(Imagem: Tatiana Beschastnova/Shutterstock)
Os humanos são a força dominante que impulsiona a mudança em todos os ecossistemas. Justamente por conta da ação humana, os ecossistemas estão sendo levados além dos pontos de colapso a uma taxa mais rápida. É o que escreve o professor Derek Lynch, que leciona sobre agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá), em artigo publicado no The Conversation. No texto, ele questiona se a natureza, como a conhecemos, vai acabar.
Segundo o professor, nenhum ecossistema em qualquer lugar está protegido da influência dos humanos, graças à “nossa influência avassaladora na atmosfera, hidrosfera e biosfera”. Lynch também destacou que incidentes de zoonose reversa – nos quais os humanos se tornaram o reservatório e a fonte de infecção para animais domésticos e selvagens – ocorridos na pandemia de Covid-19 “enfatizaram como o destino da humanidade e de todas as criaturas que compartilham a biosfera está interligado”.
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Como resultado do Antropoceno – período no qual a atividade humana tem impacto enorme no planeta – a biodiversidade global está em crise, com a extinção de espécies ocorrendo a uma taxa mil vezes maior do que a pré-humana, escreve o professor. E ele acrescenta que enfrentar essa crise “é um dos nossos maiores desafios”.
O projeto Half-Earth sustenta que apenas preservando 50% do habitat superficial global preservaremos 85% das espécies. Mas reservar terras para a natureza, como em parques e reservas, muitas vezes significou privar os povos indígenas de suas terras, em vez de respeitar e priorizar o papel dos povos indígenas na preservação da biosfera.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
Por outro lado, o professor aponta que os humanos, enquanto espécie, têm reconhecido como a biodiversidade também pode ser apoiada em todos os lugares. “Paisagens urbanas podem sustentar uma maior biodiversidade, como polinizadores, e paisagens agrícolas podem contribuir, dependendo da intensidade da agricultura”, explica Lynch.
O docente escreveu que alguns acadêmicos, ao se tornarem conscientes dos profundos efeitos das mudanças climáticas, declararam que o muro entre a história humana e a história natural agora estava quebrado.
Como propôs o historiador Dipesh Chakrabarty, esse colapso de cronologias significa que motivos-chave na história humana contemporânea, como a luta pela liberdade, agora estão inexoravelmente ligados ao destino da biosfera.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
Para ele, agora os historiadores devem combinar seus estudos sobre história contemporânea com a história mais longa dos humanos enquanto uma espécie entre muitas. O professor acrescenta que os ecologistas têm reconhecido que a “diferenciação” do mundo natural é sem sentido e o estudo dos processos naturais deve incluir aqueles modificados pela humanidade.
A ideia de nós mesmos como distintos de todos os não-humanos é considerada por alguns como o impulsionador fundamental de nossa atual crise planetária. Dada essa compreensão cada vez mais profunda, é agora o momento de ir além da ‘natureza’ como um conceito externo à humanidade? Em vez disso, poderíamos promover uma compreensão mais profunda da biodiversidade e da comunidade como a longa história compartilhada e o destino futuro tanto da humanidade quanto da vida não-humana.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
O professor destaca que esses paradigmas revisados estão mais próximos das visões indígenas de comunidade, nas quais o manejo da terra é conduzido em parceria com parentes em todos os ecossistemas. “Será que chegamos ao fim da natureza em seu significado tradicional como algo distinto de nós? Redefinir nossa relação com a natureza é um passo importante para aprofundar nosso compromisso em lidar com essas crises ambientais feitas pelo homem”, finaliza Lynch.
Esta post foi modificado pela última vez em 27 de outubro de 2023 21:03