A pandemia da Covid-19 acabou, mas o vírus da doença vai continuar entre nós por um longo tempo. Devido à sua capacidade de mutação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as vacinas sejam atualizadas todos os anos. No entanto, a comunidade científica ainda se divide quando o assunto é se a imunização recorrente pode realmente oferecer proteção contínua.

Uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade de Washington fez descobertas que podem ajudar a responder à pergunta. As evidências da pesquisa indicam que um esquema vacinal contra a Covid-19 pode, sim, proporcionar proteção prolongada, mas de um modo diferente.

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Se vacinar anualmente contra a Covid-19 faz a diferença?

  • A imunização recorrente contra a gripe, por exemplo, pode reduzir a capacidade de futuras respostas imunológicas do nosso organismo. No entanto, esse não é o caso da vacina contra a Covid-19.
  • O estudo identificou que as pessoas vacinadas com as primeiras doses e as de reforço produzem anticorpos neutralizantes para uma variedade de SARS-CoV.
  • Ou seja, a imunidade contra o SARS-CoV-2 pode promover o desenvolvimento de novos anticorpos amplamente inibitórios.
  • Isso é possível através do efeito que os cientistas chamam de “imprinting”.
  • Em outros tipos de vacinação, ele é negativo, mas neste caso, permite que o corpo crie um estoque de anticorpos capazes de proteger contra futuras infecções, inclusive de outros tipos de coronavírus.

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A memória imunológica contra Covid-19

O “imprinting”, ou “impressão” em português, é mais ou menos o que o nome sugere. Na primeira vacinação, o nosso corpo cria uma “memória” no sistema imunológico. É como quando você deixa aquele lembrete anotado em um post-it para não esquecer de fazer a tarefa. Quando o organismo recebe outra vacina semelhante, essa memória é ativada, estimulando a resposta do corpo contra uma determinada doença.

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O efeito pode ser positivo, como no desenvolvimento de anticorpos que combatem diferentes cepas de vírus, ou negativo, como na vacina contra a gripe, em que a memória limita a produção de anticorpos contra novas cepas. No caso do imunizante contra a Covid-19, ele desencadeou uma reação cruzada de proteção a vários tipos de SARS-CoV.

A força do “imprinting” na proteção contra a Covid-19

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(Imagem: Nhemz / Shutterstock.com)

Para entender os impactos do “imprinting” associado à vacinação periódica contra a Covid-19, os pesquisadores investigaram os anticorpos de ratos de laboratório e pessoas com o esquema vacinal em dia.

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Poucos desenvolveram anticorpos específicos apenas para a variante Ômicron ou para a original. Porém, a maioria produziu anticorpos que funcionam contra ambas as variantes. Além disso, os anticorpos mostraram-se eficazes contra diferentes coronavírus, incluindo o SARS-CoV-1 e o coronavírus de pangolins. A ampla gama de ação foi observada especialmente em pessoas que receberam vacinas tanto para a variante original quanto para a Ômicron.

Analisando todas as evidências, o estudo responde à dúvida: a vacinação anual não só pode proteger contra a Covid-19, como também contra variantes virais causadoras da doença e outros coronavírus, inclusive os que ainda nem surgiram.

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Ainda é preciso aprofundar os estudos para ter certeza. De qualquer modo, continuar se vacinando é a melhor forma de proteção. Detalhes do estudo foram divulgados na revista Nature.