Acredita-se que as bananas foram domesticadas pela primeira vez há cerca de sete mil anos em Nova Guiné, uma ilha no sudoeste do Oceano Pacífico. No entanto, o histórico da fruta é complicado, e sua classificação é muito discutida, uma vez que as fronteiras entre espécies e subespécies são muitas vezes incertas.

Um estudo publicado nesta sexta-feira (7) na revista Frontiers in Plant Science determina que o genoma das variedades domesticadas de hoje contém traços de três ancestrais, ainda desconhecidos.

Mapa da Ilha da Nova Guiné e exemplos de espécimes de M. acuminata ssp. banksii. Crédito: Julie Sardos et. al.

“Aqui mostramos que a maioria das bananas diploides cultivadas hoje que descendem da banana selvagem Musa acuminata são híbridos entre diferentes subespécies”, revelou Julie Sardos, cientista da Aliança Internacional da Bioversidade (CIAT) em Montpellier, na França, primeira autora do estudo. “Pelo menos três ‘ancestrais misteriosos’ extras devem ter contribuído para esse genoma misto há milhares de anos, mas ainda não foram identificados”.

História complexa de domesticação

As bananas domesticadas (exceto as da espécie Musa troglodytarum L, conhecidas como bananas Fe’i) descendem de um aglomerado de quatro ancestrais da banana selvagem M. acuminata, subespécies distintas, mas intimamente relacionadas. 

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Estudos apontam que a banana M. acuminata parece ter evoluído nas fronteiras entre a Índia e Mianmar, encontrando-se ao longo da Austrásia aproximadamente 10 mil anos antes de ser domesticada pela primeira vez. 

A banana M. acuminata parece ter evoluído nas fronteiras entre a Índia e Mianmar, aproximadamente 10 mil anos antes de ser domesticada pela primeira vez. Créditos: Mapa: WebbiMemo – Shutterstock / Montagem: Olhar Digital

As variedades domesticadas podem ter duas, três ou quatro cópias de cada cromossomo (o que as classifica, respectivamente, como diploides, triploides e tetraploides), e algumas são descendentes da espécie selvagem M. balbisiana.

Algumas abordagens anteriores sugeriram que esse cenário, já complexo, pode não contar toda a história, e que outros ancestrais relacionados à M. acuminata poderiam estar envolvidos na domesticação. 

Conforme destaca o site Phys, os novos resultados não só confirmam que este é realmente o caso, como também mostram, pela primeira vez, que essas heranças genéticas são comuns em genomas de banana domesticadas.

Como a pesquisa foi feita

Os autores sequenciaram o DNA de 226 extratos de folhas da maior coleção de amostras de banana do mundo na CIAT e no Centro Internacional de Germoplasma Musa, na Bélgica.

Entre as amostras, 68 pertenciam a nove subespécies selvagens de M. acuminata, 154 a variedades de diploides domesticadas descendentes de M. acuminata, e quatro espécies selvagens e híbridos mais distantes para comparações.

Primeiramente, os pesquisadores mediram os níveis de parentesco entre bananas cultivadas e selvagens e criaram “árvores genealógicas” com base na diversidade em 39.031 Polimorfismos de Nucleotídeos Únicos (SNPs). 

Eles usaram um desses subconjuntos — distribuídos uniformemente pelo genoma, com cada par demarcando um bloco de aproximadamente 100 mil “letras de DNA” — para analisar estatisticamente a ancestralidade de cada bloco. 

Como resultado, foram detectados traços de mais três ancestrais no genoma de todas as amostras domesticadas, para as quais ainda não se sabe correspondências da natureza.

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Segundo o estudo, os ancestrais misteriosos podem ter sido extintos há muito tempo. “Mas nossa convicção pessoal é que eles ainda estão vivendo em algum lugar na natureza, ou mal descritos pela ciência ou não descritos, nesse caso eles provavelmente estão ameaçados”, disse Julie.

A pesquisadora e sua equipe têm uma boa noção de onde procurá-los. “Nossas comparações genéticas mostram que o primeiro desses ancestrais misteriosos deve ter vindo da região entre o Golfo da Tailândia e o oeste do Mar do Sul da China. O segundo, da região entre o norte de Bornéu e as Filipinas. E o terceiro, da ilha de Nova Guiné”.

Descoberta poderia ajudar a criar bananas melhores

Ainda não se sabe quais características úteis esses ancestrais misteriosos podem ter transmitido para bananas domesticadas. Por exemplo, acredita-se que o traço crucial da partenocarpia, o ajuste de frutas sem a necessidade de polinização, tenha sido herdado de M. acuminata, enquanto a possibilidade de cozimento pode ter relação com a subespécie M. acuminata banksii.

“Identificar os ancestrais das bananas cultivadas é importante, pois nos ajudará a entender os processos e os caminhos que moldaram a diversidade da banana observada hoje, um passo crucial para a raça de bananas do futuro”, disse o coautor Mathieu Rouard, também cientista da CIAT. “Os criadores precisam entender a composição genética das bananas diploides domesticadas de hoje para o cruzamento entre espécies cultiváveis, e este estudo é um enorme primeiro passo para a caracterização em grande detalhe de muitas dessas espécies”.

Segundo Julie, com base nesses resultados, a equipe pretende trabalhar com outros parceiros para explorar e genotipar a diversidade de bananas selvagens nas três regiões geográficas que o estudo identificou, na esperança de descobrir esses contribuintes não identificados para bananas cultivadas. “Também será importante investigar as diferentes vantagens e características que cada um desses contribuintes forneceu às bananas cultivadas”, disse q pesquisadora.

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