Medicina e Saúde

Arsênio: o que é e quais os seus perigos para a saúde? Conheça a substância encontrada em bolo

Em dezembro de 2024, três mulheres da mesma família faleceram após consumirem um bolo que estava envenenado com arsênio. O incidente ocorreu em Torres, no Rio Grande do Sul. De acordo com a Polícia Civil, há suspeitas de que Deise Moura dos Anjos tenha envenenado os familiares do próprio marido. O caso não só chocou o país, como levantou dúvidas sobre tal veneno, afinal o que é o arsênio e quais perigos envolvem a substância?

Curiosamente, a operação sobre o caso do bolo ganhou o nome de Aqua Tofana, fazendo referência a uma receita de veneno do século 17. Na época, a substância, que era uma mistura de arsênio com outros elementos, foi criada por Giulia Tofana com intuito de ajudar mulheres a se livrarem de maridos abusivos. Mas desde muito antes, já era notória a letalidade do veneno. Mas como algo tão perigoso é facilmente encontrado? Afinal, há possibilidade de encontrar arsênio em algum alimento? Confira a seguir.

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O que é e de onde vem o arsênio?

De acordo com um artigo da Cetesb de São Paulo, o arsênio (As) é um semi-metal (metaloide) que ocorre naturalmente na crosta terrestre e está presente em mais de 200 minerais. Sobretudo, é também um subproduto do tratamento de minérios de cobre, chumbo, cobalto e ouro.

Deste modo, o arsênio está presente na produção de ligas não-ferrosas e outros compostos para fabricação de semicondutores, incluindo diodos de emissão de luz, lasers, circuitos integrados e células solares. O ácido arsênico e o trióxido de arsênio são usados como descolorante, clareador e dispersante de bolhas de ar na produção de garrafas de vidro e outras vidrarias.

Existe contaminação por arsênio em água/Shutterstock Imagem Francesco Scatena
Qual a dose letal de arsênio?

A ingestão de grandes doses de arsênio inorgânico, de 70 a 180 mg pode ser fatal.

Arsênio tem gosto ou cheiro?

Não, a maioria dos compostos de arsênio não podem ser detectados pelos sentidos humanos, pois são inodoros e insípidos.

Arsênio causa câncer?

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) categoriza o arsênio e seus compostos inorgânicos como substâncias cancerígenas para os seres humanos.

Entre outras aplicações, o arsênio pode ser encontrado em: fungicidas, produção de cerâmica, sínteses químicas, pirotécnica e conservação de fósseis. Mais recentemente, em 2023, o trióxido de arsênio foi aprovado pela Anvisa para o tratamento de Leucemia Promielocítica Aguda (LPA).

Arsênio na história (discreto homicida)

Principalmente, por ser uma substância facilmente encontrada na natureza, em rocha, solo, água, ar, plantas e animais, o arsênio era uns dos venenos mais usados na antiguidade. De forma que é citado desde o Império Romano até a Idade Média.

Dioscórides, um médico grego que servia na corte do imperador romano Nero, mencionou o uso de arsênio. Ele afirmava que este composto era ideal para envenenar devido às suas propriedades: sem cor, sem cheiro e sem sabor quando misturado em alimentos e bebidas. Dessa forma, os sintomas por envenenamento eram difíceis de identificar, tornando sua toxidade em um discreto homicida.

Quais os perigos do arsênio para a saúde?

De acordo com pesquisas, entre os perigos do arsênio está a exposição a longo prazo que pode causar sérias consequências à saúde, tais como: o aumento no risco de várias formas de câncer e numerosos efeitos patológicos, desde doenças cutâneas (hiperpigmentação e hiperqueratose), gastro-intestinais, vasculares, diabetes melitus e neuropatias periféricas.

Essa exposição crônica pode acontecer através de processos industriais, intoxicação por alimentos contaminados e pela ingestão de água. Essa última, é uma questão de saúde pública e acontece em muitos países, como Bangladesh, China e Estados Unidos, por exemplo. De acordo, com a Organização Mundial de Saúde (OMS), beber água contaminada é a razão da maioria dos casos.

Como o elemento age no corpo humano

Segundo especialistas, o arsênico inorgânico é o que mais absorve no corpo humano, atingindo cerca de 80% a 90% do trato gastrointestinal, distribuído por todo o corpo, muitas vezes biotransformados por metilação e depois eliminados principalmente na urina.

A dor abdominal é um dos primeiros sintomas do envenenamento por arsênio/Shutterstock Foto Doucefleur

Já os trabalhadores de produções que têm contato com o arsênio inorgânico, são contaminados diretamente pela pele e apresentam efeitos tóxicos por essa absorção sistêmica. A distribuição do arsênio ingerido no corpo acontece principalmente no fígado, nos rins, coração e nos pulmões, além de quantidades significativas menores que podem ser encontradas nos músculos e tecidos nervosos.

Casos graves: os perigos do envenenamento por arsênio

Quando a ingestão por arsênio acontece em altos níveis (70 a 180 mg) ocorrem: alterações gastrintestinais, irritação das membranas mucosas do esôfago (formando vesículas e descamação), estômago e intestino e, por fim, o paciente pode vir a óbito.

Entre os principais sintomas estão: febre, pele vermelha e inchaço, sensação de “formigamento” nos dedos (mãos e dos pés), anorexia, dor no peito, tosse, falta de ar, dor de garganta, hepatomegalia, melanose, arritmia cardíaca e, em casos fatais, insuficiência cardíaca terminal.

Além disso, após alguns dias da ingestão, ainda podem ocorrer: anemia, leucopenia e perda sensorial no sistema nervoso periférico.

Tratamento para envenenamento por arsênio

O tratamento do envenenamento por arsênico depende do tipo de exposição e da gravidade apresentada. Geralmente, alguns médicos utilizam a terapia de quelação (tratamento que usa certos produtos químicos para separar o arsênico das proteínas do sangue).

No entanto, há casos em que pode ser aplicada a irrigação intestinal, uma solução especial que libera a substância do trato gastrointestinal, impedindo que o intestino o absorva. Contudo, alguns pacientes também podem precisar de oxigênio, fluidos, transfusão de sangue, medicamentos para o coração ou medicamentos para controlar convulsões.

As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.

Esta post foi modificado pela última vez em 16 de janeiro de 2025 17:21

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Publicado por
Simone Cordeiro