Cientistas detectaram o pulsar mais brilhante já observado fora da Via Láctea, revelando a verdadeira identidade de um objeto luminoso distante anteriormente confundido com uma galáxia distante.

Pulsares são estrelas de nêutrons extremamente densas que emitem feixes de radiação eletromagnética de seus polos. Devido à forma como esses objetos giram rapidamente, suas emissões de alta energia aparecem como pulsos curtos e periódicos quando observados de outros lugares do espaço, como se fosse um farol cósmico.

O pulsar recém-descoberto como visto através da luz polarizada. Imagem: Yuanming Wang

Desde a descoberta desse tipo de estrela, na década de 1960, pela astrofísica irlandesa Jocelyn Bell, mais de 2 mil pulsares foram detectados. E a grande maioria desses objetos brilhantes estão localizados dentro de nossa própria galáxia.

De acordo com o site Science Alert, o pulsar recém-identificado, chamado PSR J0523-7125, é uma descoberta extremamente rara de um pulsar extra-galáctico, localizado bem além dos limites da Via Láctea, na Grande Nuvem de Magalhães.

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Ele foi descoberto por astrônomos usando o conjunto de radiotelescópios Australian Square Kilometre Array Pathfinder (ASKAP) na Austrália, durante uma pesquisa de emissões polarizadas de pulsares no céu – uma técnica que os pesquisadores comparam ao equivalente astronômico de usar óculos de sol polarizados.

“Foi uma surpresa incrível”, explica o primeiro autor do estudo, o astrofísico Yuanming Wang, pesquisador da Agência Nacional de Ciências da Austrália (CSIRO) e doutorando na Universidade de Sydney. “Eu não esperava encontrar um novo pulsar, muito menos o mais brilhante. Mas com os novos telescópios que agora temos acesso, como o ASKAP e seus ‘óculos de sol’, é realmente possível”.

Nesta imagem, o pulsar PSR J0523-7125 é obscurecido por outras fontes de luz em dados não polarizados. Imagem: Yuanming Wang

De acordo com a equipe liderada por Wang, a estrela é cerca de 10 vezes mais luminosa do que qualquer outro pulsar extra-galáctico anteriormente observado. 

Isso levanta um questionamento: se é tão brilhante assim, por que não foi descoberto antes? A resposta tem a ver com a forma como os pulsares são detectados. Tradicionalmente, os procedimentos de busca por pulsares procuram pulsos periódicos – o efeito cintilante semelhante ao farol, à medida que o pulsar emite radiação em rajadas curtas e observáveis.

No entanto, os astrônomos têm que recorrer a outras maneiras de detectar pulsares mais esquivos que demonstram periodicidade menos previsível ou outras características ambíguas em sua luz emitida.

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“Pulsares anômalos, como sistemas binários de período orbital curto ou objetos fortemente dispersos, são mais difíceis de detectar”, revelam os pesquisadores no artigo publicado no The Astronomical Journal, que descreve a descoberta.

Em casos assim, uma solução alternativa em potencial é procurar sinais de luz circularmente polarizada emitida pelos objetos.

“Devemos esperar encontrar mais pulsares usando essa técnica”, explica a astrofísica Tara Murphy, da Universidade de Sydney, autora sênior do estudo. “Esta é a primeira vez que conseguimos buscar a polarização de um pulsar de forma sistemática e rotineira”.

Pulsar recém-descoberto excede os limites teóricos de luminosidade

De acordo com os pesquisadores, o PSR J0523-7125 excede os limites teóricos anteriores de luminosidade para o quão brilhantes pulsares na Grande Nuvem de Magalhães podem ser, mostrando que seu brilho se equivale ao de objetos vistos dentro da Via Láctea.

Embora os pulsares extra-galácticos ainda sejam uma raridade relativa, a capacidade dos cientistas de descobri-los – e outros tipos de pulsares difíceis de encontrar através de métodos tradicionais – tende a aumentar, graças à crescente disponibilidade de pesquisas contínuas de rádio em larga escala e futuros telescópios, como o próximo projeto Square Kilometre Array que está sendo construído na África do Sul.

“Com instrumentos aprimorados na era Square Kilometre Array, grandes campos de visão instantâneos e grande sensibilidade serão ainda mais comuns, levando à detecção de um grande número de fontes de rádio através do céu”, explicam os pesquisadores.

“Melhores radiotelescópios de última geração e um número crescente de pesquisas de vários comprimentos de onda em larga escala trarão grandes quantidades de dados com grande sensibilidade e resolução, dando-nos uma oportunidade sem precedentes de identificar mais pulsar (mesmo para pulsares extragalácticos mais longe do que as Nuvens de Magalhães)”, afirmam.

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