500 mil mortes por Covid-19: como o Brasil chegou a esse ponto?

Texto: Lucas Soares

Em 17 de março de 2020 o Brasil registrava o primeiro óbito pelo novo coronavírus, um mês após o primeiro caso da doença em solo nacional. Na época, o número de 500 mil mortes pela Covid-19 parecia praticamente impossível de ser atingido. Mas neste sábado (19/06/2021), o país chegou a marca de meio milhão de vidas perdidas pela doença.

Durante esse período muita coisa mudou, a gravidade da pandemia ficou mais evidente e depois de duas ondas no Brasil, mais de 3,8 milhões de mortos no mundo inteiro e quase um ano e meio após o primeiro caso, a vacinação começa a avançar em um ritmo mais constante, mostrando uma luz no fim do túnel para a pandemia.

Mas como chegamos no estágio atual?

Filas e aglomeração na reabertura do shopping Boa Vista no centro de Recife, em Pernambuco Filas e aglomeração na reabertura do shopping Boa Vista no centro de Recife, em Pernambuco
Crédito: Juliana F Rodrigues / Shutterstock.com

Os primeiros meses

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia global em janeiro de 2020 e passou a recomendar medidas de isolamento e o uso de máscara. Aqui no Brasil, no entanto, o governo federal foi contra as medidas de fechamento para conter o surto.

No dia 24 de março, pouco tempo após a primeira morte em território nacional – registrada no dia 17 daquele mês -, ocorreu o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. Em rede nacional, o governante afirmou que a Covid-19 era apenas uma gripezinha.

Em 8 de agosto, o Brasil atingiu a infeliz marca de 100 mil mortos, cinco meses após o primeiro óbito. Neste mesmo período, o país enfrentava sua primeira onda de Covid-19 e já víamos o estrago da doença e a necessidade de hospitais de campanha.

Apesar da recomendação das autoridades, em diversas ocasiões, pessoas próximas ao governo expuseram a ideia da imunidade de rebanho, de que todos precisavam pegar a Covid-19 para se tornar imune. A medida, no entanto, sempre foi rechaçada pelas autoridades, devido ao provável surgimento de novas variantes. A preocupação acabou se confirmando.

Apesar disso, estados e municípios adotaram medidas de isolamento e o fechamento de comércios. Diversas empresas também passaram a adotar regime de home office. Durante vários meses em 2020, a maior parte das cidades brasileiras ficaram com os estabelecimentos de portas fechadas.

Comércio fechado na Rua 25 de Março, em São Paulo. Comércio fechado na Rua 25 de Março, em São Paulo.
Crédito: Nelson Antoine / Shutterstock.com

Fim da primeira onda de mortes pela Covid-19

O fim da primeira onda da Covid-19 ocorreu em setembro de 2020 e aliviou as medidas de isolamento no Brasil, com as mortes pela doença despencando. Durante os meses de outubro e dezembro, o país viu a reabertura do comércio e a volta da maior parte das atividades, ainda que com regras de controle.

Foi nesse período também que os testes das vacinas avançaram no mundo inteiro e as primeiras previsões de vacinação começaram.

No entanto, no dia 7 de janeiro de 2021, dez dias antes do começo da vacinação no Brasil, o país chegou a marca de 200 mil mortes por Covid-19. Entre o começo da pandemia e os primeiros 100 mil óbitos se passaram cinco meses, o mesmo período entre as 100 mil e 200 mil vidas perdidas.

Número de pacientes com Covid-19 causou superlotação em hospitais. Número de pacientes com Covid-19 causou superlotação em hospitais.
Crédito: Photocarioca / Shutterstock.com

A chegada da vacina contra a Covid-19 no Brasil

No dia 17 de janeiro, a enfermeira Monica Calazans foi a primeira pessoa a ser vacinada fora dos testes no Brasil. Com a CoronaVac, do Instituto Butantan, o país começou, de forma lenta, a vacinação contra a Covid-19. Mas, nesse ponto, o quadro já se agravava novamente.

Enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no Brasil. Enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no Brasil.
Crédito: Divulgação / Governo de SP

Nova onda de mortes pela Covid-19

Em dois meses e meio, metade do período anterior, chegamos aos 300 mil mortos por Covid-19, em 24 de março. Depois disso, para alcançar os 400 mil óbitos o tempo foi novamente cortado pela metade, chegando apenas 36 dias depois, em 29 de abril. Foi nesse período que atingimos o recorde de mortes em 24 horas: 4.249 óbitos foram registrados em 8 de abril.

Nessa época, o Olhar Digital conversou com Marcelo Simões, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, que fez um panorama da pandemia no Brasil.

"A pandemia atacou o mundo inteiro, mas alguns países tiveram uma maneira de conduzir diferente do Brasil. O que ocorreu por aqui realmente foi uma tragédia. A gente não teve uma direção do Ministério do Saúde. Nesse cenário, pela forma como foram feitas as coisas, os 400 mil mortos se justificam", explicou.

Agora, o Brasil vê uma nova redução nas mortes por Covid-19. O país chega a marca de 500 mil um mês e meio após o recorde anterior. Dessa vez, a diferença é um avanço maior da vacinação, com a chegada de imunizantes de mais laboratórios. Em São Paulo, o objetivo é ter 100% da população adulta vacinada até outubro. Outros estados trabalham com metas semelhantes.

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  • No geral, 28% dos brasileiros com mais de 18 anos tomaram pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19. São cerca de 60.381.020 de doses aplicadas. A segunda dose foi aplicada em 24.085.577 de pessoas, o que corresponde a 11,37% da população. No total, segundo o Ministério da Saúde, mais de 84 milhões de vacinas foram usadas.

    O país é hoje o 68º no ranking global de vacinas aplicadas por cada 100 habitantes e o 4º no de doses totais. Já em número de mortes, o Brasil aparece em 2º lugar, atrás apenas dos Estados Unidos.

    Nos EUA e em partes da Europa, as flexibilizações já começaram a acontecer e a vida tem voltado ao normal. “O mais importante é que o Brasil poderia estar na mesma situação, no caminho do fim da pandemia, se tivesse contratado no tempo certo as vacinas contra Covid-19 que foram oferecidas, se o governo federal tivesse feito uma melhor gestão do Brasil com a China, com a Índia e com a Rússia, para garantir o IFA (princípio ativo usado para fabricação das vacinas)”, completou Simões.

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Lucas Soares

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