Glóbulos brancos humanos sobrevivem entre 60 e 86 horas após a morte. (Imagem: Corona Borealis Studio / Shutterstock.com)
A divisão entre vida e morte sempre foi clara para a ciência. Entretanto, novos estudos sobre biobots — organismos multicelulares criados a partir de células de organismos mortos — desafiam essa percepção ao sugerirem um “terceiro estado”, que vai além das definições tradicionais de vida e morte.
Tradicionalmente, considera-se que a morte é a interrupção irreversível das funções de um organismo como um todo. No entanto, práticas como a doação de órgãos mostram que órgãos, tecidos e células podem continuar funcionando mesmo após a morte de um organismo. Mas o que permite que algumas células continuem operando após a morte?
Pesquisadores investigam o que acontece com os organismos após sua morte. Recentemente, um estudo descreveu como certas células podem se transformar em novos organismos multicelulares quando recebem nutrientes, oxigênio, bioeletricidade ou estímulos bioquímicos. Esses novos organismos desempenham funções inéditas.
Um exemplo surpreendente é o dos xenobots, organismos formados por células de embriões de rã mortos que se reorganizam espontaneamente em condições laboratoriais. Essas células, que em embriões vivos têm funções específicas, como mover muco, nos xenobots utilizam cílios para se locomover e interagir com o ambiente de formas inesperadas.
Além disso, esses xenobots são capazes de replicar sua estrutura sem crescer, um fenômeno conhecido como autorreplicação cinemática. Esse processo é diferente das formas tradicionais de replicação que envolvem o crescimento dentro ou sobre o corpo do organismo.
Em outro experimento, células pulmonares humanas se organizaram em minicorpos multicelulares, chamados antrobots, capazes de se mover e até reparar neurônios lesionados próximos. Esses exemplos revelam uma plasticidade celular até então desconhecida, sugerindo que a morte de um organismo pode ter um papel importante na transformação da vida ao longo do tempo.
Leia mais:
O “terceiro estado” não apenas expande o entendimento da adaptabilidade celular, mas também abre novas possibilidades para tratamentos médicos. Os antrobots, por exemplo, poderiam ser usados para entregar medicamentos de forma direcionada, sem desencadear respostas imunológicas indesejadas. Esses organismos também poderiam dissolver placas arteriais em pacientes com aterosclerose ou remover excesso de muco em casos de fibrose cística.
É importante destacar que esses organismos multicelulares têm uma vida útil limitada, se degradando naturalmente após quatro a seis semanas. Esse “interruptor de morte” evita o crescimento descontrolado de células potencialmente invasivas.
Compreender melhor como algumas células continuam a funcionar e se transformam em entidades multicelulares após a morte de um organismo oferece promessas para o avanço da medicina personalizada e preventiva.
Esta post foi modificado pela última vez em 21 de outubro de 2024 14:21