Profissionais de empresas de televisão e streaming se uniram hoje na Campus Party para debater as novas formas de entregar filmes, séries e outros conteúdos de vídeo. O essencial da discussão foi que, embora plataformas de streaming como o Netflix ameacem o modelo tradicional das empresas de televisão, elas ainda terão uma posição importante no mercado brasileiro de vídeo no futuro.

Novo modelo

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Luiz Bannitz, diretor de negócios da Looke (o “Netflix brasileiro”), considera que o acesso a tecnologia foi determinante para a mudança de formas de consumo de vídeos. Hoje em dia, como é muito mais barato filmar e editar vídeos do que antigamente. Além disso, surgiram novas formas de se ter acesso a essas produções audiovisuais. Isso gerou uma “desconcentração e democratização” do mercado audiovisual que ele considera bastante positivas. “Hoje tudo pode ser um sucesso”, considera.

O principal desafio, segundo ele, é chegar a um modelo de negócios que permita financiar o trabalho desde os produtores até os desenvolvedores das plataformas de entrega de vídeos – algo que ainda deve levar alguns anos, segundo Bannitz. Os serviços de TV e streaming, segundo ele, são complementares e podem coexistir.

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Desafio da desigualdade

Para Carlos Queiroz, gerente de conteúdos originais da Fox, porém, o modelo de negócios não é tão diferente: alguém continua pagando para ter acesso a um conteúdo especial. E embora o Brasil tenha mercado para custear a produção desse conteúdo especial, existe um obstáculo ainda para divulgá-lo, o que gera um novo desafio.

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A Fox possui o aplicativo Fox Play para streaming de seus programas e séries, e percebe por meio dele que as medidas tradicionais (diárias) de audiência não tem mais tanta relevância: um mesmo episódio de uma série pode ter uma audiência muito diferente no dia de seu lançamento, uma semana depois e um mês depois, por exemplo.

A desigualdade do Brasil é outro obstáculo às novas plataformas. “No Brasil, os Flintstones moram a 50 quilômetros dos Jetsons, opina Queiroz, citando como exemplo a dificuldade de se desligar o sinal de TV analógica no país. Isso gera nas empresas a obrigação de atender a todos esses públicos diferentes.

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A disponibilização de todos os episódios de uma temporada de série ao mesmo tempo, segundo Queiroz, também muda a forma como as séries são produzidas. “Antes o primeiro episódio tinha que ser de arrepiar os cabelos pro cara lembrar até a semana que vem; hoje em dia já não precisa”, considera. “O que chamamos de ‘televisão’ vai virar mais uma linguagem que o aparelho que a gente tem em casa”, diz.

Indo até o público

Igor Macaubas, gerente de produtos da Globo.com, concorda que aquilo que se entende por televisão está mudando. A presença cada vez maior de notebooks e smartphones faz com que “a gente viva uma realidade multi-screen, e a televisão seja só mais uma tela”.

Segundo ele, o Brasil é o terceiro maior mercado de vídeo no mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos, o que mostra que o país tem enorme potencial para produções audiovisual. Além disso, a distribuição de banda larga no país, embora ainda seja desigual, está melhorando, o que gera o promessa de que o mercado cresça ainda mais.

Cassiano Fróes, gerente de tecnologias de novas mídias da Globosat, ainda acrescenta que o Brasil é um dos países do mundo onde as pessoas passam mais tempo conectadas à rede, atras apenas da Turquia. É necessário, portanto, que as empresas de televisão saibam aproveitar essa disponibilidade dos espectadores para chegar até eles.

Com essa finalidade, a Globosat deixa disonível não apenas conteúdos sob demanda em seus canais (como jogos de futebol e episódios de novela), como também permite que espectadores assistam aos canais pela internet. Segundo ele, a GLobosat recebe mais de 5,6 milhões de visitantes por mês, que assistem a 5,4 milhões de vídeos por mês.