A compreensão do que causou a última Era do Gelo – e, por consequência, as camadas de gelo que hoje cobrem muito do Canadá, Sibéria e norte da Europa (Escandinávia) – ainda nos é bastante elusiva. O modelo mais aceito é o de que variações de inclinação no eixo da Terra há 100 mil anos permitiram um esfriamento rápido do hemisfério norte, levando a criação de massas congeladas na época em que mamutes andavam sobre a superfície.

Entretanto, um novo estudo da Universidade do Arizona propõe algumas explicações diferentes, mas matematicamente plausíveis, que podem ajudar a explicar alguns mistérios ainda existentes, como por exemplo a discrepância de temperaturas entre o Canadá e os países escandinavos.

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Apesar de estar localizada no hemisfério norte, cidades como Helsinque, na Finlândia, têm clima mais ameno, em contraste com o imenso gelo frio de outros lugares na mesma posição (Imagem: Grisha Bruev/Shutterstock)

O modelo mais comumente aceito sobre a última Era do Gelo, no entanto, não explica o fato de que o norte do Canadá e países como Finlândia – que estão virtualmente na mesma latitude – têm disparidades tão grandes: na América do Norte, o frio é intenso e abaixo de zero até a chegada do verão, enquanto na Europa, as temperaturas são frias, porém amenas e sempre acima de zero.

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Fisicamente falando, a região escandinava (onde está a Finlândia) deveria ser majoritariamente livre de gelo devido à Corrente Oceânica do Atlântico Norte, que leva água salgada em temperatura ambiente para os seus litorais. Por causa dessas duas situações, a maioria dos modelos climáticos falha em explicar o avanço das imensas geleiras que avançaram sobre a América do Norte e Europa.

“O problema é que nós não sabemos de onde vieram essas camadas de gelo na Escandinávia, nem o que fez com que elas se expandissem em um tempo tão curto”, disse Marcus Lofverstrom, professor assistente de Geociências na universidade.

A fim de resolver esse mistério, Lofverstrom ajudou a criar o que chamou de “Community Earth System Model”, que permitiu que ele e sua equipe recriassem as condições existentes pouco antes da mais recente Era do Gelo (entre 100 mil e 10 mil anos antes do tempo presente, no período Pleistoceno). Neste modelo climático, eles rodaram simulações de congelamento do hemisfério norte, percebendo diversas “passagens oceânicas” no arquipélago canadense que, sempre que abertas, permitiam o resfriamento de toda a parte de cima da Terra, mas somente na região norte do atual Canadá e na Sibéria, em território russo – mas não na Escandinávia.

Em um segundo experimento, os cientistas estabeleceram um parâmetro de obstrução dessas passagens. Nestas condições, as águas mais mornas do Ártico e Pacífico Norte desviaram a leste do que hoje é a Groenlândia, onde massas abissais (nas profundezas do mar) normalmente se formam. Isso levou ao enfraquecimento da circulação fria do Atlântico Norte, à expansão do mar de gelo e, finalmente, a condições mais frias de temperatura na Escandinávia.

“Usando ambas as simulações climáticas e análise sedimentar marinha, nós mostramos que a formação de gelo no norte do Canadá pode obstruir passagens oceânicas e desviar o transporte de água do Ártico em direção ao Atlântico Norte”, disse Lofverstrom, “e isso, por sua vez, leva a uma circulação mais fraca do oceano e condições climáticas mais frias na Escandinávia, o que foi suficiente para que o gelo começasse a aparecer naquela região”.

“Essas conclusões são apoiadas pelos registros de sedimentação marinha no Atlântico Norte, que têm evidências de geleiras no norte do Canadá de vários milhares de anos antes do gelo aparecer na região europeia”, disse Diane Thompson, professora assistente na Universidade do Arizona e co-autora do estudo. “Os registros sedimentares também mostram evidências conclusivas de uma circulação oceânica enfraquecida antes das geleiras se formarem na Escandinávia, igual ao nosso modelo”.

Os dados completos do estudo sobre a última Era do Gelo foram publicados pela revista Nature Geoscience.

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