Até hoje, não se tem notícia de nenhum outro planeta no Sistema Solar (nem fora dele) que tenha continentes, além da Terra. Exatamente como eles se formaram e evoluíram não está claro, mas sabemos que, há muito tempo, eles se concentravam em um único grande supercontinente – a Pangeia. 

Algo aconteceu para que essa massa de terra se espalhasse pelo globo, e as teorias em torno desse processo são muitas. Novas evidências sugerem que impactos de meteoritos gigantes desempenharam um papel significativo nisso, e um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (10) descreve esses indicativos.

No Cráton Pilbara, localizado na Austrália, pedaço mais antigo e mais preservado da crosta terrestre, pesquisadores encontraram amostras minerais de mais de um bilhão de anos, que comprovam impactos de meteoritos gigantes. Imagem: capturethisphotography – IstockPhoto

De acordo com essa pesquisa, conduzida por uma equipe formada por cientistas da Austrália e dos EUA, a pista está em cristais de zircônio mineral escavados de um desfiladeiro na Austrália Ocidental, um pedaço da crosta terrestre que se manteve estável por mais de um bilhão de anos conhecido como Cráton Pilbara.

Esse é o pedaço de crosta mais bem preservado do planeta, e os cristais de zircônio ali existentes contêm sinais de impactos de meteoritos anteriores à separação da Pangeia.

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“Estudar a composição de isótopos de oxigênio nesses cristais de zircônio revelou um processo ‘de cima para baixo’ começando com o derretimento de rochas perto da superfície e progredindo mais fundo, consistente com o efeito geológico dos impactos de meteoritos gigantes”, explicou o geólogo Tim Johnson, da Universidade de Curtin, Austrália. “Nossa pesquisa fornece a primeira evidência sólida de que os processos que formaram os continentes começaram com impactos de meteoritos gigantes, semelhantes aos responsáveis pela extinção dos dinossauros, mas que ocorreram bilhões de anos antes”.

Segundo Johnson, o trabalho foi realizado em 26 amostras de rocha contendo fragmentos de zircônio, datando entre 3,6 e 2,9 bilhões de anos. Nelas, a equipe de pesquisa analisou cuidadosamente isótopos de oxigênio – especificamente, as proporções de oxigênio-18 e oxigênio-16, que têm 10 e 8 nêutrons, respectivamente. Essas proporções são usadas na paleogeologia para determinar a temperatura de formação da rocha em que os isótopos são encontrados.

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Com base nessas proporções, a equipe conseguiu distinguir três estágios distintos e fundamentais na formação e evolução do Cráton Pilbara. 

O primeiro estágio corresponde à formação de uma grande quantidade de zircônio consistente com o derretimento parcial da crosta, que foi provavelmente resultado de bombardeios de meteoritos que a aqueceram. De acordo com o estudo, o mais antigo aglomerado desses zircônios resultou de um único impacto gigante, que levou à formação do cráton.

A segunda etapa foi um período de retrabalho e estabilização do núcleo crosta, seguido pelo terceiro estágio, um período de derretimento e formação de granito. Esse núcleo estabilizado, então, muito mais tarde, evoluiria para se tornar os continentes atuais, assim como os crátons encontrados em outros continentes ao redor do mundo.

Para tornar as evidências ainda mais fortes, a equipe precisará comparar seus resultados com mais amostras de outros crátons, verificando se seu modelo é globalmente consistente.

“Dados relacionados a outras áreas da antiga crosta continental na Terra parecem mostrar padrões semelhantes aos reconhecidos na Austrália Ocidental”, disse Johnson. “Gostaríamos de testar nossas descobertas sobre essas rochas antigas para ver se, como suspeitamos, nosso modelo é mais amplamente aplicável”.

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