A startup Tron – fundada pelo físico Gildário Lima e que tem como sócio o comediante Whindersson Nunes – desenvolveu um dispositivo para pessoas surdas. Por meio dele, as pessoas com essa deficiência conseguem “sentir” a música.

Para quem tem pressa:

  • A startup Tron desenvolveu um dispositivo para pessoas surdas;
  • Por meio dele – que é uma espécie de colete – as pessoas com essa deficiência conseguem “sentir” elementos da música;
  • O aparelho, chamado MR, foi desenvolvido junto (e batizado em homenagem) a uma adolescente surda do Ceará;
  • A proposta é que seja um equipamento sem patente protegida, para que qualquer pessoa possa acessar e construir seu dispositivo.

Uma delas é a adolescente Maria Rita, que tem 17 anos e é de Tauá, no Ceará. Como qualquer adolescente de sua idade, ela se espelha em vídeos do TikTok para aprender a dançar.

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A garota vê os passos na tela do celular, aproxima as mãos de uma caixa de som para sentir a vibração da música e treina até “encaixar” os movimentos no ritmo.

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No ensino médio, começou a ter aulas de robótica, com um método de ensino desenvolvido pela startup de Lima e Whindersson.

Ela imaginava como a tecnologia poderia ajudá-la a sentir a música, a dançar e a participar de em ambientes como shows, festas e outros eventos culturais.

Maria Rita é uma das 2,3 milhões de pessoas que têm algum grau de surdez no Brasil. Esse número corresponde a 1,1% do total da população mundial, de acordo com o levantamento do IBGE de 2019.

Parceria entre Gildário Lima e Whindersson Nunes

Gildário Lima conheceu Whindersson e apresentou seu projeto a ele em 2021.

Por ser do Piauí, envolver ciência, tecnologia e educação, isso conversou muito com a nova fase de vida que estou construindo: me dedicar mais às coisas que façam a diferença. Pretendo inclusive fazer uma graduação voltada para física aplicada.

Whindersson Nunes, comediante e influencer

O encontro de Maria Rita e Gildário aconteceu em meados de 2020 durante as visitas regulares que o empreendedor faz às escolas que usam a metodologia da sua startup.

A estudante expôs a ele sua necessidade e desejo de criar uma ferramenta que auxiliasse mais pessoas como ela a “ouvir” música.

Eu voltei com aquilo na cabeça e estudei mais sobre o assunto. Vimos que existiam no mundo algumas tecnologias, mas nada parecido com aquilo que queríamos fazer. Existem dispositivos que vibram, mas nós queríamos entrar num contexto mais profundo, que conseguisse captar os diferentes alturas, intensidades e timbres da música. Eu assumi naquele momento o compromisso de tentar, com o uso de robótica aplicada, desenvolver um dispositivo que auxiliasse pessoas como ela a sentirem a música por meio de estímulos mecânicos.

Gildário Lima, físico, empresário e fundador da startup Tron

Dispositivo para ‘sentir’ música

Colete desenvolvido por startudo de Whindersson Nunes para pessoas surdas sentirem música
(Imagem: Divulgação)

Maria Rita contou que ela e um grupo de surdos passaram a testar qual seria o melhor caminho para atingir esse objetivo. Desenvolveram, então, um dispositivo que emitisse vibrações de músicas.

Primeiro testamos colocando nas costas, mas todos que fizeram o teste concordaram que o melhor lugar para a gente sentir o sim seria a parte do torax.

Maria Rita, estudante e adolescente

O aparelho é como um colete, com dispositivos que captam as ondas sonoras do ambiente, processam e transformam em vibrações mecânicas na região do tronco.

O protótipo tem autonomia de três horas de bateria, permitindo que o usuário se movimente livremente.

A tecnologia é dividida em duas partes, conforme explicou o físico:

  • Colete, em tecido e EVA costurado à máquina;
  • “Motores” impressos em 3D.

Acessibilidade

A ideia é que seja um molde simples de ser reproduzido por uma costureira, por exemplo. O processador também é uma tecnologia desenvolvida pela Tron, disse o empresário. “Também com o objetivo de fácil replicação, pois utilizamos materiais Open Source”, acrescentou.

Entre esses materiais estão a Arduino – uma plataforma programável de prototipagem eletrônica e hardware livre, que permite aos usuários criar objetos eletrônicos interativos e independentes.

A proposta é que seja um equipamento sem patente protegida, para que qualquer pessoa possa acessar e construir seu dispositivo, tornando a tecnologia mais acessível.

Outra forma de captação que a Tron está trabalhando é por meio de um smartphone. Nele, o dispositivo se conecta a um aparelho e todos os sons que saem, independente do barulho externo, é convertido para experiência.

Como o dispositivo funciona

Colete desenvolvido por startudo de Whindersson Nunes para pessoas surdas sentirem música
(Imagem: Divulgação)

No processo de criação e aperfeiçoamento do dispositivo, batizado de MR (sigla de Maria Rita), voluntários surdos estiveram à frente para que o especialista pudesse adequar tudo às suas necessidades e aprimorar a tecnologia.

Gildário explicou que o MR consegue dividir o som do grave, do médio e do agudo e transformar isso nos sensores que vibram. “Mas vibram na frequência da música, graças a uma série de detalhes que a tecnologia embarca”.

Alguns testes foram realizados em ambientes de shows. Mas o mais importante foi em setembro de 2022, no Rock in Rio.

Ele mostra a importância de ter Whindersson Nunes no projeto: Maria Rita, sua amiga e intérprete Márcia Alexandre e o influencer carioca também surdo Alex Bill participaram do show do trapper Lil Whind, o alter-ego de Whindersson.

Eu sempre quis muito ter uma experiência de um show. E aí quando senti a música do show através da sensação no meu corpo foi uma emoção, assim, que eu não tenho nem palavras para te descrever. Eu espero que no futuro a tecnologia e a robótica possam estar sempre presentes, porque com MR eu pude perceber todos os sons que estavam sendo produzidos naquele momento, das pessoas vibrando e das batidas da música. Foi algo maravilhoso, eu me senti incluída. Foi a primeira vez que eu senti isso.

Maria Rita, estudante e adolescente

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