Ontem, 2 de novembro de 2015, foi o aniversário de 15 anos da Estação Espacial Internacional (ou ISS, por conta da sigla em inglês de International Space Station). Foi o fim de um processo de quase dois anos de construção: seus primeiros componentes foram lançados no espaço em 20 de novembro de 1998, e apenas em 2 de novembro de 2000 a estação recebeu sua primeira tripulação.

Atualmente, ela representa a mais longa ocupação humana no espaço, com a estação russa Mir em um distante segundo lugar. Ela também é, de longe, o objeto mais caro já construído pela humanidade, com um custo acumulado estimado em mais de US$ 160 bilhões de dólares.

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Pode parecer loucura investir tanto para manter um objeto tripulado em órbita por quinze anos. No entanto, a ISS é um importante pólo de pesquisa da NASA sobre astronomia, meteorologia, física e, naturalmente, sobre os efeitos de um ambiente de microgravidade em seres humanos. Leia abaixo mais sobre a Estação:

Historia

A origem da ISS começa em 1984, quando Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos, orientou a NASA a construir uma estação espacial nos próximos 10 anos. Apesar da orientação do presidente, o projeto atrasou em parte por causa de sua ambição: o tamanho do investimento necessário fez com que o plano se internacionalizasse.

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O fim da guerra fria no começo da década de 90 foi determinante também, pois permitiu que o conhecimento e o investimento da Russia em exploração espacial fossem acrescentados. Foi a Russia que lançou no espaço as primeiras peças da estação, em um foguete chamado Zarya (“nascer do sol”).

Duas semanas depois, a NASA lançou outro módulo, chamado Unity, que foi conectado aos demais componentes por astronautas. NEsse momento, a estação russa Mir ainda era tripulada, e sua tripulação foi sendo retirada ao longo dos dois próximos anos, enquanto a ISS era montada.

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A primeira tripulação (adequadamente chamada de “Expedition 1”) chegou à estação quinze anos atrás, em 2 de novembro de 2000, à bordo do foguete russo Soyuz TM-31. Nela vieram os russos  Yuri Gidzenko e Sergei Krikalev, que já haviam passado um bom tempo na Mir, e o americano Bill Shepherd, cujas viagens anteriores ao espaço haviam durado “apenas” 3 semanas no máximo. A viagem até a ISS durou dois dias. O vídeo abaixo mostra o lançamento do Soyuz TM-31:

Curiosamente, houve um desentendimento entre a tripulação quanto ao “apelido” a ser dado à ISS. Compreensivelmente, a tripulação não queria precisar falar “International Space Station” toda vez que fosse se referir à estação. Por esse motivo, o controle da missão autorizou que ela fosse chamada de “alpha” durante as comunicações. Os russos, contudo, discordaram: para eles, a Mir havia sido a primeira estação espacial, e por isso a ISS deveria ser chamada, no máximo, de “beta”.

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O principal laboratório de pesquisas da estação só chegaria em fevereiro do ano que vem. Ele se chama “Destiny”, e até hoje continua a ser o principal laboratório da estação. Quando ele chegou à estação em 2001, ele era como na foto abaixo:


Um laboratório europeu (chamado Columbus) se uniu à estação em fevereiro de 2008, e em março do mesmo ano ela recebeu também um laboratório japonês (chamado Kibo). Quando a estação comemorou seu décimo aniversário em novembro de 2010, mais de 200 pessoas já a haviam visitado. Atualmente, ela já recebeu 220 pessoas de 17 países, incluindo o brasileiro Marcos Pontes, que visitou em 2006.

Dimensões

Normalmente, o espaço habitável de imóveis terrestres (como casas e apartamentos) é medido em metros quadrados. O da ISS, contudo, é medido em metros cúbicos, já que, graças à microgravidade, o espaço vertical também é habitável.

Ao todo, a ISS possui um espaço habitável de 388 metros cúbicos, segundo a NASA. Para dar uma ideia melhor de tamanho, a agência norteamericana informa que ela tem aproximaamente o tamanho de uma casa com cinco dormitórios. Além dos quartos, ela também possui dois banheiros e uma academia para os astronautas se exercitarem.

Vista de fora, a estação espacial internacional parece ter duas “asas”. Elas são compostas por oito painéis solares que possuem uma área total de quase um acre (cerca de 4040 metros quadrados) e geram de 75 a 90 kilowatts de energia, que alimenta toda a estação.

A estação pesa aproximadamente 419 toneladas. A “envergadura” de seus paineis solares, medidos de ponta a ponta, é de cerca de 73 metros: maior que a de um Boeing 777. Seus sistemas são controlados por 52 computadores, que gerenciam mais de 1,8 milhões de linhas de código para controle do vôo da estação.

Vida no espaço

Por incrível que pareça, a vida no espaço não é nada fácil. Os astronautas que moram na ISS costumam ir até lá para trabalhar e pesquisar, e esse trabalho, combinado com as peculiaridades do ambiente de microgravidade, fazem com que eles precisem passar por uma rotina bastante controlada.

A equipe acorda todo dia às 6h da manhã, inspeciona a estação, come o café da manhã e se reúne com o controle da missão (o grupo na Terra responsável pela coordenação das atividades na estação) por volta das 8h. Eles então começam a trabalhar e, ainda de manhã, passam pelo primeiro período de exercício físico compulsório do dia. O intervalo de almoço é das 13h05 às 14h05.

O período da tarde é composto por mais atividades de trabalho e exercício físico até as 19h30, quando a equipe inicia as atividades de pré-sono, que incluem jantar e reunir-se com os outros astronautas. O horário de dormir é estabelecido para todos às 21h30. Os astronautas trabalham de segunda a sexta e apenas 5 horas no sábado, com os domingos livres. Veja, abaixo, cenas da vida dos astronautas:

Apesar de os períodos do dia serem chamados de manhã, tarde e noite, a tripulação da ISS fica sob iluminação constante do Sol. A tripulação, todo dia, pode ver dezesseis vezes o sol se pondo e nascendo, por conta do período de órbita da estação. Por isso, na hora de dormir, as janelas são cobertas para dar a impressão de “noite” à qual o corpo humano é acostumado.

Quase toda comida da tripulação fica selada em sacos plásticos, a vácuo. Ela costuma ser mais condimentada que o normal, para contrabalancear os efeitos da microgravidade na sensação de sabor dos astronautas.

Quando novos visitantes chegam à estação, eles costumam trazer frutas e verduras frescas, que são muito apreciadas pela equipe. No entanto, é necessário um cuidado exagerado para evitar migalhas de comida, já que elas ficam flutuando pela estação, são difíceis de limpar e podem entupir os filtros de ar da ISS.

As privadas da estação funcionam à base de sucção. Antes de utilizá-las, os astronautas precisam se prender a elas com cintas de segurança, e um sistema de ventiladores faz com que os dejetos sólidos sejam rápidamente eliminados, evitando o risco de que eles fiquem flutuando pela estação. O vídeo abaixo mostra os banheiros da estação:

Os dejetos líquidos, sua vez, são eliminados com o auxílio de uma mangueira que pode ser usada tanto por homens quanto por mulheres. E, por incrível que pareça, o xixi dos astronautas não é eliminado: ele é tratado e transformado novamente em água potável para os astronautas.

A NASA produciu uma série de vídeos que mostram como é a vida dos astronautas na ISS. Eles podem ser acessados por meio desse link. Além disso, a agência também oferece uma série de streams de ídeo direto da estação, tais como um que mostra, constantemente, a vista da Terra a partir da ISS.

Ciência

O principal objetivo da ISS, contudo, é servir como uma espécie de laboratório espacial. Nela, cientistas podem testar os efeitos do ambiente espacial de microgravidade em diversos fatores, incluindo, é claro, os próprios astronautas.

No entanto, a manutenção de uma equipe no espaço também permite às agências espaciais se planejarem para futuras viagens tripuladas a planetas distantes, como Marte. A ISS acaba servindo como espaço de teste para tecnologias que podem, no futuro, ser aplicadas a naves espaciais voltadas para viagens de longa duração.

Um exemplo disso foi a “alface espacial”, cultivada pelos astronautas da ISS ao longo de 33 dias desse ano na estufa experimental da estação. O experimento com o cultivo de legumes no espaço tinha como objetivo avaliar a viabilidade de se equipar futuras espaçonaves com estufas semelhantes, capazes de fornecer alimentos à tripulação ao longo de viagens de meses de duração. Abaixo, é possível vê-los constatando que o experimento foi um sucesso:

A questão da alimentação de astronautas é bastante sensível, já que, como se pode imaginar, é bastante custoso ficar enviando comida para o espaço. Por conta disso, a NASA chegou a investir até mesmo em projetos de pesquisa que visam transformar fezes humanas em alimento.

O estudo dos corpos dos astronautas após muito tempo na estação também é bastante valioso. Segundo dados já adquiridos pela experiência com os tripulantes da ISS, a perda de densidade óssea ao longo dos meses na microgravidade é tamanha que pode fazer com que os astronautas sofram fraturas na hora de pousar em um planeta após uma viagem de muitos meses.

Outro campo de pesquisa que interessa à NASA são as proteínas que podem ser criadas no espaço. Na Terra, por conta da gravidade, as proteínas costumam ter estruturas bidimensionais. No espaço, porém, é possível criar cristais proteicos tridimensionais, o que poderia levar à elaboração de novos materiais. Mecãnica dos fluidos é outro campo de pesquisa importante, já que a microgravidade permite que basicamente quaisquer fluidos sejam misturados na ISS

Futuro

Aos 15 anos de idade, a ISS ainda parece ter uma vida longa pela frente. Boa parte de sua estrutura já está com fundos garantidos até o ano de 2024. Novos módulos a serem instalados, contudo, não são muito prováveis, já que, desde 2011, a estação espacial já é considerada “completa”.

A agência espacial russa Roscosmos também já anunciou que se materia parte do projeto ao menos até 2024. No entanto, a Roscosmos e a NASA já chegaram a conversar sobre um substituto para a atual ISS. O anúncio foi feito por Igor Komarov, presidente da agência russa, mas a NASA nunca chegou a confirmar a informação. De qualquer maneira, o mais provável é que a estação continue em órbita, a cerca de 340 quilômetros de altura, por mais alguns anos.