos bancos de trás. Naquela função de estacionar sozinho, também há atuação da inteligência artificial no carro autônomo.

Já o Drive Chauffeur é um sistema exclusivo de assistente de trânsito. Interagindo em conjunto com o Concierge, ele cria projeções 3D da estrada enquanto opera de maneira autônoma, e faz avaliações de risco durante a viagem.

Qual a importância do 5G para o desenvolvimento de carros autônomos?

A conexão 5G nos carros autônomos vai possibilitar uma série de comodidades
A conexão 5G nos carros autônomos vai possibilitar uma série de comodidades. Imagem: metamorworks / Shutterstock

Dentro das perspectivas dos carros autônomos atuando em redes 4G de hoje, com o 5G a situação fica ainda mais avançada (como para tudo em nossas vidas, como vimos aqui).

O tráfego rápido de informações entre os sistemas é capaz de criar as conexões necessárias para muitos dos recursos mais essenciais nos veículos e no ecossistema onde eles atuam. Estamos falando de comunicação entre os carros autônomos também, entre carro e uma central de tráfego urbano, entre carro e concessionária, entre as pessoas dentro do carro e pessoas fora do carro e por aí vai.

O 5G permitiria aos passageiros fazer compras online no supermercado a partir de dados gerados pela própria geladeira de casa, por exemplo. Serviços de entretenimento, como os streamings, e as transações financeiras digitais também devem crescer ainda mais.

A realidade virtual e a realidade aumentada, em conjunto com os sistemas conectados via 5G e IoT, transformarão completamente o mundo que hoje conhecemos, inclusive no trânsito.

Internet das Coisas e carros autônomos: como se relacionam?

Veja bem, é através da Internet das Coisas (IoT) que um carro autônomo compartilha informações sobre a estrada, que já foi mapeada. Essas informações incluem o trajeto percorrido, o tráfego e situação de obstáculos, por exemplo. O compartilhamento dessas informações entre os veículos e o ecossistema em geral conectados à IoT é realizado sem fio, em um sistema de nuvem, para serem analisados e colocados em uso, melhorando a automação.

Lasers de radar, sensores, câmeras de alta potência que mapeiam os arredores do carro… toda a tecnologia é baseada na IoT, com retornos de processamento de feedbacks do que é capturado pelos hardwares.

Em outras palavras, a IoT permite ao carro autônomo traçar um caminho e enviar instruções para os controles do carro: direção, aceleração e frenagem – além de ações baseadas em modelagem preditiva, que conduz o veículo a obedecer às regras de trânsito e se orientar em torno de certos obstáculos.

Responsabilidade civil e carros autônomos

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro e o importador, respondem solidariamente pelos defeitos de fábrica. Por exemplo, problemas com hardware e software.

Porém, os mesmos agentes são excluídos de responsabilidade em caso de mau uso do produto por parte do consumidor. Essas observações são apontadas neste trabalho vinculado ao Projeto de Extensão Conflitos Sociais e Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI).

Então, há um claro problema aqui, já que os consumidores, mesmo lendo manuais de instrução e outros documentos produzidos pelas empresas, não possuem entendimento acerca do funcionamento de produtos e sistemas dotados de inteligência artificial. Ou seja, podendo ser considerados leigos, ou mesmo analfabetos digitais.

Em contrapartida, os robôs (leia-se: carros autônomos) não podem ser responsabilizados por suas ações. Afinal de contas, eles não possuem personalidade jurídica própria. Resta ao consumidor e à empresa que fabricou o veículo uma espécie de empurra-empurra entre os humanos da vez: o motorista, o dono do carro, os empresários donos das fabricantes automotivas, etc.

Há também um artigo muito completo e importante a respeito de responsabilidade civil das montadoras junto a acidentes provocados por veículos autônomos no Brasil e que pode ser acessado aqui.

Leia também:

As principais dúvidas sobre esse tipo de veículo

Carro autônomo da Cruise equipado com sensores e câmeras
Carro autônomo da Cruise anda pelas ruas de São Francisco, nos Estados Unidos. Imagem: Remy Gieling / Unsplash

Carros autônomos são seguros?

Sim. Pelo menos a segurança oferecida por um carro autônomo é maior, como vimos antes sobre as vantagens desse tipo de direção automatizada.

São eliminadas as imprecisões humanas e equívocos no trânsito, além de recursos de IA proporcionarem diminuição considerável de erros na direção e, por consequência, reduzir a quantidade de acidente com carro autônomo.

Qual é o preço dos carros autônomos?

Aqui, temos que considerar que a maior parte dos carros autônomos com classificação SAE superior àqueles dotados de apenas “sistemas auxiliares de direção” estão ainda em condição de conceito ou bem limitados a alguns mercados. E como falamos nas desvantagens, são veículos muito caros (mesmo).

Por exemplo, dentre aqueles modelos que citamos acima, um modelo 2022 Genesis G90 que pretende obter o nível 4 de autonomia custa a partir de US$ 74 mil (em conversão direta, R$ 350 mil). Isso em um preço de início.

Um modelo S-Class da Mercedes-Benz que pretende ter sua autonomia nível 3 para além da Alemanha não sai por menos de US$ 111 mil. Bom, também desconsiderando diferenças de impostos ou taxas, estamos falando de algo por volta de R$ 526 mil em valores atuais (31 de março de 2022).

A Tesla aumentou o preço de seu pacote FSD em janeiro de 2022, passando para US$ 12 mil (cerca de R$ 57 mil), além de uma assinatura mensal de US$ 199 (R$ 943). Um Model 3 nos EUA (lembrando que aqui no Brasil o FSD não está ainda sendo oferecido) custa a partir de US$ 47 mil. Ou seja, perto dos R$ 223 mil em conversão direta, e aí tem que somar o preço do pacote e a assinatura.

Qual o melhor carro autônomo?

Partindo dos modelos da Tesla, o melhor autônomo da montadora é o Model S Plaid, também sendo um dos carros mais rápidos do mundo (pode atingir uma velocidade de 320 km/h). É um veículo com três motores elétricos produzindo mais de 1020 cv podendo rodar 627 km com uma só carga.

Das demais montadoras, temos que levar em consideração os níveis SAE de direção automatizada, o que nos coloca no grupo que inclui modelos Hyundai Genesis G90, Mercedes-Benz S-Class, Honda Legend.

Quando teremos carros 100% autônomos?

Em matéria recente da BBC, Necmiye Ozay, professora de engenharia elétrica e da computação da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos traz que a direção totalmente automática – em todas as condições possíveis, em que você pode colocar as crianças sozinhas no carro e enviá-las para qualquer lugar sem preocupação – é algo que não deve acontecer tão já.

Já Richard Jinks, vice-presidente comercial da companhia britânica de software para veículos autônomos Oxbotica, acredita que veremos veículos autônomos nas estradas ao lado dos veículos dirigidos por seres humanos daqui a 10 anos. Nesse sentido, você poderá entrar em um ônibus autônomo no aeroporto e dali sair para um táxi sem motorista que irá levá-lo até o seu destino final.

O que diz a legislação sobre carros autônomos?

Nossa legislação brasileira ainda não parece preparada para carros autônomos do nível “sem as mãos no volante”. O artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) considera infração média “dirigir o veículo com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo ou acionar equipamentos e acessórios do veículo”, por exemplo.

Isso sem contar a inexistência de bases legais para o funcionamento das tecnologias existentes em tais veículos (radares, câmeras, sensores). Lembramos aqui também da inteligência artificial e todo o problema de responsabilização em casos de acidentes.

O que é preciso para que esse tipo de veículo ganhe as cidades?

Um dos avanços rumo à adoção mais generalizada dos carros autônomos tem a ver com as montadoras se tornando empresas de mobilidade – e não simples fabricantes. De acordo com o estudo da Allianz Partners, “a maioria dos habitantes das cidades não terá mais carro particular, se tornando assinante de mobilidade”. Tal publicação é intitulada “Estudo prevê zero mortes na estrada até 2040”.

O relatório prevê também que, em pequenos deslocamentos em cidades, a bicicleta elétrica será cada vez mais comum. De qualquer forma, outro ponto crucial nessa empreitada da direção totalmente automatizada está na legislação, inclusive com o carro sendo “responsabilizado” em situações de falhas e acidentes.

O maior obstáculo da indústria de tecnologia de carros sem motorista é como fazer com que os carros sejam operados com eficiência e segurança em ambientes humanos complexos e imprevisíveis. Resolver essa parte do quebra-cabeça será o foco principal de atenção nos próximos dois anos.

Conclusão

As perspectivas para termos carros 100% autônomos muito mais presentes na nossa realidade acabam pedindo para que a gente tenha um pouco mais de paciência. Questão de uma ou mais décadas, talvez.

Mas o que vem sendo criado, desenvolvido, trabalhado nesse cenário é bem animador. As tecnologias que acompanham o avanço dos veículos na classificação de direção autônoma direta e indiretamente permitem visualizar a mobilidade urbana bem mais segura, mais rápida e confortável em linhas gerais.

Ainda temos o tom sustentável que as empresas automobilísticas vêm defendendo. E olha que nem falamos de carros autônomos e voadores.

Você sabia que o Brasil criou carro elétrico 34 anos antes de Elon Musk lançar primeiro Tesla? Confira tudo sobre essa história!

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