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Especialista diz que investir em robôs humanoides é desperdício de dinheiro

O renomado roboticista Rodney Brooks, cofundador da iRobot e ex-pesquisador do MIT, lançou um alerta aos investidores que aplicam bilhões em startups de robôs humanoides: grande parte desse dinheiro pode estar sendo desperdiçada. Segundo Brooks, empresas como Tesla e Figure, que tentam ensinar robôs a realizar tarefas humanas através de vídeos, estão seguindo um caminho baseado em fantasias tecnológicas.

Em um novo ensaio, Brooks explica que as mãos humanas são extremamente complexas, com cerca de 17 mil receptores sensoriais especializados, algo que nenhum robô consegue replicar. Enquanto o aprendizado de máquina revolucionou reconhecimento de voz e processamento de imagens, esses avanços se apoiaram em décadas de tecnologia já existente para capturar dados precisos.

Brooks critica a insistência em investir em robôs humanoides. Entre os argumentos, está a impossibilidade de replicar as mãos humanas (Imagem: Guillaume / iStock)

“Não temos tradição para dados de toque”, ressalta o especialista, apontando uma limitação crítica para o desenvolvimento de robôs que imitam humanos.

Existem alguns experimentos empolgantes e promissores em andamento em laboratórios acadêmicos, mas eles ainda não chegaram perto de demonstrar qualquer destreza real. Pela minha terceira lei da robótica, estamos a mais de dez anos do primeiro uso lucrativo de robôs humanoides, mesmo com destreza mínima.

Rodney Brooks em ensaio publicado em seu site

Limites da física e segurança na robótica

Outro ponto destacado por Brooks é a segurança. Robôs humanoides de tamanho real consomem grandes quantidades de energia para se manterem em pé. Caso caiam, representam perigo considerável. “Robôs humanoides de tamanho humano, com duas pernas e capacidade de andar, não são atualmente seguros para estarem próximos de pessoas”, explicou Brooks. Segundo ele, um robô duas vezes maior que os modelos atuais carregaria oito vezes mais energia potencialmente nociva, tornando quedas ainda mais arriscadas.

O especialista prevê que, em 15 anos, robôs considerados “humanoides” provavelmente terão rodas, múltiplos braços e sensores especializados, abandonando a forma humana. Enquanto isso, os bilhões investidos hoje estariam financiando experimentos de treinamento caros, sem perspectiva de produção em larga escala.

Especialista acredita que a forma humanoide não vai durar em robôs (Imagem: SweetBunFactory / iStock)

Haverá muitos, muitos robôs com diferentes formas para diferentes trabalhos especializados que os humanos podem realizar. Mas todos ainda serão chamados de robôs humanoides. E muito dinheiro terá desaparecido, gasto na tentativa de extrair desempenho — qualquer desempenho — dos robôs humanoides atuais. Mas esses robôs já terão desaparecido e, em grande parte, sido convenientemente esquecidos.

Rodney Brooks

Histórico crítico de Brooks sobre IA

Brooks não é novo em críticas a expectativas exageradas de empreendedores e investidores. Em declarações anteriores, ele comentou sobre os limites da IA generativa, destacando que a tecnologia, em alguns casos, pode até aumentar a carga de trabalho. Um estudo do METR mostrou que desenvolvedores usando ferramentas de IA levaram 19% mais tempo para resolver tarefas, mesmo percebendo uma sensação de aumento de produtividade.

Além disso, Brooks sempre afirmou que a IA não representa ameaça existencial, diferentemente do que defendem figuras como Elon Musk. Ele também destacou que não é certo que gigantes da tecnologia dominariam a robótica, mesmo possuindo grandes volumes de dados, cenário que ainda se mantém em parte verdadeiro.

Rodney Brooks não acredita que a IA represente ameaça existencial (Imagem: Reprodução/rodneybrooks.com)

Investimentos bilionários em robótica

Entre os principais investimentos estão Apptronik e Figure. A Apptronik, apoiada pelo Google, já levantou quase US$ 450 milhões e trabalhou com a equipe de robótica da DeepMind. A Figure, por sua vez, recebeu aportes de Microsoft e OpenAI Startup Fund e chegou a colaborar com a OpenAI em 2024, mas a parceria terminou em março de 2025. A empresa anunciou recentemente mais de US$ 1 bilhão em capital comprometido e foi avaliada em US$ 39 bilhões, apesar das críticas de Brooks sobre a viabilidade dos projetos humanoides.

Esta post foi modificado pela última vez em 28 de setembro de 2025 16:41

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Publicado por
Ana Luiza Figueiredo