Um novo estudo, publicado na Planetary Science Journal, sugere que ao menos um objeto interestelar possivelmente chocou-se e caiu na lua com o passar das eras. Ainda assim, os pesquisadores esperam ser muito difícil de se achar evidências. A teoria foi sugerida pelos cientistas a partir de simulações e estatísticas.

“Dado o número de objetos interestelares que esperamos achar no sistema solar, há provavelmente umas poucas crateras que foram formadas por objetos em alta velocidade por todo o sistema solar, sendo que há, provavelmente, uma ou duas na lua”, atestou ao Space.com o autor da pesquisa, Sam Cabot, candidato a Ph.D. pela Universidade de Yale, nos EUA.

Leia mais:

Ou seja, o desafio para os pesquisadores será o de encontrar tal cratera na lua, supondo-se que realmente haja somente uma ou duas com tais destroços, dentre várias que existem no satélite natural da Terra.

publicidade

O que são objetos interestelares?

Objetos interestelares (ou ISOs, em inglês) são cometas ou asteroides que se originaram além das fronteiras de nosso sistema solar. Porém, até hoje, somente dois foram confirmados: ‘Oumuamua e Borisov.

O novo estudo sugere que pode ser possível descobrir mais acerca da composição destes objetos se for possível rastrear uma cratera na lua formada pelo impacto interestelar.

Décadas de observação realizadas especialmente pelo Orbitador de Reconhecimento Lunar (Lunar Recognizer Orbiter – LRO) da NASA forneceram mapas em alta definição que a NASA utilizará no programa Artemis. Tais mapas, segundo os pesquisadores, podem fornecer informações valiosas sobre as crateras tão visadas.

Mapa da lua será usada na Artemis e poderá ajudar na “caça” às crateras (Imagem: NASA/Arizona State University)

Contudo, os mapas fornecem pouca informação espectroscópica sobre a composição das crateras. Enquanto algumas análises podem ser feitas pela órbita, os autores do estudo dizem que, provavelmente, será necessária uma análise local para determinar com precisão.

Prever o que os astronautas podem encontrar será difícil, disse Cabot, já que os dois ISOs já vistos são bem diferentes um do outro. Borisov é o mais semelhante a outros objetos do sistema solar que conhecemos. No entanto, os astrônomos ficaram surpresos com a quantidade de monóxido de carbono presente em sua composição, disse o pesquisador.

‘Oumuamua é ainda mais enigmático, porque não há “teoria satisfatória” que explique completamente sua composição. Algo estava liberando gases da superfície de ‘Oumuamua e fazendo com que ele acelerasse ao deixar nosso sistema solar para o espaço interestelar, explicou Cabot.

“O dilema”, continuou, “é que nós da comunidade observamos com telescópios espaciais, procurando os gases típicos que você espera que sejam vaporizados da superfície que estão em objetos astronômicos. Nenhum deles foi detectado com confiança”.

ISOs têm velocidade superior por não estarem atrelados à orbita do sol

Como os astrônomos não conseguiram encontrar produtos típicos de liberação de gases, como água, estão pensando que o objeto tem tipos únicos de voláteis em sua superfície, disse Cabot (os voláteis são elementos químicos e compostos que vaporizam com relativa facilidade). Para descobrir melhor do que são feitos os ISOs, a lua pode apresentar um local para reunir evidências concretas, acrescentou.

O que pode ajudar na pesquisa dessas crateras é o programa Artemis, pois os humanos poderão procurar as fontes de crateras dentro de sua área de pouso. O desafio, no entanto, é que não há como prever exatamente onde um ISO pode ter chegado.

Além disso, as excursões humanas serão limitadas. Por enquanto, ao polo sul da lua. No entanto, disse Cabot, as missões humanas “nos dão muitas oportunidades para a caracterização do regolito, (significando) descobrir a composição do solo lunar e tentar responder a perguntas sobre o sistema solar primitivo”.

O pouco que se sabe sobre ISOs sugere forte hipótese de como essas crateras podem ser diferentes, disse o cientista. ISOs tendem a viajar em velocidades mais altas em comparação com outros objetos dentro do sistema solar.

Isso porque os objetos que estão ligados ao sol têm espécie de “limite de velocidade” por serem confinados pela gravidade do sol. “ISOs, que fluem livremente por toda a galáxia, podem entrar no sistema solar em velocidades muito mais altas”, disse Cabot. “Essa foi a premissa do nosso artigo: Investigar assinaturas reveladoras de impactos de velocidade extremamente alta.”

Os astrônomos escolheram a velocidade de corte de 360 mil km/h porque é extremamente raro que objetos do sistema solar atinjam algo próximo a essa velocidade. Os autores sugerem que os sinais de derretimento no local do impacto podem ser maiores nessa velocidade aumentada, embora a composição do derretimento dependa da composição da rocha na área.

Borisov é um dos dois ISOs conhecidos (Imagem: Droneandy/Shutterstock)

O que é necessário em seguida, apontou o autor líder do artigo, é “caracterização generalizada do regolito lunar, que é algo que esperamos ver com a Artemis”. A dificuldade, continuou, é que os astronautas e seus equipamentos precisarão descobrir como processar grandes volumes de regolito da lua para fazer comparação significativa com o que um ISO pode conter.

Algumas das futuras missões de pouso robótico da NASA podem servir como test-drive para processamento de regolito em larga escala. A NASA tem programa chamado Commercial Lunar Payload Services (CLPS, ou Serviços Lunares de Carga Útil Comercial), que busca colocar aterrissadores e cargas úteis na Lua em apoio às missões Artemis.

Uma seleção dessas cargas úteis pode processar o regolito como objetivo secundário de outras explorações científicas, afirmou Cabot.

Enquanto isso, os autores, juntamente com o resto da comunidade astronômica, ainda estão em busca de outras ISOs por meio de telescópios poderosos de campo amplo, a ter um impulso em um futuro próximo, quando instrumentos, como o Observatório Vera C. Rubin entrarem em operação.

Com informações de Space.com

Imagem destacada: Rodrigo Mozelli/Olhar Digital

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!