Um artigo publicado nesta sexta-feira (9) na revista científica Communications Earth & Environment diz que o vulcão Campi Flegrei, considerado o mais perigoso da Europa, pode acordar de um sono profundo que já dura 485 anos, entrando em erupção. Se isso acontecer, segundo a pesquisa, as consequências devem ser desastrosas.

Localizado perto de Nápoles, no sul da Itália, o chamado “supervulcão” entrou em atividade pela última vez em 1538. Desde a década de 1950, os pesquisadores percebem que sua crosta tem ficado mais fraca e mais propensa a se romper, o que torna mais provável uma erupção.

Dezenas de milhares de pequenos terremotos ocorreram durante esses últimos 70 anos, e a cidade costeira de Pozzuoli foi elevada em quase quatro metros – aproximadamente a altura de um ônibus de dois andares.

Campi Flegrei, que significa “campos em chamas” ou “campos de fogo”, é uma extensa rede de 24 crateras e montes que se estende de sua vasta caldeira oposta ao Vesúvio, na borda ocidental de Nápoles, até o vizinho Golfo de Puzzuoli.

publicidade
Simulação de uma erupção do vulcão Campi Flegrei nos dias atuais (parte 1). Crédito: Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (Itália)
Simulação de uma erupção do vulcão Campi Flegrei nos dias atuais (parte 2). Crédito: Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (Itália)

Mais de 1,5 milhão de pessoas vivem acima do vasto complexo de vulcões subterrâneos, e meio milhão de indivíduos têm suas casas dentro da caldeira de 11 quilômetros de extensão, que foi formada em consequência de uma enorme erupção ocorrida há 39 mil anos, se acordo com o site Live Science.

Rompimento da crosta não significa que o vulcão vai realmente explodir

Segundo os autores do estudo, se entrasse em erupção em escala proporcional aos eventos anteriores, o vulcão ejetaria rochas derretidas e gases no alto da estratosfera, desencadeando tsunamis de até 33,5 metros de altura e espalhando uma pluma de enxofre e cinzas tóxicas que poderia mergulhar a Terra em um inverno global por décadas – matando plantações e causando extinções em massa. 

“Nosso novo estudo confirma que Campi Flegrei está se aproximando da ruptura”, disse o principal autor do artigo, Christopher Kilburn, professor de Ciências da Terra na Universidade College London, no Reino Unido, em um comunicado. “Isso não significa que uma erupção esteja garantida. A ruptura pode abrir uma rachadura através da crosta, mas o magma ainda precisa estar empurrando para cima no local certo para que uma erupção ocorra”.

Embora Campi Flegrei seja comumente referido como um supervulcão, isso não foi oficialmente estabelecido. Supervulcões são vulcões que podem produzir erupções da mais alta magnitude (um 8 no Índice de Explosividade de Vulcões), expelindo mais de mil quilômetros cúbicos de material no processo. No entanto, a maior erupção já registrada do Campi Flegrei ejetou 285 km cúbicos de material, o que a enquadra na categoria 7 (já bem desastrosa).

Um dos elementos químicos perigosos que seriam liberados na nuvem da erupção é o flúor, que em quantidades suficientes pode matar plantas e causar uma doença chamada fluorose em animais.

“O fermento subterrâneo provavelmente está sendo impulsionado pelo gás vulcânico que se infiltra na crosta a três km abaixo da superfície de Campi Flegrei, que o absorve como uma esponja”, disseram os pesquisadores. 

Isso faz com que a crosta se estique, empene e escorregue, produzindo terremotos na superfície. Se gás vulcânico suficiente entrar na crosta, o calor e a pressão que ele fornece podem empurrar as rochas além da “pressão crítica de desgaseificação”, rompendo-as e abrindo uma fenda para que o magma abaixo jorre para fora em uma explosão calamitosa. 

Leia mais:

Como foi feito o estudo

Para verificar a probabilidade de uma erupção, os pesquisadores combinaram leituras sísmicas com medições de elevação do solo para encontrar uma estimativa da resistência à tração das rochas subterrâneas da região (o estresse máximo que um material pode levar antes de quebrar) e sua proximidade com a ruptura.

Embora os terremotos na região não sejam tão poderosos quanto antes, a crosta mais fraca tem o potencial de se romper sob tensões menores e com menos aviso de abalos sísmicos detectáveis.

Mesmo assim, os cientistas dizem que isso não significa que uma erupção gigantesca seja inevitável. Para que os vulcões explodam, os gases devem se acumular mais rápido do que podem escapar, e o magma também precisa ser capaz de se mover rapidamente pela crosta onde uma rachadura se formou – duas condições que os cientistas não podem saber ao certo que ocorreram até que uma erupção aconteça.

“É o mesmo para todos os vulcões que estão quietos há gerações. Os Campi Flegrei podem se estabelecer em uma nova rotina de subir e diminuir suavemente, como visto em vulcões semelhantes ao redor do mundo, ou simplesmente voltar a descansar”, disse Stefano Carlino, pesquisador do Observatório do Vesúvio. “Ainda não podemos dizer com certeza o que vai acontecer. O importante é estar preparado para todos os resultados”.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!