Afinal, eSports são esportes? A discussão já perdura pelas redes sociais há alguns anos, mas voltou a ganhar força nos últimos dias. Isso porque a ministra do Esporte, Ana Moser, fez uma declaração que não teve uma repercussão positiva da comunidada gamer.

Os comentários da ministra do Esporte sobre os esportes eletrônicos:

  • Ao comentar sobre a presença dos esportes eletrônicos nas bolsas de auxílios aos atletas no plano de governo, a ministra afirmou que os eSports formariam, na verdade, uma indústria do entretenimento. Ela ainda comparou a atividade com um treino musical.
  • “O esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. ‘Ah, mas o pessoal treina para fazer’. Treina, assim como o artista, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento”, disse a ministra ao portal UOL.
  • “O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, argumentou Moser.

Após o comentário de Ana Moser, várias personalidades famosas dos eSports se posicionaram e defenderam a classificação das competições gamers como esporte, de fato. Uma dessas figuras foi o streamer Nobru.

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“Eu acho que fazer a comparação que você fez com uma artista como a Ivete Sangalo, que treina para fazer um show, para justificar que eSports não é esporte só porque um jogador treina é você ignorar todo o processo que a pessoa tem ali de preparo físico e mental para disputar uma competição”, disse Nobru, em stories no Instagram.

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“Se além de esporte, os games também são entretenimento, é só para mostrar que as pessoas já estão buscando outras coisas além do que os jogos tradicionais podem oferecer. A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente no seu desconhecimento desse nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas”, completou o streamer.

Alguns especialistas saíram em defesa dos esportes eletrônicos e consideram a fala de Ana Moser como desconhecimento sobre o assunto, ou até mesmo uma ingenuidade. Um desses profissionais é o psicanalista Lincoln Nunes, preparador mental de diversos atletas da Seleção Brasileira.

“Um setor como o de games, que tem esse faturamento incrível e a fomentação por parte do público, não pode ser ignorado. É como se você falasse que o xadrez também não é um esporte. Os jogadores são tão pressionados como um atleta de futebol, os times são organizados, existem federações de diversos jogos, campeonatos regionais, nacionais e mundiais. Ainda dá tempo de voltar e corrigir a fala. Já trabalhei com diversos atletas, fiz pesquisas e pude ver como o estado mental é, praticamente, o mesmo. Na verdade, o que muda mesmo é o desgaste físico. Mas a preparação mental e de desempenho são as mesmas”, disse o psicanalista, em entrevista ao UOL.

Imagem: Reprodução/ESL
Imagem: Reprodução/ESL

Outro profissional que defendeu os eSports foi o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela. Ele comentou sobre como os games têm a capacidade auxiliar no desenvolvimento da inteligência cognitiva.

“É comprovado que jogadores de videogame desenvolvem a inteligência, por uma ginástica cerebral, o qual é algo orgânico, da mesma forma em que desenvolvemos os músculos em qualquer outro esporte”, afirmou o neurocientista ao UOL. “O treinamento físico dos jogadores também é importante para uma melhor concentração e uso da capacidade cognitiva no jogo, assim como postura física. Entre outras questões que colocam os jogadores de videogame profissionais como esportistas”, complementou.

O mercado dos esportes eletrônicos, de fato, chama a atenção de várias pessoas e vem demonstrando um potencial de faturamento gigantesco, inclusive nas questões publicitárias relacionadas às transmissões em estádios. Os campeonatos de CS-GO e League of Legends chegaram a ultrapassar a marca de US$3 milhões. Além disso, a indústria de games soma US$91 bilhões, mais do que cinema e TV juntos.

Com os impactos da pandemia da covid-19, o público dos eSports cresceu nos últimos anos. De acordo com um estudo do Pesquisa Games Brasil 2022, os esportes eletrônicos são conhecidos por 81,2% do público gamer, um salto de 32,8% em relação ao ano retrasado. Hoje, o Brasil ocupa o segundo lugar da indústria, somente atrás dos Estados Unidos.

Informações via Observatório de Games

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