Feixes de laser verdes foram vistos sobre o céu do Havaí no dia 28 de janeiro, traçando silenciosamente um caminho em direção ao horizonte como se fosse o icônico código de Matrix, filme estrelado por Keanu Reeves em 1999 que deu início à franquia de ficção científica reverenciada no mundo geek.

No vídeo abaixo é possível ver a cena, que foi capturada pela câmera do Subaru, um telescópio que fica no topo do pico mais alto do arquipélago norte-americano.

Para entender:

  • Feixes de laser verdes rasgaram os céus do Havaí no fim do mês de janeiro;
  • A hipótese de ser uma ação alienígena foi prontamente descartada;
  • O Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), proprietário do telescópio que flagrou o evento, atribuiu os lasers ao satélite ICESat-2, da NASA;
  • Dias depois, o NAOJ desconsiderou essa possibilidade, creditando a autoria dos disparos a um satélite não pertencente aos EUA, e sim a outro país.

Logo, levantaram-se as suspeitas de que se tratava de uma espaçonave alienígena atacando a Terra ou examinando o planeta em busca de sinais de vida. Seria realmente este o caso?

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Para alívio de alguns e decepção de outros, que se empolgaram com a possibilidade de uma comunicação extraterrestre, a hipótese foi prontamente descartada. 

Especialistas do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), que é coproprietário da câmera, anunciaram no Twitter que a luz verde provavelmente veio de um dispositivo de radar em um satélite em órbita conhecido como ICESat-2.

O ICESat-2 pertence à NASA e é usado para monitorar a espessura do gelo marinho, das camadas de gelo e das florestas da Terra.

Nada disso

No entanto, na última segunda-feira (6), o NAOJ atualizou suas imagens dos feixes de laser dizendo que, com base na trajetória, era improvável que fosse ação da NASA.

Isso não significa que alguma das teorias envolvendo alienígenas estivesse certa. Na verdade, realmente os lasers vieram de um satélite em órbita, mas que não é da agência espacial norte-americana.

“De acordo com o Anthony J. Martino, cientista da NASA que trabalha no ICESat-2 ATLAS, não é por seu instrumento, mas por outros”, explica uma nota no vídeo do YouTube.

Pesquisadores liderados por Martino fizeram uma simulação da trajetória de satélites que têm um instrumento semelhante e identificaram como responsável mais provável pelo feito o instrumento ACDL do satélite chinês Daqi-1 / AEMS.

“Nós realmente apreciamos seus esforços na identificação da luz. Lamentamos nossa confusão relacionada a este evento e seu impacto potencial na equipe do ICESat-2”, diz a equipe.

O satélite da China Daqi-1 foi lançado em abril do ano passado e, semelhante ao ICESat-2, é uma espaçonave de monitoramento do ambiente atmosférico.

Isso quer dizer que ele está em órbita ao redor da Terra no intuito de inspecionar os níveis globais de carbono, bem como a poluição atmosférica.

Daqi-1 conta com cinco instrumentos para ajudá-lo nessa missão, incluindo ACDL, sigla em inglês para Lidar de Detecção de Aerossol e Dióxido de Carbono.

Lidar é a abreviação de “Detecção de Luz e Alcance”, e funciona um pouco como um sonar. Mas, em vez de enviar ondas sonoras para mapear uma área, ele envia feixes de laser. Acredita-se que foram esses lasers que iluminaram o céu sobre o Havaí no fim do mês passado.

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No caso do ACDL, ele pode enviar lasers de comprimento de onda duplo em comprimentos de onda específicos, a fim de detectar várias moléculas na atmosfera da Terra. O tempo que leva para esses feixes de laser se recuperarem fornece informações sobre a composição da atmosfera e do solo abaixo.

“O Daqi-1 pode monitorar a poluição por partículas finas como PM2.5, gases poluentes, incluindo dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e ozônio, bem como a concentração de dióxido de carbono”, explicou um comunicado de imprensa de março de 2021 da Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China (CASC), que desenvolveu o satélite.

De acordo com o site Science Alert, se tudo correr conforme o planejado, o Daqi-1 é apenas o começo dos planos da China de manter o controle sobre a poluição do ar. Ainda não se sabe se o surgimento desses lasers de detecção atmosférica nos céus podem se tornar mais comuns à medida que o país for alcançando esse objetivo.

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