Poderia responder ao questionamento do título lembrando que os tokens não fungíveis, conhecidos pela sigla NFT, são derivados da popularização do blockchain e, como tal, se tornaram símbolos de segurança, agilidade e transparência para pessoas e empresas. Contudo, essa resposta, ainda que verídica, abordaria pouco do potencial e das oportunidades geradas por este novo modelo de negócio que ganha espaço a cada dia em todo o mundo.

Essa modalidade de tokens ganhou espaço considerável ao longo do último ano – a ponto de fazer o craque Neymar desembolsar incríveis R$ 6 milhões por três artes virtuais no formato NFT em janeiro de 2022. Muito dinheiro, não há dúvida disso. Porém, mais do que sua importância financeira, é justamente a capacidade de estruturar transações digitais que faz com que esse recurso esteja em evidência atualmente.

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Ainda que esse segmento tenha passado por um desaquecimento no fim do primeiro semestre, os números são impressionantes. Apenas nos seis primeiros meses do ano os NFTs movimentaram US$ 30 bilhões em 2022 – um valor bem próximo do recorde registrado em 2021, com US$ 40 bilhões em todo o ano, segundo levantamento da Chainalysis. Ou seja, três quartos do ano anterior em apenas metade do ano.

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Aqui no Brasil, por exemplo, mais de cinco milhões de pessoas possuem ao menos um tipo de NFT – o que equivale a 2,33% da população nacional, segundo pesquisa da Statista. O indicador pode parecer baixo, mas o país está à frente de potências digitais, como Estados Unidos, China, Canadá e Alemanha. A criação de jogos que recompensam os participantes com este recurso ajudaria a explicar esse cenário.

Para entender porque os NFTs ocupam o centro das atenções na tecnologia, primeiro é preciso entender o que significa de fato. O conceito de token não fungível diz respeito a itens considerados únicos e exclusivos. Ou seja, arquivos digitais que carregam algo considerado original e passível de despertar interessar de colecionadores e/ou compradores. Vídeos, fotos, música, áudio, entre outros recursos, podem ser transformados neste tipo de tokens protegidos pela criptografia inerente ao blockchain.

Porém, mais do que digitalizar e criptografar diversos itens, os NFTs funcionam como uma espécie de autenticador. Isto é, um recurso que referenda que um determinado token carrega algo considerado único e exclusivo, como uma obra de arte. A grosso modo, é como o reconhecimento de casas de artes em quadros famosos – o que cria uma escassez e, portanto, faz o preço subir ou cair de acordo com a demanda.

Essa possibilidade, evidentemente, chamou a atenção de diversos artistas e celebridades que podem criar diversos conteúdos considerados únicos e disponibilizá-los por meio de tokens não fungíveis para levantar recursos financeiros. De uma hora para outra, diversos profissionais passaram a apostar nesse movimento integrante da tokenização.

Mas a grande jogada de mestre dos NFTs, por assim dizer, não é a disponibilidade de arquivos únicos e originais por meio dos tokens, mas a ferramenta de smart contract inerente a cada

transação. Esse documento funciona como uma espécie de contrato, que vai determinar quais as regras daquele criptoativo específico, seu conteúdo e demais normas de uso que protegem o direito à propriedade. Em suma: é o carimbo que garante que tal token atende todos os requisitos combinados previamente com os compradores.

Trazendo essa lógica para as empresas e consumidores, fica fácil de entender porque os NFTs passaram a ocupar o centro da estratégia digital no ambiente corporativo. Uma companhia pode transformar um bem ou serviço nesse formato e criar regras de uso para quem for adquiri-lo. Tudo isso sem qualquer burocracia, com transparência (ideal para atender regras de compliance), agilidade e eficiência – além, é claro, de reduzir custos ao eliminar eventuais intermediários que poderiam existir nesse tipo de transação. É de uma ponta a outra, de forma direta.

Olhando assim, é uma dinâmica semelhante ao do Bitcoin e outras criptomoedas famosas e dos próprios tokens de utilidade e de segurança. De fato, como todos compartilham o mesmo conceito de criptografia com o blockchain, eles terão similaridades importantes que podem ser lembradas pelos usuários. Mas é justamente nisso que decorre a principal vantagem – e o principal risco – dos tokens não fungíveis.

Sim, essa modalidade compartilha muitas das características dos demais criptoativos e possuem um funcionamento até simples, tornando-se uma espécie de porta de entrada das organizações para essa proposta – que, inclusive, é a base da ideia do Metaverso. Entretanto, diferentemente do Bitcoin, o NFT não pode ser visto como um ativo de investimento puro e simples. É claro que, diante da variação do preço, há pessoas que podem ganhar muito dinheiro com a revenda. Mas é preciso deixar claro que esse nunca foi o objetivo. Os tokens não fungíveis são ativos de pertencimento, ou seja, a pessoa investe para ficar com aquele item – e não pensando em uma possível revenda no futuro.

Para muitas pessoas, compreender o funcionamento de um NFT ainda é algo surreal – para não dizer irreal. É compreensível porque trata-se realmente de uma ruptura importante na forma como enxergamos bens e serviços. Até então, tínhamos a moeda como uma ferramenta de troca para adquirir bens e serviços palpáveis, ou seja, que poderiam ser percebidos no dia a dia. Com este tipo de token, a situação se inverteu. A moeda, o arquivo e a própria regulamentação de uso são todos digitais. Se você ainda não está acostumado, é melhor correr, porque no futuro a tendência é o NFT dominar grande parte de nossas vidas.

*Alessandra Montini é diretora do LabData, da FIA

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