Surto começou em pequena vila local (Imagem: Elenarts/Shutterstock)
Uma doença de origem desconhecida vem causando grande preocupação na República Democrática do Congo. Na região do noroeste do país, 53 pessoas já faleceram, sendo que muitos desses óbitos ocorreram em até 48 horas após o aparecimento dos sintomas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificou o surto como séria ameaça à saúde pública.
Desde o início de janeiro, foram notificados pelo menos 431 casos de indivíduos que apresentam febre, vômitos, diarreia, dores musculares, cefaleia e cansaço, de acordo com o escritório da OMS para a África. Acredita-se que a doença tenha surgido em duas localidades distintas, ambas situadas na província do Equador, apresentando taxa de letalidade de 12,3%.
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Para tentar identificar o agente patogênico responsável, amostras de 18 casos foram enviadas ao Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica, em Kinshasa, capital do país.
Todas as análises descartaram a presença de doenças hemorrágicas conhecidas, como Ebola e Marburg, o que torna imprescindível a realização de testes laboratoriais adicionais para definir o agente causador. Além disso, as autoridades não descartam que os dois surtos possam ter origens distintas.
Especialistas ressaltam que a localização remota desses surtos, aliada à frágil infraestrutura de saúde no país, eleva o risco de propagação da doença – situação que demanda intervenção imediata e de alto nível para conter o surto.
Vale lembrar que, em dezembro, outra enfermidade com características gripais e de etiologia desconhecida já havia ceifado a vida de dezenas de pessoas na região sudoeste do Congo. Investigações posteriores sugeriram que os óbitos se deveram, provavelmente, a infecções respiratórias agudas agravadas pela malária e intensificadas por quadros severos de desnutrição.
Michael Head, pesquisador sênior em Saúde Global na Universidade de Southampton (Reino Unido), explicou ao The Washington Post que surtos envolvendo doenças ainda não identificadas tendem a ocorrer em diversas partes do mundo.
Ele destacou que, embora seja possível o surgimento de uma doença totalmente nova – como foi o caso da Covid-19 –, tal situação é extremamente rara. Na maioria dos episódios, trata-se de um patógeno já conhecido, que, por alguma razão, ainda não havia sido diagnosticado naquele surto específico.
No entanto, Head expressou preocupação com o recente surto no Congo, enfatizando que as deficiências na infraestrutura de saúde do país tornam a resposta das autoridades ainda mais complexa.
“Normalmente, surtos desse tipo são controlados com relativa rapidez, mas é alarmante constatar que, neste caso, já contamos com centenas de casos e mais de 50 óbitos, além da ampla ocorrência de sintomas semelhantes aos de febres hemorrágicas”, afirmou.
Enquanto os profissionais de saúde enfrentam essa doença de origem incerta na região oeste, as unidades médicas do leste do país estão sobrecarregadas.
Segundo informações da OMS, o primeiro-ministro do Congo relatou que, somente neste ano, mais de sete mil pessoas já morreram, em meio à ofensiva dos rebeldes do grupo M23 – apoiados por Ruanda – que buscam expandir seu controle sobre territórios ricos em minerais.
Esta post foi modificado pela última vez em 26 de fevereiro de 2025 01:38