Ciência e Espaço

“Cometa do Diabo” pode revelar origem da água (e da vida) na Terra

Pesquisadores descobriram que o cometa 12P/Pons-Brooks, popularmente chamado de “Cometa do Diabo”, pode responder de onde veio a água da Terra.

O estudo, publicado na revista Nature Astronomy, traz fortes evidências de que a água contida naquele objeto é muito semelhante à do planeta. Isso reforça a ideia de que esse poderoso recurso vital, hoje tão abundante no nosso mundo, teria se originado em impactos de cometas – ajudando, consequentemente, a desenvolver vida por aqui.

Sobre o Cometa do Diabo:

  • O objeto espacial denominado de 12P/Pons-Brooks (12P) é um cometa criovulcânico;
  • Ele pertence à classe de cometas do tipo Halley, que têm órbitas entre 20 e 200 anos;
  • É composto de uma concha dura e gelada cheia de gás, poeira e gelo e uma cauda feita do material que vaza do seu interior;
  • O apelido “Cometa do Diabo” é devido ao formato de chifre que sua cauda assume quando ele entra em erupção;
  • Com uma órbita elíptica que dura cerca de 71 anos, ele atingiu o periélio (ponto mais próximo do Sol) em abril do ano passado;
  • Atualmente na constelação de Lupus, a mais de 851 milhões de km da Terra, o cometa volta a se aproximar do planeta em 2095.
Imagem erupção vulcânica do Cometa do Diabo, que formou os tradicionais chifres que dão o apelido ao objeto. Crédito: Helen Usher/Richard Miles/Las Cumbres Observatory

“Nossos novos resultados fornecem a evidência mais forte até agora de que pelo menos alguns cometas do tipo Halley carregavam água com a mesma assinatura isotópica encontrada na Terra, apoiando a ideia de que os cometas podem ter ajudado a tornar nosso planeta habitável”, afirma o autor principal do estudo, Martin Cordiner, astrofísico molecular da NASA, em um comunicado.

“Impressão digital da água” do cometa é compatível com a da Terra

Para chegar a essa conclusão, os cientistas liderados por ele observaram o 12P/Pons-Brooks com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), localizado no Chile, e o Infrared Telescope Facility (IRTF), da NASA, no Havaí.

A análise se concentrou na proporção entre deutério, um tipo de hidrogênio mais pesado por conter um nêutron, e o hidrogênio comum. Essa relação, conhecida como D/H, funciona como uma espécie de “impressão digital” da água, permitindo comparar diferentes fontes cósmicas. O resultado mostrou que a água do cometa é praticamente idêntica à encontrada na Terra.

Acredita-se que a água terrestre tenha sido transportada há vários bilhões de anos por uma combinação de impactos de cometas, asteroides e meteoritos. Crédito: NASA / Theophilus Britt Griswold

Esse achado tem grande importância porque observações anteriores de cometas semelhantes indicavam valores diferentes de D/H, enfraquecendo a hipótese de que esses corpos celestes teriam trazido parte da água que formou oceanos e rios do planeta. Agora, com medições mais detalhadas, a teoria ganha mais respaldo.

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As imagens captadas pelo ALMA também permitiram mapear a água do cometa com uma precisão inédita. A equipe estudou tanto a água comum (H₂O) quanto a versão “pesada” (HDO), identificando sua origem direta no núcleo gelado, e não em reações químicas posteriores na nuvem difusa de gás e poeira que envolve o cometa (chamada coma).

“Ao mapear H₂O e HDO na coma do cometa, conseguimos identificar se os gases vêm realmente do gelo do núcleo, o que nos dá mais confiança nas medições”, explicou Stefanie Milam, cientista da NASA e coautora do estudo.

Imagem obtida da Letônia em março de 2024 mostra o núcleo espiral do Cometa do Diabo. Crédito: Juris Seņņikovs

Os resultados obtidos pela equipe reforçam a visão de que os cometas foram peças-chave na formação de um ambiente propício à vida na Terra primitiva. Além de água, esses objetos também podem carregar compostos orgânicos, contribuindo para o surgimento de moléculas fundamentais.

Embora o mistério sobre a origem exata da água terrestre ainda não esteja totalmente resolvido, a análise do “Cometa do Diabo” traz uma das pistas mais sólidas já registradas. Para os cientistas, é um passo importante na busca por entender como nosso planeta se tornou habitável e, talvez, como mundos distantes também possam abrigar vida.

Esta post foi modificado pela última vez em 19 de agosto de 2025 21:25

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Publicado por
Flavia Correia