Cientistas do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha, na Alemanha, descobriram que no fundo dos oceanos existem vastas reservas de açúcar (sim, açúcar na água salgada do mar). O mais impressionante nisso é que a quantidade total estimada equivale a aproximadamente o conteúdo de 32 bilhões de latas de Coca-cola.

Ervas marinhas espalhadas pelo solo dos oceanos (uma área chamada rizosfera) em todo o mundo podem liberar até 1,3 milhão de toneladas de sacarose, segundo a equipe de pesquisa, o que corresponde à alarmante quantidade mencionada acima de latas do refrigerante mais vendido do mundo.

Solo abaixo das folhas de ervas marinhas acumulam enormes quantidades de açúcar liberados durante a fotossíntese. Imagem: Ethan Daniels – Shutterstock

De acordo com o estudo, que foi publicado nesta semana na revista científica Nature Ecology & Evolution, as enormes quantidades de açúcar que os prados de ervas marinhas no fundo do oceano podem liberar sob suas folhas ondulantes resultam em grandes implicações para o armazenamento de carbono e as mudanças climáticas.

“As ervas marinhas produzem açúcar durante a fotossíntese”, explica a microbiologista marinha Nicole Dubilier, do Max Planck. “Em condições médias de luz, essas plantas usam a maioria dos açúcares que produzem para seu próprio metabolismo e crescimento. Mas sob altas condições de luz, por exemplo, ao meio-dia ou durante o verão, as plantas produzem mais açúcar do que podem usar ou armazenar”. 

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Segundo a cientista, o excesso de sacarose produzido pelas plantas vai direto para o solo. “Pense nisso como uma válvula de transbordamento”.

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Micróbios no fundo dos oceanos não conseguem consumir o açúcar liberado pelas plantas

Teoricamente, microrganismos circundantes deveriam consumir o componente rapidamente. No entanto, os cientistas descobriram que as ervas marinhas excretam compostos fenólicos que impedem a maioria dos micróbios de ingeri-lo.

Pesquisador analisando o capim-marinho no fundo do mar. Imagem: Hydra Marine Sciences GmbH

Esses compostos químicos – encontrados no vinho tinto, no café, em frutas e em muitas outras fontes na natureza – são antimicrobianos que inibem e retardam o metabolismo da maioria dos microrganismos.

Para testar sua hipótese, os pesquisadores aplicaram uma técnica chamada espectrometria de massa em um campo real subaquático. “Em nossos experimentos, adicionamos fenólicos isolados das ervas marinhas aos microrganismos na rizosfera”, revelou outra microbiologista marinha do Max Plank, Maggie Sogin. “E, de fato, muito menos sacarose foi consumida em comparação com quando não havia fenólicos presentes”.

Como um pequeno conjunto de microrganismos prosperou na sacarose apesar da presença de fenólicos, os pesquisadores acreditam que esses “especialistas microbianos” estão talvez dando algo em troca para a planta, como nutrientes dos quais ela precisa para crescer.

Também chamadas de capim-marinho, as ervas marinhas são alguns dos mais importantes sumidouros do planeta para o carbono azul, capturado pelos ecossistemas marinhos e costeiros em todo o mundo. Para se ter uma ideia, uma área de capim-marinho pode sugar o dobro de carbono que uma floresta do mesmo tamanho em terra – e de forma 35 vezes mais rápida também.

“Não sabemos tanto sobre capim-marinho quanto sobre habitats terrestres”, disse Maggie em entrevista ao Science Alert. “Nosso estudo contribui para a compreensão de um dos habitats costeiros mais críticos do nosso planeta, e destaca a importância de preservar esses ecossistemas de carbono azul”.

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