Descoberta vai ajudar os cientistas (Imagem: Lindsay Zanno, CC-BY 4.0)
A Formação Cedar Mountain, em Utah (EUA), é o cenário do Membro Mussentuchit, onde, há 50 anos, foi descrita a primeira casca de ovo fóssil datada do Cenomaniano (cerca de 100 milhões de anos atrás).
Até então, a diversidade de ovos fósseis – popularmente denominada “oodiversidade” – se restringia a um único táxon instável, o Macroelongatoolithus carlylei. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores abalou esse cenário ao descobrir uma variedade surpreendente de cascas durante expedições na região.
Após meio século com poucas novidades sobre ovos fósseis na área, os cientistas se empenharam em revelar a verdadeira diversidade desses vestígios. Embora fragmentos de cascas não tenham o mesmo impacto visual de um crânio colossal, eles se mostram excelentes indicadores da biodiversidade, especialmente quando o registro de fósseis corporais é limitado.
Munidos de mais de quatro mil fragmentos de cascas, coletados em 20 pontos diferentes do Membro Mussentuchit, os pesquisadores classificaram cada amostra com base em suas características superficiais.
Análises microscópicas detalhadas permitiram avaliar espessura, microestrutura interna e sistemas de poros das cascas, enquanto a microscopia eletrônica de varredura revelou detalhes minuciosos – embora diferenciar os ovos de uma espécie da outra seja desafio considerável.
“A identificação com base apenas nas cascas é complicada”, afirmou o Dr. Josh Hedge, professor assistente visitante de Biologia no Lake Forest College, ao IFLScience.
“Dependemos de encontrar ossos, cascas, ovos inteiros, ninhos e embriões para obter estimativas mais precisas. Na ausência desses elementos, comparamos os fragmentos com tipos semelhantes encontrados em outros locais. Já temos boa ideia dos tipos de cascas utilizadas pelos principais grupos de dinossauros, mas atribuí-las a espécies individuais continua sendo extremamente difícil.”
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Este estudo marca a primeira vez que diversos desses ootaxons são identificados na América do Norte – incluindo o Mycomorphoolithus, até então conhecido apenas na Europa – e apresenta as evidências mais antigas de múltiplos oviraptorossauros convivendo em proximidade, sugerindo que esses dinossauros eram mais diversos e amplamente distribuídos do que se imaginava.
“O aspecto mais interessante, para mim, é a presença de múltiplos tipos de cascas elongatoolithid, o que indica a coexistência de diferentes tipos de dinossauros oviraptorossauros”, comentou Hedge.
“Historicamente, pensávamos que cada ecossistema abrigava apenas uma espécie de cada dinossauro, mas cada vez mais encontramos indícios de que diversas espécies de um mesmo grupo podem coexistir. Nossa análise aponta para a presença de pelo menos dois ou três oviraptorossauros de tamanhos distintos depositando ovos nesse ambiente, aproximadamente ao mesmo tempo.”
Os resultados reforçam a ideia de que os ecossistemas estadunidenses do Cretáceo eram mais complexos do que se supunha, revelando maior variedade de comportamentos reprodutivos e interações entre espécies. Essas descobertas podem ter implicações importantes para o entendimento da migração, das relações evolutivas e da estabilidade dos ecossistemas durante o Cenomaniano.
Parece que a busca por ovos fósseis revelou-se tão promissora quanto se imaginava. O estudo foi publicado na revista PLOS ONE.
Esta post foi modificado pela última vez em 26 de fevereiro de 2025 19:44