No ano passado, astrônomos descobriram o asteroide 2022 NX1 orbitando a Terra como uma espécie de minilua, mas depois de um tempo, ele escapou da influência gravitacional do nosso planeta e seguiu sua órbita em torno do Sol. No início, até se imaginava que o objeto poderia ser algum lixo espacial, mas um estudo recente confirmou sua origem natural e mais: os cientistas garantem que a minilua está voltando e pode atingir a Terra ainda neste século.

Mas nem adianta se animar e já ir separando uma roupa para o fim do mundo, porque as possibilidades de impacto são mínimas e mesmo que ocorra, o evento não será mais traumático do que a eliminação do seu time do coração nas semifinais do mundial.

O 2022 NX1 foi descoberto por astrônomos amadores do Moonbase South Observatory, na Namíbia, em julho de 2022, passando a pouco menos de 900 mil km de distância. As análises iniciais mostraram que ele teria entre 5 e 15 metros e estava temporariamente orbitando a Terra. Por isso, ele ficou conhecido como “minilua”.

[ Observatório amador Moonbase South, na Namíbia – Imagem Reprodução Facebook ]

Estudos mostraram também que aquela não era a primeira vez que o 2022 NX1 teria sido capturado pela gravidade terrestre. Isso já havia ocorrido em 1981, quando ele passou a cerca de 600 mil km do nosso planeta e, depois da aproximação do ano passado, ele deve voltar a orbitar a Terra em 2051.

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A descoberta de objetos em órbita da Terra é comum nos programas de pesquisa de asteroides. Entretanto, na maioria das vezes, o objeto tem origem artificial, ou seja, é um satélite ou lixo espacial. Essa suspeita já recaia sobre o 2022 NX1, mas foi fortalecida depois que se descobriu que ele já havia estado em órbita da Terra em 1981. Naquela época, no auge da Guerra Fria, muitos lançamentos espaciais eram feitos em completo sigilo e acabaram deixando no espaço, objetos sem qualquer registro e que se perderam ao longo dos anos.

E essa dúvida só foi sanada agora. Um estudo publicado na revista científica Astronomy and Astrophysics confirmou a origem natural do 2022 NX1, ou seja, o objeto é realmente um asteroide e também uma minilua. A conclusão é de pesquisadores da Universidade Complutense de Madri (UCM) e do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC). Análises do espectro de luz da minilua mostraram que o objeto era composto de diferentes tipos de rochas e metais.

Os resultados não apenas descartam a possibilidade de ser um objeto artificial, como também afastam a hipótese de ser algum fragmento lunar ejetado por um grande impacto. Isso porque a análise permitiu classificar o asteroide como do tipo K, que é um tipo de asteroide com composição relativamente incomum e diferente do esperado para um fragmento da Lua.

[ Espectro de luz visível do 2022 NX1 (em cinza) comparado com outros asteroides – Imagem: Reprodução Astronomy and Astrophysics ]

Agora, a órbita do 2022 NX1, essa sim é estranha. Na prática, ele orbita o Sol mas de tempos em tempos, realiza estreitas aproximações do sistema Terra-Lua em baixas velocidades relativas, o que faz com que ele seja temporariamente capturado pela gravidade da Terra.

Da mesma forma como em 1981 e 2022, em 2051, o asteroide voltará a orbitar o nosso planeta, apenas temporariamente e a uma distância bastante segura. Só que em 2075 ele fará uma nova aproximação, e dessa vez, com risco de atingir a Terra.

[ Trajetórias geocêntricas do 2022 NX1 nos momentos em que é capturado como uma “minilua” da Terra (ponto azul escuro no centro das imagens): 1981 (amarelo), 2022 (preto) e 2051 (azul). Em vermelho, a parte da trajetória com energia geocêntrica negativa, ou seja, em que o asteroide está, de fato, em órbita da Terra – Imagem: Reprodução Astronomy and Astrophysics ]

Qual a chance da minilua atingir a Terra?

Com base nas observações realizadas ao longo de 56 dias de 2022, a chance de impacto em 2075 foi calculada em 1,2%, o que é uma possibilidade relativamente alta. Os últimos cálculos feitos pelo Sentry, o sistema de monitoramento de impactos da NASA, incluíram observações mais recentes e mostraram que existem 50 aproximações com possibilidades de impacto para este asteroide entre 2075 e 2121. Mas o risco de que isso venha ocorrer já em 2075 foi reduzido para 0,27%, e a chance acumulada de impacto em qualquer uma das 50 possibilidades até 2121 é de apenas 0,32%.

Isso significa que é muito difícil que nossa minilua venha a atingir a Terra nos próximos 100 anos. Mas como essa chance não é nula, precisamos saber o que um possível impacto do 2022 NX1 poderia causar ao nosso planeta. E a resposta é bem simples: nada!

Nada porque, mesmo que o asteroide atinja nosso planeta acima de uma área populosa, ele é pequeno demais para causar algum estrago. Tanto que ele NÃO foi classificado como “Asteroide Potencialmente Perigoso”, termo que só se aplica aos objetos que passam próximos ao nosso planeta e que podem realmente causar danos significativos em caso de impacto.

Considerando que a rocha espacial tenha 8 metros, o Sentry calculou uma massa de 800 toneladas e a energia do impacto em 12 quilotons, o que é quase a energia equivalente a uma bomba de Hiroshima, mas 36 vezes menos energético do que o evento de Chelyabinsk, o meteoro russo de 2013.

[ Meteoro de Chelyabinsk, maior evento de impacto dos últimos 70 anos, que explodiu sobre a Rússia com energia de 440 ktons em 2013 e que deixou mais de 1500 pessoas feridas, mas sem nenhuma vítima fatal – Imagem: Reprodução YouTube ]

Além do tamanho, a baixa energia do impacto se deve à velocidade “reduzida” com que o asteroide atingiria a Terra: cerca de 40 mil km/h (e acreditem, isso é muito lento para um asteroide). Por isso, mesmo considerando o pior cenário, em que a chamada “minilua” tenha 15 metros e cerca de 5.300 toneladas, seu impacto teria uma energia de 79 quilotons, menos de 1 ⁄ 5 da energia do meteoro de Chelyabinsk.

Então, trocando em miúdos, o asteroide 2022 NX1, também chamado de minilua, não tem nada de especial em relação aos outros asteroides e não mereceria muita atenção de quem está preocupado com a proteção do nosso planeta, não fosse sua órbita tão louca. Estudar asteroides como essa Minilua pode nos fornecer preciosas informações acerca dos objetos próximos à Terra, incluindo os que são, realmente, potencialmente perigosos.

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