Dia de festa para a NASA! Há exatos 10 anos, às 2h33 (pelo horário de Brasília) do dia 5 de agosto de 2012, a agência pousava em Marte a missão Mars Science Laboratory (MSL), uma sonda espacial que levava em seu interior o rover Curiosity, um jipe robô projetado para explorar o Planeta Vermelho.

Rover Curiosity
Há 10 anos, o rover Curiosity pousava em Marte, dando início a uma incrível jornada de descobertas. Imagem: NASA/Divulgação

Sua missão foi originalmente programada para durar um ano marciano, o equivalente a pouco menos de dois anos terrestres, mas sua longevidade superou (e muito) as expectativas. Ele já percorreu mais de 28 km, captou mais de 494 mil imagens, perfurou 35 rochas e coletou seis amostras de solo que nos deram informações valiosas sobre a geologia e a história de Marte, além de ter servido como base de dados para cerca de 880 artigos científicos.

Com 2,2 m de altura, 2,7m de largura, 3 m de comprimento e pesando em torno de 900 kg, o rover Curiosity tem uma vida útil limitada apenas pela durabilidade de seus componentes mecânicos, que estão em bom estado, e sua fonte de energia, um Gerador Termelétrico Radioisótopo (RTG), que funciona à base de plutônio. Não havendo uma falha mecânica mais grave, o veículo deve continuar explorando Marte por pelo menos mais quatro anos, segundo o blog oficial da missão, no site da NASA, que anunciou 2026 como o ano final da missão.

Até lá, ele ainda promete muita ciência e – para fazer jus ao nome – trazer muitas “curiosidades” sobre o nosso cobiçado vizinho, utilizando seus 11 instrumentos cinetíficos. Como essas que o Olhar Digital reuniu para comemorar os 10 anos de estudos do rover em solo marciano. Confira abaixo.

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Confira 10 curiosidades sobre Marte reveladas pelo rover Curiosity

1- Água na Cratera Gale

Um dos principais legados que o Curiosity vai deixar para a posteridade é a descoberta de que a Cratera Gale, seu local de pouso de 154 km de largura, já abrigou um sistema de lagos e riachos num passado muito distante.

Cratera Gale em Marte
Imagem da Cratera Gale, em Marte, onde o Curiosity pousou em 2012. Imagem: Divulgação/NASA/JPL

Em dados coletados pelo rover, pesquisadores descobriram o boro, um elemento químico que pode estabilizar os açúcares usados para produzir RNA. Curiosity também coletou amostras ricas em carbono-12. Na Terra, os organismos usam preferencialmente carbono-12 para seus processos metabólicos, então o enriquecimento de amostras de rochas antigas com esse isótopo é geralmente interpretado como um sinal de química biótica.

Em resumo: com base nos dados do Curiosity, cientistas da NASA propuseram que essa parte de Marte pode ter sido habitada entre 5 milhões e 10 milhões de anos terrestres atrás.

2- Detecção de metano

Partículas de metano apareceram pelo menos seis vezes nos sistemas de detecção do rover desde que ele pousou em Marte. Os cientistas se mostraram bastante animados com a descoberta, já que quase todo o metano presente na atmosfera da Terra tem origens biológicas. Segundo os pesquisadores, essa assinatura de metano pode ser uma chave para o encontro de sinais de vida em Marte.

No entanto, é possível que o metano marciano seja produzido por processos não biológicos, mas mesmo esse cenário é animador, já que pode apontar para uma atividade geológica intimamente ligada à presença de água em estado líquido, que é um ingrediente essencial para a vida prosperar – seja ela fóssil ou atual.

3- Maior foto panorâmica do Planeta Vermelho

Exímio fotógrafo, o rover Curiosity fez a maior foto panorâmica da paisagem marciana até hoje. A composição de mais de mil imagens tiradas em novembro de 2019 tem 1,8 bilhão de pixels e 2,43 GB de tamanho, que mostra “Glen Torridon”, uma região ao lado do Monte Sharp. 

Segundo a NASA, foram necessárias mais de 6,5 horas diárias, ao longo dos quatro dias, para que o veículo capturasse as fotos individuais que compuseram a imagem.

Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS

4- Escalada mais íngreme de sua trajetória 

Em março de 2020, o rover Curiosity fez a escalada mais íngreme de sua trajetória em Marte, subindo o Greenheugh Pediment, uma encosta com ângulo de 31 graus. Como foi projetado para enfrentar até 45 graus de inclinação, ele não corria o risco de cair durante o percurso.

E o que você faria se estivesse no lugar do explorador? Em plena era das redes sociais, aposto que sua resposta é: uma selfie! E foi exatamente isso que ele fez, registrando o momento que entrou para não só para sua história como para os anais de toda a exploração marciana.

5- Transição climática

Em algum momento de sua história, Marte deixou de ser um ambiente úmido e propenso à vida, passando a se tornar um lugar seco e hostil. 

E o rover Curiosity pode ter encontrado indícios do que pode ter motivado essa transição climática. “Nós dedicamos os últimos anos à investigação de rochas ricas em argila que se formaram em lagos e lagoas”, disse a cientista adjunta do Curiosity, Abigail Fraeman, em um vídeo publicado pela NASA no ano passado. “Só que agora estamos entrando em uma região onde as rochas são cheias de minerais salgados chamados ‘sulfatos’. Esses minerais se formam em condições mais secas, então achamos que essa área pode nos mostrar como o clima de Marte começou a mudar”, explicou a pesquisadora, referindo-se ao Monte Sharp.

6- Nuvens em movimento e a geração de energia eólica

No fim do ano passado, o rover Curiosity capturou lindas imagens da atmosfera marciana: nuvens à deriva que passavam sobre seu local de exploração no Monte Sharp (Aeolis Mons). O registro tem como objetivo medir a velocidade dessas nuvens.

De acordo com o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, isso não foi nada fácil, já que as câmeras do veículo não foram projetadas para olhar para o céu, e sim para fazer imagens de rochas no solo de Marte e características da paisagem em sua jornada para buscar antigos sinais de habitabilidade.

O rover Curiosity, da Nasa, captou essas imagens de nuvens no céu de Marte em 12 de dezembro de 2021. Imagem: NASA/JPL-Caltech

“Essas nuvens são muito altas, quase 80 km acima da superfície. É extremamente frio nessa altura, o que sugere que essas nuvens são compostas de gelo de dióxido de carbono em oposição às nuvens de gelo de água, que normalmente são encontradas em altitudes mais baixas”, afirmou um comunicado emitido pelo JPL.

A velocidade com que as nuvens estavam se movendo não foi revelada, mas as velocidades típicas do vento perto da superfície de Marte variam entre 7 km/h e 35 km/h, o que pode ser rápido o suficiente para fornecer energia eólica no nosso vizinho.

7- Uma porta para o passado

Entre as quase 500 mil imagens registradas até agora pelo Curiosity durante sua missão em Marte, chamam muita atenção aquelas que mostram as formações rochosas mais bizarras do planeta.

Uma delas, deu o que falar nas redes sociais há pouco mais de dois meses: a foto do que parecia ser uma porta no meio da paisagem marciana. Enquanto muitos especularam que poderia ser um portal alienígena ou o acesso a um túnel que levaria ao centro do planeta, a verdade é que é tudo uma questão de perspectiva.

“Claro, pode parecer uma pequena porta, mas, na verdade, é uma característica geológica natural! Pode apenas parecer uma porta porque sua mente está tentando dar sentido ao desconhecido. (Isso é chamado de ‘pareidolia’)”, explicou a conta oficial do Curiosity no Twitter.

O perfil aproveitou para fazer um trocadilho sobre o estudo da história do planeta. “Em um sentido menos literal, minha equipe científica está interessada nessas rochas como uma ‘porta para o passado antigo’. Enquanto subo esta montanha [o Monte Sharp], vejo níveis mais altos de argila dando lugar a minerais salgados chamados sulfatos – pistas de como a água secou em Marte há bilhões de anos”.

8- Mineral raro indica atividade vulcânica mais recente do que se pensava

Em julho de 2015, o rover Curiosity encontrou um quartzo mineral raro na região da Cratera Gale. Recentemente, a descoberta foi finalmente explicada pela NASA, após uma intensa investigação. Cientistas acreditam que o pedaço concentrado de tridímita foi expelido por um vulcão e caiu na cratera há cerca de 1 bilhão de anos, quando ela ainda estava cheia de água.

Extremamente raro na Terra, a tridímita é um tipo de quartzo – uma forma de sílica – gerado sob temperaturas extremas e baixas pressões, e como ele teria chegado no leito do antigo lago é algo que tem incomodado pesquisadores ao longo dos últimos sete anos.

O rover Curiosity, da NASA fez este buraco para coletar material amostral de um alvo rochoso chamado “Buckskin”, em 30 de julho de 2015, quando encontrou um mineral extremamente raro chamado tridímita. Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS

“A descoberta de tridímita em uma rocha de lama na Cratera Gale é uma das observações mais surpreendentes que o rover Curiosity fez em 10 anos explorando Marte”, disse Kirsten Siebach, professora da Universidade Rice e uma das responsáveis pelas análises, em um comunicado. “Esse mineral é geralmente associado com sistemas vulcânicos formados por quartzo, explosivos e evoluídos na Terra, mas o encontramos no fundo de um antigo lago em Marte, onde a maioria dos vulcões são muito primitivos”.

Segundo a agência, a descoberta sugere que o magma marciano permaneceu por mais tempo do que o normal em uma câmara abaixo de um vulcão, permitindo uma cristalização fracionada e proporcionando a concentração de silício da lava.

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9- Escudo natural contra radiação

Durante uma década de exploração, o Curiosity descobriu muito mais do que se buscava. “Um dos tipos de ciência que não é muito mencionada, mas é realmente importante e muito interessante, é a ciência ambiental que temos feito”, disse Fraeman.

Segundo o site Space.com, o rover tem detectores de radiação e sensores ambientais e atmosféricos que têm sido bem utilizados em Marte. Por exemplo, ao longo de suas andanças, conforme ele se aproximava de formações geológicas como falésias e colinas, seus instrumentos detectaram que as rochas impediam a radiação de alcançá-lo. “Agora podemos usar isso como modelo para futuros astronautas, que talvez possam usar o terreno natural como escudo”.

10- Companheiros de aventura

Esta última curiosidade não é sobre nenhuma descoberta do Curiosity em Marte, mas sim sobre o próprio rover: ele sempre contou com companheiros de aventura.

Durante sete anos, teve a companhia do Opportunity, um rover da NASA que pousou em Marte em 2004 e ficou ativo até meados de 2018. Depois de um curto período de “solidão”, o aniversariante do dia ganhou a companhia do lander InSight, que pousou na Elysium Planitia em novembro de 2018 com a missão de estudar o interior do planeta.

Em fevereiro de 2021, chegaram o rover Perseverance e o helicóptero Ingenuity, e, em maio, o rover chinês Zhurong. Em breve, ele poderá ter também a companhia do rover europeu Rosalind Franklin (também conhecido como ExoMars), que deveria ter decolado este ano em um foguete russo. Os planos precisaram ser abortados depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, e ainda não se sabe quando (nem como) ele será lançado.

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