Por Marcelo Gripa

A Claro anunciou hoje a realização de testes com a tecnologia 4,5G de redes móveis em Anápolis, cidade de Goiás, a partir de novembro. De acordo com a operadora, a novidade deve permitir velocidades de pico na casa dos 200Mbps. Conversamos com André Sarcinelli, diretor executivo de engenharia de redes do Grupo América Móvil Brasil, para entender como funciona a tecnologia.

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Segundo Sarcinelli, essa mudança é semelhante à atualização do 3G que permitiu a inclusão das redes HSDPA (High Speed Downlink Packet Access) e H+. É, portanto, uma etapa intermediária da evolução entre o 4G e o 5G.

Como funciona?

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A maioria das comunicações 4G no Brasil se dá por meio de ondas eletromagnéticas de 2600MHz de frequência. Essa não é, no entanto, a única frequência possível na qual essas comunicações podem ocorrer. Outras bandas, como a 2000 MHz e a 1800MHz, também podem ser utilizadas.

O 4,5G se diferencia do 4G porque permite que os terminais de transmissão utilizem todas essas bandas simultaneamente. Seria, de certa forma, como ampliar uma calçada, permitindo que mais pedestres trafegassem por ela mais rapidamente e com mais espaço entre eles. Essa combinação de blocos de frequência se chama Carrier Aggregation.

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O vídeo abaixo, da Qualcomm, explica como o processo funciona usando escorregadores e uma piscina de bolinhas:

 

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Vantagens

O uso simultâneo das diferentes bandas traz uma série de vantagens. Primeiramente, ele permite que os usuários da rede disfrutem de velocidades maiores. Em testes realizados, Sarcinelli conta que velocidades de pico de cerca de 210Mbps foram atingidas. A velocidade média, por sua vez, deve ficar entre 30Mbps e 35Mbps – de 30% a 40% acima dos 22Mbps a 25Mbps geralmente atingidos pelo 4G.

Além disso, há também uma ampliação da capacidade das redes: mais pessoas podem acessar ao mesmo tempo, com taxas melhores de transferência de dados. Isso acontece porque mais frequências são utilizadas ao mesmo tempo. Por outro lado, também é consequência da maior velocidade: “Se o download de um usuário acaba mais rápido, libera a banda e outro usuário pode entrar”, diz o engenheiro.

É necessário, no entanto, que os terminais de transmissão possuam tecnologia para atuar simultaneamente em todos esses blocos de frequência – e que esses blocos não sejam ocupados por outros serviços. Esses foram dois motivos que determinaram a escolha da cidade de Anápolis para os testes.

Outra vantagem vem da utilização da frequência de 700MHz: segundo o executivo, as frequências mais baixas são melhores em termos de cobertura. Locais como condomínios, hospitais, e edifícios em geral, que oferecem muitos impedimentos físicos à transmissão do sinal, são melhor cobertos por elas. Com isso, a rede deve ter menos “pontos cegos” quando esse bloco começar a ser usado.

Desafios

Essas vantagens, contudo, exigirão algumas adaptações. Os terminais de transmissão precisam conseguir trabalhar com todos os blocos de frequência agregados para poder oferecer essa melhorias aos aparelhos conectados a eles. E, para isso, é necessário que eles tenham as antenas adequadas. “Não se trata simplesmente de uma atualização de software”, comenta Sarcinelli.

O mesmo vale para os smartphones. Por enquanto, segundo o engenheiro, os aparelhos capacitados a operar com a rede 4G conseguirão aproveitar os novos blocos de frequência agregados. No futuro, quando mais blocos de frequência forem agregados, pode ser que os dispositivos não estejam habilitados para operar nelas.