Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que apenas duas a cada cinco crianças brasileiras estão protegidas em 2022 contra a poliomielite, doença que causa a paralisia infantil. Especialistas alertam sobre a importância da vacinação há algum tempo, além de apontarem para o alto risco de retorno do vírus.

“A doença é incapacitante, pode trazer sequelas para as crianças para o resto da vida. Então a possibilidade da volta desse vírus, que é real, traz um impacto gigante para a sociedade. Os especialistas estão muito preocupados porque as pessoas esqueceram como essa realidade era. Seria o retorno de uma doença devastadora, principalmente para a população infantil, um retrocesso imenso. Os pais precisam proteger seus filhos, a vacina está aí, disponível nos postos de saúde”, disse Patrícia Boccolini, doutora em saúde coletiva e coordenadora do Observa Infância (projeto da Fiocruz), ao O Globo

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Imagem ilustrativa exame poliomielite: shutterstock

O tema poliomielite voltou a ser uma pauta fortemente discutida após pesquisas indicarem uma baixa adesão às vacinas oferecidas contra a doença. O ano de 2021, por exemplo, registrou a pior cobertura vacinal desde 2012. 

Dados da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite deste ano, que inclusive foi prorrogada até 30 de setembro devido à baixa adesão, mostrou que nem metade das crianças foram vacinadas até sexta-feira (9) – dia que seria o último da campanha, antes de ser prorrogada. O levantamento do Ministério da Saúde mostrou, na época, que apenas 34,4% do público-alvo – crianças entre seis meses e 4 anos – havia sido imunizado, com 3,9 milhões de doses aplicadas. 

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Mesmo com a prorrogação, no entanto, a porcentagem ainda não alcança a meta do Ministério, que era de vacinar ao menos 95% das 11,5 milhões de crianças. Até a última sexta-feira (16), apenas 44% das crianças entre um e quatro anos receberam o reforço da vacina. 

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Poliomielite no Brasil 

O Brasil é considerado um país livre da pólio desde 1994, mas com a baixa adesão vacinal os riscos de volta da doença aumentaram, especialmente após o registro de novos casos no exterior, como nos Estados Unidos, que registrou o primeiro caso de poliomielite em dez anos em julho deste ano. 

Em 2020, o relatório da Comissão Regional para a Certificação (RCC) da Erradicação da Poliomielite nas Américas (Opas/OMS) mostrou preocupação com a possibilidade de reintrodução do patógeno no Brasil e decidiu o colocar na lista de alto risco para a doença, ao lado de Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela. 

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Ainda segundo reportagem do O Globo, dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) indicam que a última vez que o Brasil alcançou a meta de cobertura contra a pólio foi em 2015. Desde 2018, a marca de 80% não é ultrapassada, o que também indica que, embora a pandemia de Covid-19 tenha colaborado para o baixo número de vacinados, a queda começou antes do surto de coronavírus. 

criança vacina agÊncia brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Esse é um problema do mundo inteiro. A cobertura vacinal tem caído. Durante a pandemia essa queda foi mais acentuada em face da tragédia sanitária decorrente da pandemia da covid-19. A estratégia que nós usamos é essa: é conversar com a população brasileira e esclarecer sobre a importância das vacinas do nosso calendário de vacinação, sobretudo para as crianças”, disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à época do lançamento da campanha de vacinação em agosto. 

O esquema de imunização contra a poliomielite é composto de cinco doses: as três primeiras com a vacina injetável de vírus inativada aos 2, 4 e 6 meses de idade. Depois, há dois reforços com a famosa gotinha, administradas com 1 e 4 anos. O estudo da Fiocruz também mostrou que dois a cada três municípios brasileiros não atingiram a meta de vacinação.

Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados na primeira semana de setembro, os estados que conseguiram vacinar mais da metade da população-alvo são apenas dois: Alagoas (50,8%) e Sergipe (50.5%). Na sequência vem Santa Catarina (47,6%) e Paraíba (46.6%). Já entre os estados que menos vacinaram crianças contra a poliomielite estão Roraima (12,8%), Acre (17%) e o Rio de Janeiro (17,1%). 

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