Você já deve ter lido inúmeros textos ou assistido a várias reportagens sobre o baiacu, peixe muito venenoso consumido regularmente no Japão – considerado iguaria nas terras nipônicas.

O fugu, como é conhecido por lá, pode ser encontrado em inúmeros estabelecimentos, desde que os chefes de cozinha tenham autorização para prepará-lo. Sim, existe o risco real de envenenamento, paralisia e até morte. Mas, não, os japoneses não se arriscam tanto assim. Pelo menos não hoje em dia. O controle de qualidade é gigantesco e os casos de intoxicação são raros.

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Apenas chefes experientes, licenciados e certificados são capazes de remover as partes tóxicas com precisão, reduzindo os riscos para os consumidores. O curso dura aproximadamente dois anos e a prova é extremamente difícil, a ponto de mais da metade dos alunos reprovarem.

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Os aprovados, porém, tratam a culinária com fugu como se fosse uma arte. Alguns têm tanto controle do que estão fazendo que se permitem deixar resquícios da substância perigosa, mas apenas para causar sensação de formigamento na boca dos clientes.

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baiacu
Imagem: Reprodução/Gastroville

Devido ao alto risco, alguns países optaram por proibir completamente a comercialização e o consumo do baiacu. No Japão, porém, ele continua em alta, até com redes especializadas nisso. Diante disso, fica a pergunta: por que os japoneses insistem nessa prática perigosa?

Baiacu no Japão: uma questão cultural

  • A reposta para essa pergunta não é definitiva;
  • Não existe pesquisa sobre o assunto nem perguntaram a cada japonês que consumiu um fugu sobre o motivo de ele ter feito isso;
  • Na verdade, é muito provável que esse questionamento tenha sido feito por algum ocidental;
  • E, apesar de ter raízes nipônicas, me considero totalmente ocidental também;
  • Somos fruto do meio e consumimos uma cultura completamente diferente;
  • Assisti “Xógum”, do Disney+, nos últimos dias e me deparei com reflexões sobre a vida e a morte.

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xógum
“Xógum, a Gloriosa Saga do Japão” é uma baita série (Imagem: Katie Yu/FX)
  • No Japão feudal, as pessoas encaravam a vida e a morte de forma diferente que a nossa;
  • O que valia mais, aliás, era a honra;
  • E isso explica um pouco o seppuku, suicídio cometido por samurais para que mantivessem essa honra;
  • Na cultura oriental, além dessa concepção diferente da morte, outro conceito muito valorizado é o da tradição;
  • Talvez isso ajude a explicar um pouco o consumo de fugu até hoje;
  • Até por que nem gostoso é, pela maioria dos relatos que li.

Veneno do fugu

O baiacu é conhecido pela habilidade de inflar seu pequeno corpo quando se sente ameaçado. O real perigo dele, no entanto, está em suas partes internas. Ele é capaz de metabolizar no fígado e em outras regiões (como ovários e intestino) uma neurotoxina chamada tetrodotoxina.

Essa neurotoxina é uma das substâncias mais potentes encontradas na natureza, sendo capaz de causar paralisia muscular e levar à morte em poucas horas. Dizem até que é mais poderosa que o arsênico ou o cianeto.

Baiacu (Imagem: Shutterstock)

Os sintomas de envenenamento por baiacu começam, geralmente, a se manifestar dentro de algumas horas após a ingestão e podem incluir: formigamento e dormência, fraqueza muscular, náuseas e vômitos, dificuldades respiratórias e até mesmo paralisia e morte.

Você pode ler mais sobre esse peixe fascinante neste outro texto do Olhar Digital.

E se vocês se interessarem por conhecer mais da milenar cultura japonesa, assistam a “Xógum”. Historiadores afirmam que, apesar de ficcional, a história é muito fiel à realidade. Eu recomendo. “Xógum”. Não o fugu.