Por que sentimos arrepio quando unhas arranham uma lousa?(Imagem: Jardul/Shutterstock)
É bem provável que quase todo mundo já tenha passado pela experiência desconfortável de ouvir alguém arranhando uma lousa com as unhas. O som estridente, fino e agudo, causa uma sensação difícil de explicar, mas que se manifesta imediatamente no corpo humano: o famoso arrepio. Esse fenômeno acontece tão rápido que parece automático, como se o organismo estivesse tentando nos alertar de algo.
E esse incômodo não é apenas psicológico, mas também fisiológico. O arrepio é uma resposta do nosso corpo a estímulos externos, e no caso de certos sons, ele envolve mecanismos que ainda estão sendo estudados pela ciência.
Pesquisadores já descobriram que existem frequências sonoras que ativam áreas sensíveis do nosso ouvido e cérebro, provocando reações físicas de desconforto, repulsa e até mesmo dor.
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Na matéria abaixo, explicamos em detalhes o motivo pelo qual sentimos arrepio com sons como o de unhas arranhando uma lousa, além de contar o que é o arrepio e como ele acontece, além de outros detalhes interessantes a respeito desse fenômeno. Confira!
O arrepio é uma resposta fisiológica do nosso corpo que faz com que os pelos se ergam, acompanhados de uma pequena contração muscular na base dos folículos.
Esse processo é chamado de piloereção e está ligado ao sistema nervoso autônomo, o mesmo que regula funções involuntárias como respiração e batimentos cardíacos. Ele pode ser desencadeado por frio, medo, emoções intensas ou até estímulos sonoros desagradáveis.
Originalmente, o arrepio tinha uma função prática, aumentando a camada de ar presa entre os pelos e a pele para ajudar na regulação térmica. Em animais com pelos mais grossos, isso era essencial para manter o calor do corpo, e em situações de ameaça, os pelos eriçados faziam o animal parecer maior e mais intimidador. Já no caso do ser humano moderno, a função protetiva perdeu força, mas o reflexo ainda permanece ativo.
Quando o organismo detecta um estímulo considerado ameaçador ou desconfortável, o cérebro envia sinais elétricos através do sistema nervoso simpático. Esses sinais chegam aos músculos eretores dos pelos, que se contraem e fazem os pelos se levantarem, sendo uma reação rápida, involuntária e que muitas vezes acontece antes mesmo de termos consciência do que causou o incômodo.
Além disso, nem todo arrepio é causado pelo frio ou medo. No caso dos sons desagradáveis, o que acontece é uma ativação exagerada de regiões do cérebro que processam o som e a dor.
Sons como o de unhas arranhando uma lousa possuem frequências entre 2.000 e 4.000 hertz, justamente uma faixa em que o ouvido humano é extremamente sensível. O desconforto surge porque o cérebro interpreta esse estímulo como uma espécie de alerta.
O som de unhas arranhando uma lousa é agudo, irregular e cheio de variações rápidas de frequência, o que faz com que ele seja percebido como caótico e difícil de prever. O cérebro humano tende a rejeitar esse tipo de estímulo porque ele lembra sons associados a situações de alerta na natureza, como gritos de animais em perigo. É como se fosse um sinal de que algo não está bem, ativando respostas instintivas.
Alguns cientistas acreditam que o arrepio diante desses sons pode ter uma explicação evolutiva. Frequências parecidas às de unhas na lousa estão presentes em gritos de alerta de primatas e, por isso, quando nosso cérebro reconhece esse padrão, ele aciona automaticamente uma resposta de defesa. Isso ajudava nossos ancestrais a identificar rapidamente situações de perigo, mesmo sem enxergar a ameaça.
O arrepio em si não causa dor, mas é acompanhado de uma sensação de desconforto generalizada. Isso acontece porque o cérebro ativa áreas ligadas à emoção e ao estresse ao mesmo tempo. O corpo se prepara para reagir, como se precisasse se defender, e isso gera a estranha mistura de tensão muscular, repulsa e incômodo. No caso dos sons, o incômodo pode ser ainda maior porque não conseguimos “fugir” imediatamente dele.
Embora muita gente sinta desconforto com o som de unhas na lousa, a intensidade da reação varia de pessoa para pessoa. Isso pode estar ligado à sensibilidade auditiva individual, às experiências pessoais e até a fatores culturais. Pessoas com audição mais apurada ou com maior propensão à ansiedade tendem a reagir mais intensamente, enquanto outras podem simplesmente não achar tão perturbador.
É importante lembrar que existem outros tipos de arrepio, como os causados por músicas emocionantes ou momentos de euforia, por exemplo. Nesses casos, a sensação é prazerosa, pois ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina.
Já os sons desagradáveis seguem o caminho oposto: ativam regiões associadas ao medo e à dor, tendo como resultado uma reação física semelhante, mas com significado emocional totalmente diferente.
E não é só o arranhar de unhas em uma lousa que provoca esse arrepio. Outros sons agudos e estridentes, como o rangido de talheres no prato ou o barulho de giz no quadro, também ativam respostas semelhantes.
Até mesmo certos ruídos digitais, como alarmes e notificações muito altas, podem gerar incômodo, já que exploram essa faixa sensível de frequência, o que mostra que o fenômeno continua presente e adaptado ao mundo moderno.
Curiosamente, mesmo sem o som real, o cérebro pode recriar a memória sensorial a ponto de causar desconforto real. Ou seja, para algumas pessoas ver uma imagem ou imaginar o som já é estímulo o suficiente para se contorcerem de incômodo.
Esta post foi modificado pela última vez em 24 de setembro de 2025 18:32