Um estudo calculou a expulsão de gás metano por poços, oleodutos e compressores de petróleo e gás natural nos EUA, e chegou à conclusão de que estão expelindo três vezes a quantidade esperada pelo governo. A emissão desenfreada vem custando US$ 9,3 bilhões (R$ 46,22 bilhões) em danos climáticos anualmente.

Contudo, a situação é ainda pior do que se imaginava, indica a ABC, mais da metade das emissões vem de pequeno número de locais com petróleo e gás, sendo 1% ou menos. Apesar da situação, o problema é bem solucionável, segundo o autor principal do estudo, publicado nesta quarta-feira (13) na Nature.

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Emissão de metano cresce no mundo todo

  • Essa situação, porém, não está apenas nos EUA, mas no mundo todo;
  • Satélites detectaram que as emissões de metano no mundo todo cresceram 50% no ano passado quando comparado com 2022;
  • Ao todo, foram mais de cinco milhões de toneladas métricas detectadas em grandes vazamentos de combustíveis fósseis. A informação foi repassada pela Agência Internacional de Energia dos EUA no Global Methane Tracker 2024 nesta quarta-feira (13);
  • As emissões mundiais do gás aumentaram um pouco em 2023, indo para 120 milhões de toneladas métricas.

Esta é realmente uma oportunidade para reduzir as emissões muito rapidamente com esforços direcionados nesses locais de maior emissão. Se conseguirmos controlar cerca de 1% dos locais, então estaremos a meio caminho porque isso representa cerca de metade das emissões na maioria dos casos.

Evan Sherwin, analista de energia e política do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia dos EUA, autor principal do estudo

Sherwin indicou que as emissões escapistas se dão em todo o sistema de produção e distribuição de petróleo e gás a partir da queima de gás. Isso se dá quando as empresas liberam, na atmosfera, o gás natural, ou o queimam, e não o capturam.

Esse gás provém da extração de energia. Existem, ainda, muitos vazamentos no resto do sistema, incluindo tanques, compressores e tubulações, segundo o auto da pesquisa. “Na verdade, é simples de consertar”, afirmou.

Desperdício de gás

Cerca de 3% do gás produzido nos EUA se desperdiça no ar, quando comparado com os números da Agência de 1%, segundo o estudo.

Para Sherwin, essa é uma quantidade substancial, por volta de 6,2 milhões de toneladas por hora em vazamentos medidos durante o dia. Pode ser que, à noite, as medições sejam melhores, mas a equipe não possui tais dados.

Os números foram obtidos a partir de um milhão de medições anonimizadas de aviões que sobrevoaram 52% dos poços de petróleo locais e 29% de sistemas de produção e entrega de gás no período de dez anos.

Segundo o pesquisador, o valor do vazamento de 3% é a média das seis regiões analisadas e não calculou a média nacional.

Sabe-se que o metano retém 80 vezes mais calor que o dióxido de carbono ao longo de 20 anos. O dióxido de carbono acumula por centenas de anos.

O chefe da unidade de fornecimento de energia da IEA, Christophe McGlade, afirmou que cerca de 30% do aquecimento mundial desde os tempos pré-industriais provém das emissões de metano.

Metano
Imagem: VLADJ55/ Shutterstock

Os EUA são o maior emissor de metano quanto à produção de petróleo e gás, enquanto a China polui mais com metano do que carvão.

No fim de 2023, a administração de Joe Biden fez com que a indústria do petróleo e do gás natural reduzam suas emissões de metano, enquanto 50 empresas petrolíferas do mundo todo se comprometeram a chegar perto de zero emissões e encerrar a queima até 2030.

Um cientista climático afirmou, à Associated Press (AP), que essas medidas reduzirão cerca de um décimo de grau Celsius.

Monitoramento

O monitoramento da emissão do gás a partir de satélites está virando tendência. No começo de março, o Fundo de Defesa Ambiental baseado no mercado, entre outros, lançaram o MethaneSAT em órbita.

O desperdício do gás é valioso para as empresas de energia, com estimativa de que ele vale cerca de US$ 1 bilhão (R$ 4,97 bilhões) anualmente.

Além disso, 40% das emissões globais poderiam ter sido evitadas com investimento adicional, sendo “enorme oportunidade perdida”, segundo McGlade.

O relatório aponta que a poluição global por metano pode ser reduzida pela metade até 2030 se os países cumprirem as metas estipuladas em recente encontro sobre o clima em Dubai (Emirados Árabes) com as Nações Unidas (ONU).

Contudo, as ações implementadas até o momento reduziriam 20%, “lacuna muito grande entre emissões e ações”, afirmou McGlade.

“É fundamental reduzir as emissões de metano se o mundo quiser cumprir as metas climáticas”, disse o pesquisador de metano da Universidade Cornell, Robert Horwath, que não fez parte do estudo de Sherwin.

“A análise deles faz sentido e é, de longe, o estudo mais abrangente que existe sobre o assunto, disse Howarth, que está atualizando os números em estudo futuro para incorporar os novos dados.

Tais dados indicaram que os maiores vazamentos se dão na bacia do Permiano, no Texas, e no Novo México.

É região de rápido crescimento, impulsionada principalmente pela produção de petróleo. Então, quando acontece a perfuração, sai tanto petróleo quanto gás, mas o principal que as empresas querem vender na maioria dos casos é o petróleo. E não havia capacidade suficiente no gasoduto para retirar o gás [por isso, em vez disso, este foi expelido para o ar].

Evan Sherwin, analista de energia e política do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia dos EUA, autor principal do estudo