Você deve lembrar da missão “DART” (ou “Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo”, na sigla em inglês), lançada pela NASA em novembro de 2021 e cujo objetivo é desviar o asteroide Dimorphos de sua trajetória ao – e não usaremos meias palavras aqui – jogar contra ele uma nave espacial e analisar o que acontecer depois do impacto.

Bem, a expectativa da NASA é a de que uma pequena cratera de cerca de 160 metros de diâmetro. Mas um novo estudo, conduzido pela Universidade de Bern, na Suíça, aponta para uma boa probabilidade de algo relativamente diferente acontecer.

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A ideia por trás da missão DART é avaliar as nossas defesas planetárias: há mais de 65 milhões de anos, um asteroide de proporções particularmente grandes bateu contra a Terra, acabando com praticamente todos os dinossauros não aviários e causando uma forte era de gelo no final do chamado Período Cretáceo.

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Nos tempos modernos, não há nenhuma ameaça do tipo, mas na eventualidade de um asteroide desgarrado entrar em rota de colisão com o nosso planeta, nós devemos estar preparados para, literalmente e figurativamente, jogar tudo o que temos para cima dele.

O problema: os cálculos feitos pela NASA consideraram que o asteroide Dimorphos – um objeto de natureza binária (uma pedra menor gira em torno de uma pedra maior) – é uma massa rochosa maciça. Dentro dele, a agência americana acredita que não há espaços, mas sim uma peça completa.

O estudo de Bern, no entanto, aponta para uma outra possibilidade que, se confirmada, pode alterar o resultado da missão grandemente: “ao contrário do que alguém imagina quando pensa em um asteroide, evidências diretas de missões espaciais como a sonda Hayabusa2 [da agência espacial japonesa, ou JAXA] demonstraram que asteroides podem ter uma estrutura interna mais dispersa — similar a uma pilha de escombros — e mantida em proximidade por interações da gravidade e outras forças que agem como ‘adesivo’”, disse a autora primária do estudo, Sabina Raducan.

Segundo ela, o impacto da nossa nave contra o Dimorphos deve acontecer em algum momento de setembro de 2022, mas dependendo da constituição do asteroide duplo, a missão DART pode acabar deformando-o por completo, inclusive desviando-o muito mais fora de curso do que os cálculos pré-lançamento apontavam.

“Uma das razões pelas quais este cenário de uma estrutura interna mais ‘frouxa’ não foi ainda estudado é a de que os métodos necessários ainda não estão totalmente disponíveis”, disse Raducan. “As condições de impacto são impossíveis de serem criadas em laboratório e o processo relativamente longo e complexo de formação de crateras — algumas horas no caso da DART — tornam impossível a condução de uma simulação realista destes processos”.

De acordo com ela, é aí que entra a nova pesquisa: por meio de um novo método de criação de modelos estatísticos, que leva em consideração as ondas de choque, a compactação e subsequente liberação de material, o time de pesquisadores conseguiu recriar o processo de formação de crateras de forma computadorizada, para asteroides de pequeno porte – como o Dimorphos.

A premissa da missão dar um resultado diferente do esperado é importante, haja vista que a agência espacial europeia (ESA) lançará a missão HERA, uma espécie de “segundo ato” da missão DART, na qual serão visualmente investigadas as consequências do impacto da nave. A HERA deve ser lançada em 2024, e Raducan será parte de um workshop envolvendo a sua parametrização.

“Para aproveitarmos o máximo da HERA, temos que ter uma boa compreensão dos resultados potenciais da missão DART”, disse Martin Jutzi, co-autor do estudo. ”O nosso trabalho nas simulações de impacto adiciona um cenário importante, que exige que nós tenhamos uma expectativa mais abrangente. Isso não é apenas relevante no contexto de defesa planetária, mas também uma peça importante no quebra-cabeça da compreensão de asteroides em geral”.

O estudo completo está disponível no Planetary Science Journal.

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