Na semana passada a Olhar Digital anunciou que uma empresa norte-americana de biotecnologia pretende trazer de volta à vida os dodôs, espécie extinta há mais de 350 anos atrás. No entanto, pesquisadores acreditam que trazer a espécie de volta à vida pode não ser uma boa ideia.

  • Os dodôs viviam nas Ilhas Maurício, possuíam cerca de um metro de altura e podiam pesar mais de 20 quilos. 
  • Eles foram extintos por volta de 1662, apenas 150 anos após a chegada dos europeus à ilha.
  • A empresa Colossal Biosciences é a responsável pelo projeto de desextinção do dodô. Além dele, a empresa também espera trazer os mamutes lanudos e os tigres da Tasmânia de volta à vida.

Os dodôs foram extintos por causa dos marinheiros que se alimentavam dos animais e a introdução de espécies não nativas trazidas pelos europeus, como cachorro, gatos, porcos e ratos. A desextinção da espécie só é possível graças ao sequenciamento de genoma feito pela Universidade da Califórnia em 2022.

Exploração animal e impacto ambiental

Segundo Josh Milburn, professor de filosofia moral e política da Universidade de de Loughborough, em respostas a Newsweek, trazer a espécie de volta à vida pode ser apenas mais um capricho da humanidade pois parece estar instrumentalizando os animais.

Se os esforços de extinção forem bem-sucedidos, o que acontecerá com os dodôs criados? Eles serão mantidos em zoológicos para nossa diversão? Isso soa errado. Não devemos criar animais apenas para explorá-los

Josh Milburn

O professor ainda pontua sua preocupação acerca dos animais que serão usados para que o dodô seja trazido de volta à vida. Ele questiona se eles serão confinados e destinados a sofrer uma morte prematura, ou serão respeitados.

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Além disso, o plano da Colossal é reintroduzir os dodôs de volta a Ilha Maurício, mas um estudo sobre o impacto nas pessoas e espécies que vivem lá atualmente precisa ser realizado. 

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Uma nova extinção

Outro ponto levantado pelos cientistas é sobre a possibilidade dos dodôs recriados serem novamente extintos. Segundo eles, isso pode acontecer porque o mundo atual pode não ser compatível com o que eles viviam a centenas de anos atrás.

Não sabemos quanto tempo os indivíduos das espécies ressuscitadas viverão, mas parece provável que eles enfrentem muitos desafios significativos, entre os quais a perda potencial de comportamentos naturais (caça, fuga de predadores, social…) que promovem a sobrevivência

Euan Ritchie, professor de ecologia e conservação da vida selvagem, na Universidade Deakin.

Outros pesquisadores também questionam se os investimentos direcionados para trazer de volta à vida o dodô e outras espécies poderiam ser melhor aproveitados. Somente o projeto de pesquisa que visa distinguir a ave já conta com 150 milhões de dólares investidos utilizados para a preservação de espécies que ainda existem na Terra.

A ressurreição requer enormes quantias de dinheiro e investimento em conhecimento e tecnologia, com uma probabilidade relativamente baixa de sucesso. Sinto que devemos nos concentrar em salvar a biodiversidade que ainda temos (na qual não estamos fazendo um bom trabalho) em vez de investir em projetos para trazer de volta espécies que já falhamos.

Jason Gilchrist, ecologista da Universidade Napier de Edimburgo

Desextinção e consequências na preservação

Para o professor de bioética no Monash Bioethics Center, Julian Koplin, trazer espécies de volta à vida como o dodô podem resultar em duas consequências completamente opostas. Ele acredita que trazer a ave de volta a vida pode instigar as pessoas a contribuírem na preservação de espécies ou incentivar a destruição delas.

Segundo Koplin os dodôs ser uma história de sucesso poderosa, inspiradora e empolgante para as pessoas se aproximarem de questões ecológicas. Mas que também pode indicar que as pessoas não precisam preservar a vida selvagem se é possível trazê-la de volta à vida.

No entanto, ele ressalta que é importante prestar atenção no que isso vai dar. “Não tenho certeza de qual dessas possibilidades é mais provável de acontecer – mas acho importante ficar de olho, porque esses tipos de mudanças na forma como pensamos sobre o meio ambiente podem ser profundas”, aponta Koplin.

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