Em meio aos debates nos fóruns da internet e nas redes sociais sobre vícios, é possível que você já tenha visto discussões envolvendo a pornografia. Esse é um exemplo de vício que pode ser relacionado à chegada da web no final dos anos 90.

A noção de vício em pornografia na internet não estava no mainstream e era considerada um sintoma de uma condição clínica. No entanto, um estudo, realizado pela Dra. Kimberly Young, avaliou e diagnosticou o vício na web. Especialista no assunto, ela fundou o Center for Internet Addiction, no estado da Pensilvânia, EUA.

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“Somos uma nação de puritanos”, afirmou Young em 2000. “Esta é a primeira vez em nossa história que temos algo tão sem censura em nossas casas. Você pode chegar a um material muito censurável com apenas algumas teclas – mesmo por acidente – e então é difícil sair do site”, acrescentou.

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Young é psicóloga e especialista em transtorno de dependência da internet e comportamentos online. Quando a rede mundial de computadores estava começando a dar seus primeiros passos, ela notou que algumas pessoas não conseguiam simplesmente se desconectarem.

Embora a psicóloga não tenha realizado um estudo específico sobre sexo cibernético ou pornografia online, ela sentia claramente que essa questão era uma grande parte de um problema que estava crescendo. Young procurou aprofundar suas pesquisas e montou um pequeno questionário sobre vício na internet em 1994.

Imagem: Reprodução/iStock
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O levantamento foi assombroso. De acordo com o questionário e sua definição de viciado em internet, 80% dos quase quinhentos entrevistados se encontravam nessa classificação. A doutora fez longas entrevistas e presenciou empregos perdidos e famílias destruídas, tudo relacionado à chegada da web nas casas ou locais de trabalho. Entre os entrevistados, os relacionamentos sexuais online repercutiram como uma questão bem comum.

O fio condutor de muitas histórias de viciados em internet compartilhadas por Young era a conexão sexual. Essas pessoas experimentavam o afeto de estranhos na web e os serviços já estavam disponíveis para isso em redes de fóruns ou salas de bate-papo. Elas estavam dispostas a arriscar tudo para alcançar essa emoção e a experiência que a psicóloga passou a mostrou como os relacionamentos online se formavam com velocidade e intensidade.

Em 2000, o psicólogo Mark Schwartz afirmou que o cibersexo era “como heroína” e classificou a situação como uma epidemia, oito anos depois. “Não passa uma semana sem que eu receba duas ligações (sobre o vício em sexo pela internet)”, afirmou ele.

A ideia do vício em internet continua atingindo o mundo nos últimos anos. Hoje em dia, há locais que trabalham com membros viciados através de um programa de 12 passos, como ocorre no Alcoólicos Anônimos. Uma “desintoxicação digital” ocorre com pessoas que não conseguem desgrudar dos celulares, em meio à uma preocupação crescente com a pornografia e o vício em sexo, considerado uma ansiedade da nova era.

Alguns especialistas médicos questionam um diagnóstico de uma pessoa viciada em pornografia e sexo e muitas pessoas recorrem, ironicamente, à internet para procurar ajuda. No Reddit, por exemplo, há várias comunidades dedicadas a auxiliar pessoas que sentem essa angústia, que os mantém clicando de volta à pornografia.

Nesse contexto, há de se ressaltar a hostilidade que profissionais do sexo e educadores sexuais passam na internet. Seus trabalhos e discursos são constantemente alvo de muitas críticas infrutíferas e rotulados como prejudiciais para crianças. Enquanto isso, de forma online e offline, a sociedade vai mostrando algumas de suas falhas.

Informações via Vice

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