Uma ação apresentada nos EUA na última quinta-feira (21) alega que o sistema judiciário de Chicago usou indevidamente tecnologia de Inteligência Artificial (IA) para detecção de tiros “não confiável”, e que a polícia não seguiu outras pistas na investigação de um idoso do município que foi acusado de matar um vizinho.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, os promotores usaram um áudio captado por uma rede de sensores instalados pela empresa de detecção de tiros ShotSpotter como única evidência ao acusar Michael Williams de supostamente atirar no homem de dentro de seu carro, crime ocorrido em 2020. Ele passou quase um ano detido.

Centro de análise de incidentes da empresa de monitoramento e segurança policial Shotspotter. Imagem: Shotspotter

A ação movida por Williams e pelo grupo de defesa dos direitos humanos MacArthur Justice Center, da faculdade de direito da Universidade Northwestern, pede indenização da cidade por angústia mental, perda de renda e contas legais para o senhor de 65 anos, que disse que ainda sofre de um tremor na mão que se desenvolveu enquanto estava preso. 

“Mesmo que agora eu seja considerado livre, acho que nunca estarei livre do pensamento do que eles fizeram e do impacto que isso tem em mim agora, como o tremor com a mão”, disse Williams. “Eu constantemente volto a pensar naquele lugar. Simplesmente, não consigo me acalmar”.

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Locais de instalação dos sensores de Inteligência Artificial levanta suspeita de racismo

A ShotSpotter não é citada como ré no documento de 103 páginas, embora o processo argumente que a tecnologia alimentada por algoritmos da empresa seja falha. O processo também alega que a decisão da cidade de colocar a maioria de seus sensores de detecção de tiros em bairros predominantemente negros e latinos é racialmente discriminatória.

Questionado sobre o comentário, o departamento de direito da cidade, que representa a polícia nesses casos, disse que ainda não havia sido intimado sobre a denúncia.

A polícia da terceira maior cidade dos EUA já elogiou o sistema ShotSpotter, dizendo que ele coloca os policiais na cena dos tiroteios muito mais rápido do que quando se espera que alguém ligue para o 911 (equivalente ao 190 do Brasil). Também informou que os índices de criminalidade – não a etnia dos moradores – é que determinam onde a tecnologia é implantada.

Em comunicado, a ShotSpotter disse que as provas coletadas e suas testemunhas especializadas foram admitidas em 200 processos judiciais de 20 estados, sobrevivendo a dezenas de desafios probatórios.

A empresa descreveu seu sistema como “altamente seguro, com uma taxa de precisão agregada de 97% para detecções em tempo real de todos os clientes” e que a eficácia da tecnologia havia sido testada por uma instituição de análise tecnológica.

Segundo seu site, a ShotSpotter é “líder em soluções tecnológicas de policiamento de precisão, que ajudam a parar a violência armada usando sensores, algoritmos e Inteligência Artificial para classificar 14 milhões de sons em seu banco de dados proprietário como tiros ou outra coisa”.

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O processo diz que os investigadores “colocaram fé cega nas evidências do ShotSpotter que sabiam ou deveriam saber que não eram confiáveis” para acusar Williams de matar Safarian Herring, de 25 anos. Os autos alegam que os investigadores usaram o material de uma maneira que foi além do uso pretendido.

A polícia e os promotores nunca estabeleceram um motivo para Williams ter atirado em Herring, nunca encontrou testemunhas do tiroteio e nunca encontrou uma arma ou evidência física que envolveria Williams ao assassinato, alega o processo.

“Os oficiais acusados se envolveram na visão do túnel para atingir o Sr. Williams, prendendo-o por assassinato em primeiro grau, sem causa provável”, diz o processo.

Se houver ganho de causa para Williams, Chicago pode ter que parar todas as atividades do ShotSpotter, tornando o caso um ponto de inflexão na implantação do policiamento assistido por IA.

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