Há pouco menos de uma década, compromissos globais assumiram a responsabilidade de diminuir as emissões de gases estufa. Com a estimativa de que energia solar e eólica não dariam conta de toda a demanda, a energia nuclear cresceu como uma alternativa, mas ainda enfrenta desafios, principalmente financeiros. Recentemente, um investidor notável entrou na jogada: Bill Gates, fundador da Microsoft.

O bilionário e filantropo, listado como a sétima pessoa mais rica do mundo, apostou na criação de uma startup com um projeto ambicioso: a construção de um reator nuclear para abastecer cidades com energia limpa.

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A cidade de Kemmerer, no estado de Wyoaming, no sudoeste dos Estados Unidos, está enfrentando um problema. A região é abastecida por energia gerada por carvão mineral, uma fonte poluente que, na próxima década, terá que transicionar para uma geração sustentável.

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A aposta era energia nuclear, mas barreiras financeiras aumentavam a desconfiança em um projeto que ficasse pronto a tempo. É aí que entra Bill Gates: o bilionário é dono da startup TerraPower e se comprometeu a ajudar no financiamento de uma reator nuclear por lá, que iniciou sua construção nesta terça-feira (11).

A intenção é que o projeto fique pronto antes de 2030, mas sequer foi aprovado pela Comissão Reguladora Nuclear do país. O que a empresa tem, no entanto, é o nome e a influência de Gates por trás.

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Reator nuclear de startup de Bill Gates será construído no estado do Wyoming (Imagem: TerraPower/Reprodução)

Bill Gates está por trás do projeto

O fundador da Microsoft investiu mais de US$ 1 bilhão no projeto do reator nuclear, através da TerraPower.

O interesse do executivo na energia nuclear não é de hoje. No livro “Como evitar um desastre climático”, de 2021, Gates já havia escrito que a melhor forma de resolver as alterações climáticas seria através de inovações de energia limpa.

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Nos últimos anos, a energia nuclear viu um ressurgimento no interesse, com startups planejando projetos de reatores e o governo de Joe Biden oferecendo créditos fiscais para a construção das instalações.

O problema era financeiro. Os reatores tradicionais são grandes, complexos e enfrentam uma regulamentação rígida, que dificulta as iniciativas. Para se ter uma ideia, os dois projetos anteriores, os reatores Vogtle 3 e 4, na Geórgia, foram construídos há 30 anos, custaram US$ 35 bilhões e atrasaram sete anos para ficar prontos.

A aposta de Gates é que uma tecnologia diferente funcionará.

Reator nuclear de Bill Gates será diferente dos tradicionais

Como explicou o New York Times, reatores nucleares usam água bombeada no núcleo e aquecida por fissão atômica, criando o vapor usado para gerar eletricidade. A água, no entanto, é altamente pressurizada e precisa de grandes instalações e sistemas de contenção de acidentes.

O projeto de Bill Gates é diferente. O reator da TerraPower usa sódio líquido ao invés de água e permite operação em pressões mais baixas. Em teoria, isso reduz a infraestrutura de proteção e as dimensões do projeto, o que, consequentemente, custa menos.

O CEO da startup, Chris Levesque, diz que esses reatores menores devem produzir eletricidade pela metade do custo de uma usina nuclear tradicional, sem contar no benefício de segurança.

Outra característica do projeto é a integração com parques eólicos e solares, que permite armazenamento de energia e revenda.

Reator nuclear da TerraPower aposta em dimensões menores, mais segurança e custo benefício (Imagem: TerraPower/Reprodução)

Custos ainda serão altos

  • A tecnologia representa uma economia nos custos de energia nuclear, algo que pode incentivar a modalidade nos Estados Unidos, mas ainda tem cifras altas;
  • A TerraPower estimou que o reator nuclear em Kemmerer custará US$ 4 bilhões. Metade desse investimento será do Departamento de Energia, mas o valor ainda fica muito acima do que outras fontes renováveis precisam para funcionar;
  • Novamente, entra Bill Gates: enquanto outras empresas desistem de projetos de energia nuclear pelos altos investimentos, o bilionário se comprometeu a absorver os riscos financeiros de forma que outras companhias, governo e órgãos reguladores não conseguem.
  • A esperança é que, depois que o primeiro modelo saia do papel no Wyoming, a TerraPower use os aprendizados para reduzir os custos e continuar com os projetos em outros locais;
  • Gates, inclusive, publicou em seu blog que esteve no local para a cerimônia da “mais avançada instalação nuclear no mundo”, destacando o potencial de gerar empregos, tornar a fonte energética americana independente e combater as mudanças climáticas.