Em cenário em que o Brasil tem altas chances de ser palco de nova doença emergente, um grupo de pesquisas vai investigar morcegos em diferentes locais da Mata Atlântica para estudar vírus inéditos e já existentes. A intenção é fazer vigilância dos animais e monitorar patógenos que podem infectar humanos.

Morcegos vs. novos vírus

Segundo o biólogo Luiz Gustavo Góes, coordenador do grupo, diversos estudos já indicam que o Brasil é uma das regiões com maior potencial de surgimento de uma doença emergente.

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Não apenas por nossa densidade populacional, mas pela diversidade de animais e pelas pressões antropogênicas, como desmatamento e queimadas. Tudo isso tem influência no surgimento de doenças emergentes.

Luiz Gustavo Góes

Nesse cenário, os morcegos são importantes reservatórios de vírus. Em especial na Mata Atlântica, que se estende por diversos estados brasileiros, são 117 espécies do animal.

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O grupo de pesquisa em formação no Institut Pasteur de São Paulo (IPSP) vai ampliar a compreensão dos vírus abrigados nos morcegos, o potencial de infectar humanos e a emergência dos casos.

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morcegos covid-19
Imagem: BEN HAYES (WILDLIFE CONSERVATION SOCIETY)

Como será a análise dos animais

  • De acordo com o Jornal da USP, o grupo planeja coletar morcegos de diferentes áreas de São Paulo, desde locais mais afastados, como fazendas, até próximo de centros urbanos;
  • Góes explicou que, para realizar o diagnóstico da raiva em morcegos, é necessário matar o animal para extrair o cérebro. A intenção do grupo é fazer parceria com os centros que fazem esse procedimento para estudar outros órgãos, como intestino, pulmão, rins, baço e fígado;
  • Ele explicou a importância dos diversos órgãos: cada vírus se instala em um tecido e órgão diferentes. Como o grupo procura por novos vírus em potencial, é importante analisar diferentes partes do organismo;
  • Já os morcegos capturados pelo grupo não serão sacrificados. Serão realizadas coletas orais e retais.

DNA e RNA são compostos de cinco nucleobases: adenina, guanina, citosina, timina e uracila
Imagem: enzozo/Shutterstock

E depois?

O pesquisador destaca que a pesquisa quer não apenas identificar novos vírus, mas, também, entender mais sobre eles, como onde estão concentrados, como se replicam e evoluem.

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Depois das coletas, o grupo vai isolar o DNA e o RNA e realizar análises do material, procurando semelhanças do que foi encontrado com o que já foi descrito anteriormente em literatura. Com isso, é possível ter ideia se o material já possui sequências virais estabelecidas ou uma relação genética com algum outro vírus reconhecido.

No caso de encontrarem algo, farão sequenciamento completo do genoma viral para analisar seu risco de infectar outros animais, incluindo os humanos.