(Imagem: Natali_Mis / iStock)
Em um feito científico inovador, pesquisadores conseguiram transferir um comportamento complexo de namoro entre duas espécies diferentes de moscas-das-frutas, alterando o cérebro de uma delas para que fizesse algo que nunca tinha feito antes. É a primeira vez que um comportamento totalmente novo é transferido geneticamente entre animais.
Cientistas da Universidade de Nagoya, no Japão, fizeram essa façanha usando um único gene, chamado Fruitless (Fru). Esse gene age como uma chave que pode criar novas conexões no cérebro. Com essa chave, eles conseguiram transferir o comportamento de cortejo da Drosophila subobscura, que oferece comida de presente, para a D. melanogaster, que costuma atrair as parceiras com canto.
Essa pesquisa é o resultado de quase dez anos de trabalho. Um estudo anterior já tinha mostrado que o gene Fru era importante para o namoro das moscas, mas eles descobriram que ele controlava comportamentos bem diferentes em cada espécie.
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Desta vez, os pesquisadores foram além. Eles usaram a genética para fazer com que os machos de D. melanogaster – espécies que se separaram evolutivamente há 35 milhões de anos – se tornassem “doadores de presentes” em vez de “cantores”. Essa mudança, de certa forma, “voltou no tempo” na evolução. Eles ativaram o gene Fru nos neurônios (as células do cérebro) das moscas cantoras e, com isso, criaram novas “ligações” no cérebro delas, que passaram a realizar o ritual de dar presentes.
O mais notável é que essa mudança aconteceu sem que as moscas tivessem que aprender ou copiar o comportamento. O que foi causado pela nova “fiação” do cérebro.
Essa pesquisa mostra que alguns comportamentos podem estar “escondidos” ou “adormecidos” na genética de um animal. Ativar o gene certo pode despertar esses comportamentos, mesmo que sejam completamente estranhos à espécie.
Yusuke Hara, um dos principais autores, explica que a evolução de novos comportamentos não exige o surgimento de neurônios novos. Basta uma pequena mudança genética para que alguns neurônios já existentes se “religuem” de forma diferente, gerando novos comportamentos e contribuindo para a diversidade das espécies.
O cientistas dizem que mesmo que o estudo seja em moscas, que têm cerca de 60% dos genes parecidos com os dos humanos, não há intensão de aplicá-lo em pessoas . No entanto, o trabalho prova que é possível ativar comportamentos totalmente novos ao mudar a “fiação” do cérebro. A conclusão é que alguns de nossos comportamentos estão adormecidos em nossa biologia, esperando o “interruptor” molecular certo para os ligar.
Esta post foi modificado pela última vez em 16 de agosto de 2025 18:07